A Revista Íntegra, após cinco anos de publicações, chega ao fim.
Convidamos você a conferir esta última edição. Saiba mais...

domingo, 7 de dezembro de 2008

A Revista Integra deseja a todos um Feliz Natal e um Ano Novo com muito amor, paz e alegria!
Nesta última edição de 2008 gostaríamos de agradecer a colaboração preciosa de todos vocês que escrevem para a Integra e com suas idéias e experiências tornam a revista ainda mais interessante e rica. Esperamos contar com vocês em 2009!

Feliz Natal e Próspero Ano Novo!!
Fröhliche Weihnachten und ein Glückliches Neues Jahr!!
Buon Natale e Buon Anno!!
Merry Christmas and Happy New Year!!

Proposta de fim de ano

Fim de ano chegando, socorro, vai começar a temporada da agenda cheia e do estresse. É um tal de apresentações nas escolas das crianças, jantares de confraternização (?!) no trabalho e com os vizinhos, encontros, festinhas, escrever cartões, enviar mensagens virtuais, dar telefonemas, correr atrás de presentinhos especiais num exaustivo entra-e-sai de lojas onde tudo é sempre tão óbvio e tão custoso, providenciar decoração da casa, organizar ceia Natalícia, preparar reveillon ...
Quer saber? Tou fora! Vou desacelerar!
Houve um tempo em que curti muito mais esta época natalina - que não começava em novembro! Era verão (e pensar que a gente sonhava em um dia ter um Natal branco, com a neve caindo ...) e não se corria tanto, tinha-se menos compromissos e coisas a fazer e mais tempo até pra refletir como tinha sido o ano até então. Admito, tou com saudade, carente de família, de calor e de sonhos!
Estou pensando seriamente numa renovação nas atividades deste fim de ano, que incluam apenas o que for autêntico, sincero e dê prazer. Mais simples e verdadeiro. Quem sabe assim terei mais tempo para as pessoas que amo de verdade – amigos e família - e chego mais perto do tal espírito Natalício, em que o pouco vale muito.

Feliz Ano Novo !

Cortar o tempo
Quem teve a idéia de cortar o tempo em fatias,
a que se deu o nome de ano,
foi um indivíduo genial.
Industrializou a esperança, fazendo-a funcionar
no limite da exaustão.
Doze meses dão para qualquer ser humano se cansar
e entregar os pontos.
Aí entra o milagre da renovação e tudo começa outra vez,
com outro número e outra vontade de acreditar
que daqui pra diante vai ser diferente.
(Carlos Drummond de Andrade)

Dicas:

Kerzenziehen
Aqui na Suíça tem uma atividade bem interessante e gostosa nessa época do ano, que é fazer velas. Em Baden, por exemplo, já montaram uma barraca com os latões com pura cera de abelhas e com as ceras coloridas, na rua principal do centro velho da cidade, próximo ao Casino. Você relaxa e usa sua criatividade e, se for com amigos, fica tudo muito divertido.


Uma receitinha brasileira pro reveillon- Cuscus Paulista “simples-sofisticado”
Ingredientes:
1 cebola média
2 dentes de alho
1 tomate (sem pele e sem sementes) picado
2 colheres (sopa) de óleo (oliva ou girassol)
atum (lata grande ou cozido)
250 gr de camarões (pequenos e congelados)
4 colheres (sopa) de molho de tomate
1 lata pequena de palmito
1 xícara (chá) de água, dissolver 1 tablete de caldo de legumes
1 ½ xícara de farinha de milho
1 xícara de farinha de mandioca torrada
cheiro verde (coentro opcional)
pimenta do reino, sal, gotas de tabasco (opcional)

Modo de fazer:
Numa panela grande, faça um refogado com cebola, alho e tomate. Acrescente o atum e os camarões e deixe cozinhar um pouco. Coloque o palmito picadinho e o molho de tomate. Acrescente o caldo de legumes e deixe cozinhar mais um pouco até obter um molho denso e líquido. Acrescentar o sal e a pimenta a gosto e completar com o cheiro verde picadinho. Retirar a panela do fogo e colocar as farinhas aos poucos, misturando bem para incorporá-las completamente, formando uma massa pastosa. Não deve muito ficar seca.
Colocar a massa numa assadeira para bolo inglês, untada, e apertá-la contra o fundo. Pode desenformar ainda morno.

Miriam Müller Vizentini (Baden, Suíça)

Mudar é bom

Ninguém parece levar muito a sério a lista de resoluções de começo de ano. A gente faz por fazer, porque é uma tradição e porque é gostoso sonhar que no ano que vem vamos viver uma grande paixão, fazer aquela viagem a Istambul, colocar nossa vida financeira em ordem, arrumar tempo para participar de ações voluntárias, perder aqueles quilinhos a mais... No fundo, todas as nossas listas são bem parecidas: queremos sorte no amor, felicidade em família, um bom trabalho e, como resume bem a canção, “muito dinheiro no bolso, saúde para dar e vender”. Mas o que fazemos para que isso aconteça de verdade e para que o ano novo signifique realmente vida nova? Se formos bem sinceros, nada. Por que será, então, que temos tanta resistência em fazer mudanças? O que, afinal, nos segura em direção a uma vida melhor? Das respostas a essas perguntas é que poderá surgir, sim, um ano mais dourado e feliz. Pode apostar que funciona mais do que a lista.

Vença a preguiça
Como dizia o inventor Thomas Edison, jogamos fora as boas oportunidades porque elas geralmente vêm vestidas com macacão de operário. Fazer mudanças dá mesmo trabalho. Precisamos olhar bem de frente para nossas dificuldades, assumi-las de vez, planejar nossas ações para ultrapassá-las, tomar atitudes, se autocomprometer, sacudir a poeira e agir com determinação. Mas, às vezes, dá uma preguiça... Pois bem, você não é a única pessoa do mundo a sentir a força da inércia. Todos nós temos uma resistência enorme em sair da zona de conforto. Está tudo lá tão arrumadinho, tão certinho...

Então é Natal

Tenho que confessar: adoro o Natal e todas as suas celebrações. Acho as luzes e ornamentos nas ruas e lojas lindos. Saio especialmente para admirá-los. Adoro ouvir as mesmíssimas músicas de Natal que passam todos os anos no rádio três vezes ao dia: Merry Christmas de John Lennon, Driving Home for Christmas de Chris Rea, Last Christmas de Wham, Thanks God it’s Christmas de Queen, etc – ok, odeio Então é Natal de Simone - Pera aí também, não precisa exagerar no mal gosto! Gosto muito aqui na Europa de visitar os mercados de Natal, olhar as quinquilharias e fazer a parada obrigatória nas barracas para tomar o glühwein (uma espécie de quentão daqui) com amigos.

Outro costume bem centro-europeu é fazer mil espécies de biscoitos, sequilhos que só se come nesta época. Fazê-los mesmo eu nunca me animei. Cheguei até a comprar as formas, os ingredientes, mas era tanto trabalho e receita que desisti. Já comer esses mil biscoitinhos, é a minha especialidade! Vamos ganhando as caixinhas de sequilhos de amigos, de parentes, de colegas. Compramos outras variedades no supermercado e em janeiro, percebemos que a cota de biscoitos a serem comidos durante o ano todo já foi alcançada.

Ceias, jantares, almoços, brunches, encontros de Natal: com as brasileiras, com os colegas de trabalho, com os companheiros do curso de alemão, com os melhores amigos, com o grupo de latinos... Estresse, estresse, estresse. Comilança, comilança, comilança. Bebedeira, bebedeira, bebedeira. Mas o Natal é realmente a desculpa para se encontrar, para fazer algo junto, com gente que conseguimos ver pouco durante o ano. É a grande festa de confraternização. Todo mundo é bom, amigo e quer transmitir esse espírito um ao outro antes de 24 de dezembro. Ainda bem que aqui não há o costume de fazer amigo secreto. Imaginem o trabalho de comprar trocentos presentes para os amigos secretos!

Aqui na Europa gosto de Natais que sejam muito frios e com muita neve do lado de fora. É uma desculpa para ficar a maior parte do tempo dos dias que antecedem e procedem a data dentro de casa, sem fazer muita coisa, embrulhando presente, escrevendo emails e enviando cartões eletrônicos, tomando chá e, claro, comendo os biscoitinhos. Quando neva, paira no ar o verdadeiro clima de Natal. Tudo fica bastante silencioso e introspectivo. É esse o tempo que dedicamos às nossas famílias.

Porém, há também aspectos que não gosto de forma nenhuma. O consumismo desenfreado é um deles. As pessoas parecem utilizar o Natal como uma razão a mais para comprar. O comércio fica insuportavelmente cheio, com aquela multidão altamente mal educada e grosseira. Nestes momentos me pergunto onde o verdadeiro espírito natalino foi parar. Outro fator que eu sinto falta aqui é a caridade das pessoas. Ainda que seja um ato pontual do brasileiro, sempre damos a gorjeta de Natal do gari, dos assistentes do trabalho, da moça da faxina. Aqui não vejo muito isso acontecendo. Quando eles doam dinheiro, geralmente mandam para alguma missão na África – tipo Dafur. Não deixa de ser uma causa muito nobre, mas na minha opinião é algo anônimo.

De qualquer forma, a festa natalina é para mim uma época de reflexão, que me ajuda a fazer a retrospectiva do ano e criar metas para o seguinte. E como é bom ter esperanças de um novo ano por vir, muito melhor do que passou!

Cecília Zugaib (Zurique, Suíça)

Tradições Natalinas - Coroa de Advento

Religião é uma coisa complicada, individual. Um dia eu explico melhor a minha opinião sobre esse tema. Agora basta dizer que respeito todas as religiões e tento absorver o lado bom de cada uma. Por exemplo, quanto às comemorações natalinas. Natal é tempo de limpeza, de acreditar em novas coisas, de optar por uma vida saudável em que sobra espaço para a solidariedade e a paz.
É inverno na Europa, o friozinho lá fora e a gente aqui dentro, fazendo biscoitos e trabalho manual com as crianças para presentear os amigos. Enfim, a gente hiberna rodeada de “ursos“ queridos. Pela primeira vez eu fiz uma coroa de advento. Chamei minha vizinha suíça para me mostrar como se fazia e fizemos juntas. É super fácil.

Você precisa de:

Uma coroa de palha que será a base da coroa
Ramos verdes
Arame
Cola
Enfeites
4 Velas
Pregos ou prendedor de velas

Prenda os ramos na coroa com o arame e disponha as velas. Eu preferi colocar pregos nas velas para prendê-la na coroa, mas há também o prendedor de velas que é mais seguro. Enfeite como quiser. A coroa pode ser enfeitada com folhas, frutas secas, bolas de natal, miçangas, etc. Na minha vocês verão pedaços de limão, canela, baunilha, flores e bolas de natal douradas. As frutas secas marcam a presença da natureza adormecida no inverno e o brilho dourado sofistica a coroa pois eu sou perua mesmo!

Mas o que a coroa representa? Aqui vão algumas explicações cristãs:
Advento é o tempo correspondente aos 4 domingos, às 4 semanas antes do Natal. Muitas tradições estão relacionadas com esse tempo, uma delas é a coroa de advento que simboliza a preparação para o Natal.
Ela é feita com ramos verdes, geralmente envolvidos por uma fita vermelha e quatro velas. O círculo da coroa simboliza a nova aliança de Deus com a humanidade. Os ramos verdes, que mesmo cortados, permanecem verdes por semanas comunicam a esperança. A fita vermelha simboliza a cor da vida. As 4 velas são acesas (a cada domingo mais uma), para iluminar a vigília do advento e comunica a alegria da vida, aquela que vai além dos limites que esse mundo nos impõe.

Espero que gostem!

Magda Hammer (Zurique, Suíça)

Presentinhos especiais

Jogo Americano

Uma dica para presentear os familiares no Natal é colocar as crianças para trabalhar. Elas desenham algo bem legal numa folha A4, colam sobre uma cartolina de outra cor (30x42 cm) e encapam com folha transparente. Taí um jogo lindo americano! Fácil e feito com carinho. Esse é da minha Zoé, o desenho mostra ela à esquerda e eu à direta .

Magda Hammer

O Triste Fim do Pequeno Menino Ostra e Outras Histórias

O californiano Tim Burton passeia por diversos caminhos da produção artística, sua temática é o mundo fantástico que habita em cada um de nós. Para quem gosta deste universo imaginário uma boa dica é o livro: "O Triste Fim do Pequeno Menino Ostra e Outras Histórias" (The Melancholy Death of Oyster Boy), escrito e ilustrado pelo diretor em 1997, mas lançado no Brasil em 2007.
Pode parecer infantil, mas o livro tem cenas de violência familiar, suicídio, sexo não-explícito e traição extraconjugal (o amante da adúltera é um microondas). Também não cabe aos poemas, finais felizes.
Este virginiano tem em sua carreira filmes como: Batman, A noiva cadáver, O estranho mundo de Jack, Peixe grande, entre outros. Seu cinema evoca uma fantasia melancólica e muitas vezes sombria. E isso não é diferente nas suas produções literárias, onde os personagens são heróis desesperançados e infelizes, representados por um traço peculiar e uma poesia um tanto "ingênua". Uma boa dica para os admiradores dessa arte. A edição é da Girafinha com tradução para o português de Marcio Suzuki.

Thais Aguiar

A Christmas Carol - Charles Dickens

O conto de Natal de Charles Dickens é um dos maiores clássicos natalinos e provavelmente a estória de Natal mais popular e duradoura de todos os tempos. Estudiosos afirmam que a popularidade desta estória exerceu um papel essencial de redefinir a importância do Natal e os principais sentimentos associados a esta data. O livro é lindo e faz a gente realmente sentir o espírito do Natal no coração. Um presentinho super sugestivo e apropriado para esta época. Para quem não leu ainda esta é uma ótima sugestão de leitura!

Cristina Pereira

A última ceia de Natal


Ele já estava muito velho. Velho e cansado. Este, com certeza, seria seu último Natal e já estava tudo programado. Com muito cuidado, Antônio estendeu a toalha, alisou-a com as mãos, nada de marcas de dobra... Os copos, os talheres, alguns pratos brancos. Uma grande vela vermelha bem no centro... Um ramo de flores. Ah, sim, alguns refrigerantes.

Os convidados foram chegando e Antônio mostrava a cada um o seu lugar. Não faltava ninguém e uma grande travessa com pedaços de peru, farofa e batatas douradas, fumegando de tão quentinha, foi levada ao centro.

Ele não esquecera da roupa nova e tão feliz estava com aquele banquete, que exagerou na bebida e adormeceu. O sol já estava alto e as crianças pedalando suas bicicletas, exibindo roupas e brinquedos novos... O que seria ali, debaixo daquela árvore? Alguns adultos alertados pelos filhos aproximaram-se: viram uma folha de jornal bem aberta e esticada. Por cima copos de papel, algumas latinhas de refrigerante vazias, um prato de papelão bem no centro, com alguns restos de arroz... Em volta do jornal, algumas bonecas maltratadas davam a impressão de que crianças haviam brincado de "faz-de-conta".

Deitado bem perto, com uma folha de papel colorido cobrindo seus andrajos, um mendigo parecia adormecido. Uma garrafa de pinga quase vazia estava ao seu lado.

Margarita Wasserman, Curitiba - Brasil

Uma mudança pode ser uma chance

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
Muda-se o ser, muda-se a confiança;
Todo o Mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.
Continuamente vemos novidades,
Diferentes em tudo da esperança;
Do mal ficam as mágoas na lembrança,
E do bem, se algum houve, as saudades.
O tempo cobre o chão de verde manto,
Que já coberto foi de neve fria,
E em mim converte em choro o doce canto.
E, afora este mudar-se cada dia,
Outra mudança faz de mor espanto:
Que não se muda já como soía.

Luíz Vaz de Camões

Que a gente aproveite essa crise econômica mundial para rever nossos valores. Como o Gobarchov uma vez disse: Uma mudança pode ser uma chance. Vamos aproveitar essa chance para repensar o mundo, nossa relação com o próximo e com o meio-ambiente. Tá tudo muito saturado de um lado e miserável do outro. Overeaten but underfucked.
A grande virada tem que acontecer!

Magda Hammer (Zurique, Suiça)

Era uma casa muito engraçada…

Eis uma pequena história que ilustra como geralmente construímos e geramos nossas vidas.

Era uma casa muito engraçada…

Preciso fazer uma reforma urgente em minha casa! Tudo está muito velho, e as coisas não funcionam como deviam. Ah, essa casa é um caos. Tudo dá errado! Coloco fogo na lareira e o ambiente fica gélido! Tento me livrar da sujeira, ela parece se multiplicar. Nada esvazia, tudo transborda!

Sendo muito desleixada com minha casa, fui deixando, arrematando aqui e lá como podia, sem mudar realmente a estrutura de fundo: a tinta descascada da parede foi coberta por um painel maravilhoso e colorido do Monet, a cozinha está coberta por uma camada de gordura e sujeira, mas eu não deixo que ninguém chegue perto... porém tenho certeza de que eles sentem um cheiro estranho e desconfiam...

O encanamento está furado em alguma parte, mas não sei onde. Há sinais de infiltração, mas, ao invés de olhar nesta direção, preferi colocar um armário bem grande naquele canto e esquecer. Realmente precisava de um armário e foi muito prático poder armazenar todos os pedaços de parede que iam caindo e que não tinha como jogar fora. Um grave problema assola a cidade: uma greve de lixeiros pior do que em Nápoles durante o verão de 2008. Culpa deles que minha casa está neste estado! Nada pode sair de minha casa, tudo foi acumulando! Há quartos que estão em realmente péssimas condições! Simplesmente fechei a porta com chave dupla, coloquei placas no caminho impedindo o acesso, inclusive à mim mesma: é mais seguro. Assim não me atropelo nos objetos jogados no chão, que criei e fui deixando pelo caminho. Ai que preguiça de triar o que é ainda válido do que já não tem uso!


Os gêmeos

“Grafite não tem máscara. Ou faz parte da rua, ou está na galeria, figurando no cenário da arte contemporânea”, diz o paulistano Gustavo Pandolfo, em Nova York, sentado no chão, com a roupa inteira manchada de tinta, uma furadeira na mão e muitas idéias na cabeça. Ao lado de seu gêmeo idêntico, Otávio, ele compõe a dupla artística Os Gêmeos. Simples assim. Inseparáveis desde que se conheceram no útero materno, há 34 anos, os meninos - caçulas de quatro filhos - iniciaram a carreira pintando a parede da sala dos pais, na calada da noite. Expandiram a arte pelos telhados das vizinhas, tomaram os muros de São Paulo, e hoje pintam desde castelos, como fizeram na Escócia, até museus, como a Tate Modern, de Londres. Tudo sempre a quatro mãos. E aqui estão eles, na Deitch Gallery, no SoHo, galeria famosa por abrir seu espaço para artistas do gênero. Gustavo e Otávio passaram um mês em Nova York, trabalhando 12 horas por dia na galeria preparando a exposição Too Far Too Close (Muito Longe, Muito Perto). Tudo isso graças ao curador Jeffrey Deitch, dono do bom olho que descobriu a dupla há anos, e lhes concedeu um espaço em Nova York, antes mesmo de qualquer galerista brasileiro reconhecer o talento dos dois – e lhes apresentou para a galeria Fortes Villaça, em São Paulo, onde eles acabaram expondo.
Duas paredes, uma pintada de rosa bebê, outra de verde claro, expõem quadros feitos durante o mês de preparação e outros trazidos de mostras internacionais. Ainda há esculturas, como uma cabeça gigante, feita em madeira, e caixas de som, pintadas com olho, nariz e boca. Já a parede central foi transformada pela dupla num mural de fundo amarelo ouro, que leva a marca registrada dos gêmeos: muito improviso, cenas do nordeste brasileiro, cores fortes e alegres, estampas criadas por eles, e traços que remetem a sonhos, fantasias, alegrias, e um mundo infantil. Uma das pinturas mostra um enorme peixe, que ilustra as pescarias dos gêmeos com o avô, ainda na infância. Duro imaginar que ao fim da exposição, o próximo artista pintará algo por cima. “O Brasil é um país colorido. E isto está embutido em nosso trabalho”, diz ele, lembrando que sua arte habita hoje espaços de renomados colecionadores brasileiros e internacionais. Certa vez, ao pintar um muro em Coney Island, no Brooklyn, um passante ofereceu 2 mil dólares pelo casaco que Gustavo vestia, todo respingado de tinta. “Recusei. É o meu casaco predileto”, conta o artista, sem um pingo de arrependimento.

A área de trabalho dos gêmeos é uma grande escolhinha de arte de gente grande; latex, acrílico, óleo, spray, lixas de madeira, furadeiras, martelos, colagem, luzes e som – tudo espalhado pelo chão, uma grande improvisação. “Este é um reflexo da cultura popular brasileira: se virar com o que se tem”, revela Gustavo. Antes de começar um trabalho, a dupla troca idéias – neste caso, por exemplo, eles passaram dois meses preparando a vinda para Nova York, e ainda trouxeram três assistentes técnicos brasileiros, especializados em mecânica e eletricidade. São eles que dão interatividade, como luz, movimento e som, à parte do trabalho. “Os estrangeiros são atraídos pela nossa arte da mesma forma que são atraídos pelo Brasil – pelo calor humano, pela beleza feminina, e pelo fato de ficar feliz com o pouco que se tem”, acrescenta. Em São Paulo, a dupla divide um ateliê e afirma que, apesar de serem irmãos, e passarem tantas horas juntos, não brigam. Nem um pouquinho. Desde pequenos já desenhavam no mesmo papel. “Não importa quem fez o quê. Nunca houve competição entre nós, isto é impensável. O importante é o resultado final”, diz ele, pregando no quadro um cavalo de madeira de cem anos, que ganhou de uma amiga.

Gustavo diz que a pintura foi sua a porta de saída de São Paulo. “Mesmo pintando um muro no meio do trânsito, começamos a viajar”. Os Gêmeos colocaram o pé na estrada pela primeira vez em 1994, ao pintar no Chile e na Argentina. Mas foi a partir de 1999 que eles decolaram. Já deram pinceladas no Japão, na Austrália, na China, em Cuba, e na Europa quase inteira. Este ano, trabalharam na Lituânia, cidade do avô da dupla, e ainda pintaram, por dentro e por fora, a casa do palhaço russo Slava Polunin, considerado “o melhor do mundo”. Na agenda de 2008 ainda consta um museu em Curitiba, e também a Holanda, onde pintarão infláveis com um grupo de teatro de rua. Em Nova York, estão pela segunda vez. “Aqui há diferença no público: há gente do mundo inteiro, de diversas culturas. Além disso, a cidade valoriza este tipo de arte há tempos – as ruas e o metrô são todos pintados”, observa. Gustavo lembra, no entanto, que nos Estados Unidos arte de rua é tida como crime. “No Brasil não é assim. Quem pinta muro não vai para a cadeia. Mas claro que pichações em monumentos são ilegais”. Por outro lado, ele ressalta que o Brasil ainda não valoriza esta arte como nos Estados Unidos. Keith Haring (1958-1990), é um exemplo de gente da escola da rua, que começou pintando nos muros da cidade - ao longo dos anos sua obra passou a valer milhões de dólares. Como ele, há vários.

Ao circular pelo mundo, a dupla prefere ruas a museus – para eles, há mais referências nas calçadas e metrôs do que em galerias. Contudo, não dispensam visitas ao Metropolitan Museum of Art de Nova York, que segundo Gustavo é um mundo de informação. A veia criativa dos meninos veio em parte da mãe, que antigamente desenhava, e hoje borda – inclusive, partcipa de projetos dos filhotes. Arnaldo e Adriana, irmãos mais velhos, participam da área criativa e administrativa, respectivamente. Otávio, por sua vez, é casado com Nina Pandolfo, também artista de rua. Já o pai, sempre deu força moral: ia junto às festas de hip hop (que inspiravam os meninos na arte de rua) e nunca deixou faltar caneta, lápis-de-cor e pincel. Para os gêmeos, este foi o rascunho mais importante de suas carreiras.
Tania Menai, de Nova York (artigo escrito em julho de 2008, durante a exposição na cidade)

Em Curitiba: Vertigem – Os Gêmeos
Museu Oscar Niemeyer
Rua Marechal Hermes, 999 - Centro Cívico
Telefone: 3350-4400
Visitação: de 04 outubro a 01 de fevereiro de 2009
Aberto de terça a domingo, das 10h às 18h
Ingresso: R$4,00 inteira e R$ 2,00 estudantes
(gratuito para grupos agendados da rede pública do
ensino médio e fundamental, para estudantes até 12 anos,
maiores de 60 anos e no primeiro domingo de cada mês)
http://www.museuoscarniemeyer.org.br/

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Para conhecer mais o trabalho da jornalista Tania Menai, visite o site http://www.taniamenai.com Tania também é autora do livro “Nova York do Oiapoque ao Chuí: relatos de brasileiros na cidade que nunca dorme”. Vale conferir! http://www.nychui.com

Embalos de Obama à noite

Embalos de Obama à noite (mais uma noite de insônia...)

Sorry to Barack Obama and American people! Why USA has Obama, and we have Berlusconi?

Eram as frases de alguns dos cartazes em Roma, no último 7 de novembro, quando várias pessoas saíram às ruas, pedindo desculpa a Barak Obama pelo comentário idiota do primeiro ministro italiano Silvio Berlusconi.

Berlusconi disse em seu encontro com o presidente russo Medweden: “Obama tem tudo o que é necessário para se desejar fechar acordos com ele: é jovem, bonito e até bronzeado.“ No protesto, alguns italianos apelaram e revidaram no mesmo nível: “melhor um presidente bronzeado do que um anão careca!“, referindo-se a Berlusconi.

Quanto à pergunta dos italianos: “por que os EUA têm o Obama e eles o Berlusconi? ” na Itália o buraco é mais embaixo. O tal anão careca é o poderoso chefão lá, praticamente dono do país. Quando a oposição chega ao poder o anão dá sempre um jeitinho de puxar o tapete. E tudo acaba em “cosa nostra“, ou seja, na mãos dos mafiosos. Uma pena, os tempos de mudança e de abertura ainda não chegaram na bota da Europa.

Os Embalos de Obama à noite continuam (ou insônia parte 2)

John McCain aceitou a derrota. Foi vaiado por seus colegas de partido, mas continuou o discurso e parabenizou Obama. Lembrei-me do Al Gore que agiu da mesma maneira nas eleições presidenciais americanas anteriores, mesmo sabendo que alguma coisa tinha por trás daquelas eleições. Mas os resultados apontavam Bush como vitorioso.

Gesto bonito e demonstração de idealismo cívico sem mesquinharias! Uma das qualidades que faltam entre os políticos: aceitar a decisão democrática e o fato de que se todos não derem as mãos, a coisa não vai para frente.

Bem diferente agiu o Senhor Blocher, do partido de direita aqui na Suíça. Ao perder seu cargo de ministro, jurou vingança, rodou a baiana. Sua atitude mostra que apesar de sua competência para o cargo (o desgraçado é bom nas finanças!) tem a alma mesquinha. A mesma alma que prega contra nós, estrangeiros neste país.

Magda Hammer (Zürich, Suiça)

Bazar de Livros e Mostra de Arte no CEBRAC



No dia 13 de Dezembro o CEBRAC em Zürich estará organizando um Bazar de Livros super especial.

Além da tradicional troca, doação e venda de livros usados, o bazar também contará com a venda de vários livros novinhos que foram cortesia da embaixada do Brasil em Berna.
No evento também se realizará uma mostra dos trabalhos da artista Roberta Cito, com venda de cartões de Natal e oficina de arte para crianças (http://www.cito.ch/roberta/)

Passe um sábado de inverno agradável no CEBRAC, venha no dia 13/12 para o bazar, com aperitivo de final de ano e mostra de Roberta Cito!


Mônica Stoll (Zurique, Suiça)

Ciclus – A emoção em design

Um dia Tati Guimarães apaixonou-se por um cesto feito de jornal. Aprendeu e aprimorou a técnica. Com a sua criatividade e sensibilidade, foi mais além. Criou bolsas de papel de revista e as tornou objetos de desejo e de design ecológico. Ainda inquieta, utilizou mais materiais recicláveis para a criação de bijouterias. Brincos, colares, pulseiras, cintos feitos de lata, tetrapak, plástico, papel, rolhas, fotolitos. E assim surgiu a idéia da Ciclus, empresa que Tati fundou em 2001, com o objetivo de associar a sua formação de desenho gráfico com o desejo de realizar projetos sustentáveis. Da Ciclus, esse laboratório criativo, saem não somente acessórios de moda para uso pessoal como também projetos personalizados e presentes corporativos. Tudo obviamente com muita emoção e consciência ecológica. Para conferir o seu trabalho e fazer pedidos visite http://www.ciclus.com/.
Cecília Zugaib (Zurique, Suiça)

Brandi Carlile

Se eu fosse cantora, queria ser assim: com um vozerão e aquele tipo que parece que colocou o violão nas costas e saiu por aí para ver no que dava. E se deu bem.

Eu não a conhecia. Um amigo nos levou ao show dela e eu gostei muito de seu estilo, misturando Rock and Roll com Country. Demais! No palco, Brandie é uma gracinha, natural, alegre e simpática. A banda tem um super astral.

Apesar de suas canções serem muito parecidas, valeu a pena ir ao show especialmente para ouvi-la tocar Creep do Radiohead. É de arrepiar. E quando toca Country parece a versão masculina do Johnny Cash. A galera delira!

http://www.brandicarlile.co.uk/

Magda Hammer (Zurique, Suiça)

Valentin - Argentina, 2002


Este foi um dos filmes mais emocionantes que vi nos últimos tempos. Valentin é um filme poético, cativante pela simplicidade e sensibilidade. As dificuldades da vida e de uma família vistas sob os olhos inocentes e perspicazes de uma criança de nove anos - Valentin - que sonha em ser astronauta e surpreende pela precoce inteligência emocional. O garoto Rodrigo Noya interpreta Valentin de forma pura, real e emocionante, sem apelar ao sentimentalismo barato. A participação da maravilhosa Carmen Maura como a abuela dá ainda mais corpo a esta fábula Argentina escrita e dirigida por Alejandro Agresti. Para emocionar e inspirar, um filme sobre e para os otimistas, aqueles que acreditam que nem a mais dura e triste realidade é capaz de espantar a magia e a alegria de viver.

Cristina Pereira (Zurique, Suiça)

Última Parada 174 - Brasil, 2008

Não é fácil desvencilhar a realidade da ficção. Ainda mais nos dias de hoje, quando os acontecimentos parecem ter saído direto das telas de cinema. Neste caso, estou falando especificamente do longa "Última Parada 174" de Bruno Barreto. Filme de ficção, baseado no caso real de Sandro do Nascimento, um jovem que sequestrou um ônibus no Rio de Janeiro em 2000.

A história de Sandro já havia sido contada em 2002 por José Padilha (mesmo diretor de "Tropa de Elite" e "O Corruptólogo") no filme "Ônibus 174", onde participaram os personagens reais e foram utilizadas as imagens do acontecimento. O documentário de Padilha é um dos mais tocantes registros que já assisti. Na tarde de 12 de julho, Sandro foi visto por mais de 30 milhões de espectadores. Um teatro que acabou em tragédia. A produção conseguiu traçar o caráter do sequestrador, mostrando uma outra face da criminalidade, ignorada por todos nós.

A documentação foi tão impactante que me fez questionar minha vida, de alguma forma "burguesa", minha arte ingênua, meu universo "perfeito", muito mais agora que moro na Suíça, país que mais parece uma maquete da vida irreal. Mas muito maior que a culpa, é a maravilhosa sensação que muitas vezes a impotência provoca: a vontade de colaborar para melhorar este universo, num exercício que começa pequeno e que pode trazer resultados além de nós mesmos.

O filme de Barreto, que ainda está em cartaz em diversos cinemas do Brasil, mostra como funciona, quase que didaticamente, a formação do criminoso no Brasil. A estória é rebuscada e narra a vida de Sandro paralela a de Alessandro, mais um anônimo culpado e inocente produto da nossa civilização.

O documentário é imperdível não só pela estrutura que justifica e sinaliza as falhas desta nova sociedade, como pela amostragem do controle da mídia pelos peixes grandes da política. Portanto se quiser ver o filme, assista o documentário depois, caso contrário você vai sempre ter a certeza de que a realidade ainda instiga e transforma muito mais que a ficção.

"Ônibus 174", de José Padilha, 2002.

"Última Parada 174", de Bruno Barreto, 2008.

Assista também "O Quarto Poder”, com John Travolta - uma boa produção que, para muitos, parece plágio. A vida se inspirando na arte.

Thais Aguiar (Zurique, Suíça)

O Mago - Fernando Morais


Fernando Morais no livro “O Mago” retrata a vida do mais famoso escritor brasileiro da atualidade: Paulo Coelho. Conhecido por seu envolvimento com magia, ocultismo, misticismo e religião, Paulo Coelho é o autor brasileiro mais vendido no mundo, seus livros já ultrapassaram a marca de 100 mil exemplares vendidos, e Paulo é o único autor vivo a ser traduzido em mais línguas do que William Shakespeare.

Celebridade internacional, vendendo idéias que seduzem leitores das mais diversas culturas, polêmico no mundo literário, e com uma trajetória de vida impressionante, Paulo Coelho é um prato cheio para qualquer escritor. Mas Fernando Morais, um dos melhores escritores brasileiros do gênero, que já retratou em suas páginas figuras históricas como Olga e Chatô, fez desta história um grande banquete literário. Numa profunda pesquisa e investigação, Morais retrata de forma quase jornalística a vida de Paulo desde o nascimento problemático no Rio até os dias atuais de celebridade.

Tendo acesso aos diários que Paulo escreveu durante quarenta anos, a biografia revela não só os eventos da vida do escritor, mas também seus sentimentos íntimos com relação a eles. A impressionante obsessão em ser um escritor famoso, a parceria com Raul Seixas, o misticismo e o envolvimento com magia, como seus livros foram criados, o envolvimento com drogas e as experiências sexuais e afetivas, a conflituosa relação com os pais, os dias de celebridade... está tudo lá, magistralmente escrito e documentado em mais de 630 páginas (que parecem muito menos!).

Fernando Morais é o mago das biografias, e a sua prosa inteligente e fascinante fazem desta, leitura obrigatória. Como disse Gabriel Brust, jornalista da Zero Hora de Porto Alegre (numa velada crítica a Paulo Coelho): “esta tem tudo para ser a obra mais vendida entre as que envolvem o nome do escritor. Isso porque, além de agradar aos fãs, deve impressionar também quem gosta de boa literatura”. Vale a pena também conferir o site do escritor Fernando Morais - http://www.fernandomorais.com.br - totalmente dedicado ao livro, onde é possível conferir a opinião da mídia e de escritores sobre o livro, fotos exclusivas, e tudo sobre a criação da biografia que, na minha opinião, estabelece um novo patamar de qualidade neste gênero literário.

Cristina Pereira (Zurique, Suiça)

People of the Book - Geraldine Brooks

Publicado no Brasil com o título “As Memórias do Livro” pela Ediouro, este obra retrata a saga da Hagadá de Sarajevo, um códice judaico medieval ilustrado desaparecido durante a guerra da Bósnia.

Através da análise de uma conservadora Australiana de manuscritos antigos, marcas encontradas no livro como um fio de cabelo, a asa de uma borboleta, manchas de vinho e sal ajudam a reconstruir as memórias do livro e das pessoas que durante os séculos participaram de sua história e o protegeram de guerras, perseguições e da inquisição católica.

Ainda que a edição brasileira seja recheada de erros de tradução e ortográficos, achei a leitura interessante, principalmente pela mistura de ficção e fatos históricos. A Hagadá realmente existe e foi salva duas vezes em Sarajevo por curadores de museus, mas os detalhes destes eventos, da criação do códice e sua trajetória através dos séculos foram criados pela autora. Atraente também a descrição científica das técnicas de conservação e análise de manuscritos antigos e o background histórico das muitas perseguições e calamidades envolvendo os judeus e muçulmanos na Europa.

Embora as editoras tentem vendê-lo na mesma roupagem de O Código da Vinci, o livro não é exatamente um thriller, e a conexão com os fatos históricos é muito menos mirabolante, e portanto, mais verossímil do que na ficção de Dan Brown.

Cristina Pereira (Zurique, Suíça)

La Suma de Los Días - Isabel Allende

Para quem gosta da escritora chilena Isabel Allende vale a pena conferir seu mais novo trabalho - A Soma dos Dias - (no Brasil pela Bertrand Brasil).

De volta a um memoir a autora segue o relato autobiográfico, na forma de uma carta escrita à filha, iniciado em Paula, o magnífico livro em que Isabel descreve a tragédia, memórias e os sentimentos que a envolveram durante a doença e a morte de sua filha Paula em 1992.

Não tão profundo, sensível e revelador quanto Paula, A Soma do Dias retrata a escritora e sua tribo (como ela os descreve no livro) na intimidade. Isabel revela em suas páginas episódios curiosos e engraçados, além do polêmico drama envolvido na paixão e união de sua nora, mãe de seus dois netos, e a namorada do filho de Willie, marido de Isabel. As artimanhas de Isabel para arrumar uma nova mulher para seu filho após o episódio, e convencer todos os membros da tribo (inclusive o marido viúvo de Paula e sua nova família) a viverem perto dela em San Francisco, retratam a grande matriarca chilena que ela sempre imaginou um dia iria se tornar.

Ainda que esteja longe do brilho dos grandes trabalhos de Isabel Allende, A Soma do Dias é indiscutivelmente uma leitura agradável e divertida. Imagino que o livro irá agradar aqueles que como eu apreciam a forte consciência feminina e o poder criativo da escritora, com seu permanente irônico e inteligente estilo de escrever.

Cristina Pereira (Zurique, Suíça)

Tu Sexo Es Tuyo – Sylvia de Béjar

Desde muito pequenos, os garotos são estimulados e apoiados pela sociedade e família a explorar sua sexualidade. Já as meninas recebem exatamente a mensagem contrária. Há de se preservar (seja lá o que isso implica), não explorar o seu corpo nem questionar muito o tema. A mulher hoje é acadêmica, trabalha, ganhou sua independência, sabe exatamente o que quer (e o que não quer). Infelizmente, no campo do sexo há ainda muito a se explorar.

O livro «Tu Sexo es Tuyo» e a sua continuação «Tu sexo es aun mas tuyo» de Sylvia de Béjar, procura exclarecer distintos aspectos da sexualidade feminina. Aborda temas neste campo diretamente: a anatomia do homem e da mulher, a masturbação, preocupações decorrentes da educação que tivemos. Esse livro é leitura obrigatória para qualquer mulher que questione o papel do seu sexo na sua vida. Uma vez terminada a leitura, mais interessante ainda é a tomada de consciência, da segurança de ser mulher e de que realmente o seu sexo é seu.

Cecília Zugaib (Zurique, Suiça)

Tudo ao mesmo tempo agora cada vez mais rápido

Parece que o Natal foi ontem e já estamos caminhando para o final de ano de novo. Essa frase, campeã das conversas vapt-vupt de elevador (ou de sinais fechados), existe desde que o mundo é mundo. A impressão de que o tempo voa persiste desde que o homem começou a pensar no sentido da vida. No início da era cristã, o filósofo Sêneca (7 a.C.-65 d.C.), na obra Sobre a Brevidade da Vida, dizia que finalmente, constrangidos pela fatalidade, sentimos que ela [a vida] já passou por nós sem que tivéssemos percebido. Foge o irrecuperável tempo, dizia o poeta latino Virgílio (70-19 a.C.).

Sim, o tempo voa. A má notícia, caro leitor, é que tudo parece estar cada vez mais rápido mesmo. Há pouco mais de dez anos, a dupla de pesquisadores James Tien e James Burnes, do Instituto Politécnico Rensselaer (Nova York), provaram que percebemos hoje o tempo passar muito mais depressa do que no passado. Segundo eles, essa variação de percepção tem a ver principalmente com o crescimento das novas tecnologias, sobretudo com o chamado tempo real de transmissão de informações pela internet. Isso quer dizer que cabem muito mais acontecimentos dentro do mesmo espaço de tempo, o que aumenta a sensação de velocidade, afirma Tereza Mendonça, psicanalista do Instituto de Estudos da Complexidade do Rio de Janeiro.

O lado bom é que é simplesmente sensacional ter acesso a informações com mais agilidade. Isso ajuda a impulsionar a vida e toda essa tecnologia foi criada para nos ajudar. Só precisamos aprender a usá-la com inteligência e não como uma fonte de angústia. Caso contrário, nosso cérebro entra em curto-circuito. Imagine se na época de sua avó ela conseguia, no mesmo instante, saber de notícias online, falar com alguém pelo celular, acessar a agenda eletrônica, ver e-mails, responder chamadas no messenger... Mesmo podendo fazer tanta coisa ao mesmo tempo, é bom lembrar que o dia continua tendo 24 horas, a hora 60 minutos e assim por diante. Está certo que essa contagem foi criada pelo homem (a natureza não tem ponteiros de relógio, lembra?), mas, nesse quesito, nada mudou nos dias atuais. O que aconteceu é que acumulamos funções. O que fazer, então? A psicanalista Tereza Mendonça apropria- se de um conceito da biologia para dar uma idéia de como melhorar essa relação sem precisar fugir para o meio do mato. Temos que colocar uma membrana seletiva imaginária entre nós e a vida. Já que muita coisa acontece ao mesmo tempo, o jeito é filtrar através dessa membrana, que, assim como uma membrana celular, só deixa passar aquilo que é bom para nós, o que nos favorece, diz. Desse jeito fica possível saborear o tempo de forma criativa, como uma experiência, e não como algo que nos escapa. O tempo fica algo maleável, que pode se estender.

Precisamos aprender a usar esse filtro por basicamente duas razões: primeiro porque, na vontade irreprimível de conseguir fazer tudo rapidinho, o monstro da ansiedade vem para nos assombrar e causar os mais diversos incômodos. Segundo porque, definitivamente, não dá para fazer (direito) mais de uma coisa ao mesmo tempo. Nossa atenção pode, sim, ser dividida. Mas isso não quer dizer que sejamos capazes de nos aprofundar. Vamos ver, a partir daqui, de que forma cada uma dessas razões mexem na nossa vida cotidiana.

A ansiedade
Para começo de conversa, ansiedade não é nada ruim. Não é doença, mas um estado emocional absolutamente normal do ser humano, assim como felicidade, paixão, dor, raiva. Precisamos de certa dose de ansiedade, inclusive, para nos mantermos vivos. Esse sentimento está ligado ao nosso instinto de proteção e sempre é ativado em nosso organismo quando nos vemos em uma situação de perigo. É um instrumento de alerta e reação. Ou seja: uma pequena dose de ansiedade antes de uma prova, de uma competição ou até de uma entrevista de emprego pode fazer bem.

O problema é o exagero. Tanto que, atualmente, pelo menos 25% da população mundial já foi acometida por algum tipo de transtorno ansioso na vida. Transtorno quer dizer síndrome do pânico, as mais variadas fobias e outros males que imobilizam a vida da pessoa. Crises pontuais como uma taquicardia porque o trânsito não anda e você precisa chegar logo nunca foram contabilizadas oficialmente, mas dá para imaginar o resultado. Uma pesquisa feita em 2005 com 820 pessoas de Porto Alegre e São Paulo pela Isma-Brasil (International Stress Management Association) mostrou que 83% dos participantes afirmaram ter problemas de ansiedade.

Mas o que acontece com um ansioso? Ele sofre e sofre muito. Ninguém morre de ansiedade. Mas pode padecer de sensações horríveis, tais como tremores, suador, opressão e dor no peito, boca seca, palpitações, tonturas, entre outros sintomas muito incômodos que podem levar a pessoa ao hospital, como aconteceu com Paulinho da Viola, afirma Tito Paes de Barros, psiquiatra do Instituto de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da USP, autor do livro Sem Medo de Ter Medo. A ansiedade vem porque queremos chegar logo no futuro, rápido, saber o que vai acontecer daqui a pouco. É como querer adiar a vida o tempo inteiro. Fazemos mil coisas para aproveitar o tempo e preparar o terreno para o futuro, um futuro que não chega nunca, afirma Andrea Vianna, psicóloga do Amban (Ambulatório de Ansiedade do Hospital das Clínicas de São Paulo).

E tem mais: de que adianta viver correndo em função do futuro, sem aproveitar o presente, se ninguém sabe a hora da morte? Pois essa idéia de falta de controle é outro fator que acarreta ainda mais e mais ansiedade. Segundo Andrea, nessas horas de crise ansiosa, um bom exercício é parar um minuto e prestar atenção na respiração. Se ela estiver curta demais e centrada apenas no tórax, procure respirar pelo abdomen, puxando e soltando o ar em três tempos, como se tivesse uma bexiga cheia e vazia na sua barriga. É um primeiro passo para retomar o controle do próprio corpo.

Vida aos pedaços
A segunda conseqüência preocupante da ansiedade é que, ao fazer tudo rápido, não dá tempo de nos aprofundarmos em nada. Só escancaramos ainda mais nossa sensação de urgência. Fica tudo na superfície, como se provássemos as coisas (e pessoas) aos pedacinhos. Já existe até um termo para isso: snack culture, ou cultura aos pedaços, em inglês. Cunhado pela revista americana Wired, o termo diz que vivemos uma época de entretenimento instantâneo, com produtos culturais feitos para serem consumidos rapidamente para que outros sejam logo produzidos. Não é à toa que já existem filmes de um minuto, livros para ler no intervalo da novela e sites com apenas trechos de músicas. Tanta superficialidade não deixa tempo para reflexão sobre o que se consome o lado bom da história é que nunca houve tanto acesso à cultura como atualmente.
O problema é que a febre snack não atinge só a cultura, mas a vida como um todo inclusive a vida afetiva. O sociólogo polonês Zygmunt Baumann chama esse fenômeno de fluidez da existência contemporânea. A vida numa sociedade líquido-moderna não pode ficar parada. Deve modernizarse ou então perece. É preciso correr. Ligar-se ligeiramente é uma ordem. Não importa o que aconteça, propriedade, situações e pessoas continuarão deslizando e desaparecendo numa velocidade surpreendente, afirma em seu mais recente livro, Vida Líquida.
É só pensar um pouco para reparar no quanto nossa cultura associa viver mais depressa com felicidade e inteligência. Um sujeito rápido é logo identificado como inteligente o lento já é taxado de burro. Isso é uma tremenda balela, mas é assim que temos enxergado o mundo. Prova disso é a pergunta de Albert Einsten a um aluno: Por favor, você pode explicar este problema devagar porque não entendo as coisas depressa?

Se você chegou até aqui nesta reportagem é porque dedicou um tempinho do seu dia para uma reflexão. Então responda: que diferença faz a velocidade com que você responde a uma pergunta, desde que a resposta seja correta? A não ser que esteja se preparando para uma profissão como salva-vidas ou motorista de ambulância, você acha mesmo importante dar valor a essa mesma velocidade que causa ansiedade e superficialidade? Forçar o vinho a envelhecer depressa, as árvores a crescerem rápido, apressar um chute na bola, forçar o amor a vir mais cedo, o amanhã a chegar hoje. Gostamos de andar rápido e vencer a corrida. O problema é que perdemos a grande vitória da desaceleração a ser conquistada, diz o psiquiatra americano Edward M. Hallowell. Se a idéia é aproveitar o tempo, sossegue. Você vai viver mais do que seus avós a expectativa de vida do brasileiro cresceu mais de 8 anos nos últimos 23 anos. Se o homem vive mais tempo, o tempo não precisa lhe faltar. Como diz Paulinho da Viola, coisas do mundo, minha nega.

Artigo da Revista Vida Simples (Por Mariana Sgarioni - Ed. Setembro 2007)