A Revista Íntegra, após cinco anos de publicações, chega ao fim.
Convidamos você a conferir esta última edição. Saiba mais...
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domingo, 20 de junho de 2010

Se a eleição fosse hoje...

...em qual seleção você votava? Argentina? Espanha? Costa do Marfim? Você tirava o Lula, botava o Adriano e recuava o Robinho?

Imagine o seguinte: por uma dessas coincidências a final da Copa do Mundo vai cair na mesma hora da eleição. Pra piorar, o Tribunal Eleitoral e a Globo não chegaram num acordo, então você tem que escolher: ou vota ou vê a final. E o Brasil tá na final, é claro! Você prefere um presidente eleito ou uma seleção campeã? Qual dos dois vai mudar o país? Uma seleção campeã serve pra gente comemorar no maior porre e pra centenas de contratos milionários (nenhum conosco, também é claro!) E um presidente, serve pra que?
Eu, você, todo mundo joga uns dois reais por semana na mega-sena. Mas quanto a gente investiria num presidente? Se a gente fizer uma vaquinha, dá pra comprar um? Ou pra isso tem que ser vaquinha de latifundiário com banqueiro e empresário? E um presidente se vende? É no cheque, no cartão ou em dinheiro? Tem que ser à vista ou rola um crediário?
Se a eleição fosse hoje, você votava na Dilma, no Serra ou no Dunga? E se a eleição fosse pra técnico da seleção e o Ricardo Teixeira sozinho escolhesse o presidente? O Brasil melhorava no campo? E na cidade? Afinal, uma eleição serve pra quê? E um presidente, serve a quem?
Mas... e se a eleição não fosse hoje? Isso! Nem a eleição nem a final da Copa. Se hoje fosse por exemplo o Dia Universal do Líquido Amniótico ou da Proclamação da Escravidão? Ou fosse, digamos, o Dia Mundial da Giárdia ou do Assassinato por Motivo Torpe? Ou pior ainda: se hoje fosse hoje? Só hoje, hoje e mais nada? O que você faria?

Nunca é o dia certo, não é mesmo?

César Cardoso para revista Caros Amigos - Edição de junho/2010

E para ilustrar este texto tão pertinente, posto um vídeo feito por mim em parceria com a Magda Hammer, aqui em Zurique, na Copa de 2006.

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Participe desta bela discussão: "Precisa-se de Matéria Prima para construir um País!"

A crença geral anterior era que Collor não servia, bem como Itamar e Fernando Henrique. Agora dizemos que Lula não serve. E o que vier depois de Lula também não servirá para nada. O problema está em nós. Nós como POVO. Nós como matéria prima de um país. Porque pertenço a um país onde a "ESPERTEZA" é a moeda que sempre é valorizada, tanto ou mais do que o dólar. Um país onde ficar rico da noite para o dia é uma virtude mais apreciada do que formar uma família, baseada em valores e respeito aos demais... João Ubaldo
De verdade há uma tendência em rejeitar qualquer presidente que esteja no poder. E isto não é de hoje, isto é histórico. Há quem diga que a maior vantagem do homem é poder mudar de opinião, e isto fazemos com uma rapidez sem igual. E há também quem considere tais mudanças, uma transformação cultural inevitável. É a negação do Brasil! Trabalho este que vem se solidificando a cada século. Thaís Aguiar
Querem desmerecer o Brasil. Cresci ouvindo que o povo brasileiro é mal educado ou iletrado. Parece que o Brasil está tão preocupado em responsabilizá-lo pelas mazelas do país que esquecem de procurar a verdadeira razão Histórica do porquê somos o que somos. O Brasil tem mais anos escravagistas do que republicanos. E quem fundou a república brasileira foram os senhores de engenho contra o poderio dos monarcas. Não foi Tiradentes não. O Brasil tem uma história colonialista, mentalidade colonizadora até quando defende as privatizações a preço de banana e as intervenções do FMI, ou na mentalidade escravagista que divide o país em luta de classes. E sem falar do notório tolhimento de qualquer oportunidade digna aos mais pobres e pretos. Marcelo Madeira


terça-feira, 10 de novembro de 2009

O mal-entendido que mudou a história - 20 anos da queda do muro de Berlim!

O Muro de Berlim começou a ser derrubado na noite de 9 de Novembro de 1989 depois de 28 anos de existência. O evento é conhecido como a queda do muro. Antes da sua queda, houve grandes manifestações em que, entre outras coisas, se pedia a liberdade de viajar. Além disto, houve um enorme fluxo de refugiados ao Ocidente, pelas embaixadas da RFA, principalmente em Praga e Varsóvia, e pela fronteira recém-aberta entre a Hungria e a Áustria, perto do lago de Neusiedl.

O impulso decisivo para a queda do muro foi um mal-entendido entre o governo da RDA. Na tarde do dia 9 de Novembro houve uma conferência de imprensa, transmitida ao vivo na televisão alemã-oriental. Günter Schabowski, membro do Politbüro do SED, anunciou uma decisão do conselho dos ministros de abolir imediatamente e completamente as restrições de viagens ao Oeste. Esta decisão deveria ser publicada só no dia seguinte, para anteriormente informar todas as agências governamentais. Ainda assim as fronteiras não seriam abertas totalmente, somente seriam menos restritos mas o controle seguiria igual. Após uma hora de informações desinteressantes na coletiva de imprensa, Günter Schabowski é questionado por um jornalista italiano sobre as fronteiras e o controle, se seguiria tudo igual. Schabowski lembrou-se que tinha um papel em mãos -embora tenha demorado alguns segundos até encontrá-lo- que falava sobre isso. Ele, em posse do rascunho que acabara de ser redigido pelo conselho, começou a ler em voz alta sem nem mesmo saber exatamente do que se tratava. Jornalistas que estavam cochilando, acordaram com a surpresa, sem acreditar no que estavam ouvindo. Um outro repórter perguntou a partir de quando isto entraria em vigor. Schabowski procurou alguma data ou prazo no rascunho mas nada encontrou, e sua resposta foi - "Sofort" (imediatamente)!
A população que assistia ao vivo em suas casas foi para as fronteiras, mas nenhum soldado sabia do que se tratava. E foi assim que tudo aconteceu!

O muro de Berlim e o Portão de brandeburgo ao fundo em 9 de novembro de 1989. Pouco depois deste anúncio houve notícias sobre a abertura do Muro na rádio e televisão ocidental. Milhares de pessoas marcharam aos postos fronteiriços e pediram a abertura da fronteira. Nesta altura, nem as unidades militares, nem as unidades de controle de passaportes haviam sido instruídas. Por causa da força da multidão, e porque os guardas da fronteira não sabiam o que fazer, a fronteira abriu-se no posto de Bornholmer Strabe, às 23 h, mais tarde em outras partes do centro de Berlim, e na fronteira ocidental.

Muitas pessoas viram a abertura da fronteira na televisão e pouco depois marcharam à fronteira. Como muitas pessoas já dormiam quando a fronteira se abriu, na manhã do dia 10 de Novembro havia grandes multidões de pessoas querendo passar pela fronteira.

Os cidadãos da RDA foram recebidos com grande euforia em Berlim Ocidental. Muitas boates perto do Muro espontaneamente serviram cerveja gratuita, houve uma grande celebração na Rua Kurfürstendamm, e pessoas que nunca se tinham visto antes cumprimentavam-se. Cidadãos de Berlim Ocidental subiram o muro e passaram para as Portas de Brandenburgo, que até então não eram acessíveis aos ocidentais. O Bundestag interrompeu as discussões sobre o orçamento, e os deputados espontaneamente cantaram o hino nacional da Alemanha.
Fonte: Wikipedia e Revista Íntegra

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Importante! Brasil 2020

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Festival Internacional de Jornalismo de Ferrara

A terceira edição do Festival Internacional de Jornalismo de Ferrara, que aconteceu nos dias 2, 3 e 4 de outubro, teve abertura com o prêmio Anna Politkovskaja. O prêmio, que leva o nome da jornalista russa, assassinada em 2006 por razões políticas, foi criado para premiar jornalistas investigativos.
Politkovskaja foi assassinada em outubro de 2006, com vários tiros, no elevador do seu prédio em Moscou . No dia seguinte a sua morte, a polícia russa apreendeu um dossier (que ainda não tinha sido publicado) contendo toda a pesquisa realizada pela jornalista sobre as torturas que as forças de seguranças chechenas estavam praticando. Material altamente comprometedor para o Primeiro Ministro Ramzan Kadyrov e o sistema político checheno.

A primeira a receber o prêmio Ana Politkovskaja foi a jornalista mexicana Adela Navarro Bello, diretora do jornal semanal Zeta. Para a jornalista, a conquista deste prêmio foi de grande importância, segundo ela "este é um grande reconhecimento ao trabalho de uma jornalista que morreu por não esconder a verdade. Este momento significa um apoio internacional aos jornalistas investigativos, mostrando que eles não estão sozinhos". Adela Navarro Bello vive sob proteção, por ter recebido diversas ameaças do narcotráfico mexicano. Mais informações: http://festival.internazionale.it/

Jaciara Polese Rocha, Ferrara - Itália

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Um projeto interessante: Em Nápoles, turistas são orientados por ex-presidiários

A cidade de Nápoles, na Itália, lançou um projeto experimental chamado "Dentro-Fora", com a idéia de dar mais segurança e orientação aos turistas, que querem conhecer uma vizinhança não muito amigável.
O que o projeto traz de novo é que os guias turísticos são ex-presidiários. Eles prestam o serviço gratuito, onde gorjetas são desencorajadas pelo governo. Os novos guias adoraram a idéia e enxergam nesse tipo de trabalho uma alternativa para se reintegrar à sociedade e se afastar da tentação de voltar para o crime organizado. Numa reportagem, transmidida ontem pela SF1 (TV Suíça), um dos turistas é abordado e revela o desconhecimento do passado dos guias. Para o entrevistado a idéia é genial, e ele se sente, após saber disso, muito mais confiantes nos guias e nos trajetos que incluem os bairros mais perigosos da cidade.
Para os guias a felicidade está impressa em seus rostos e esperam que o projeto dê certo. Para eles reintegração precisa acontecer interiormente também e com isto a auto-confiança gera novos cidadãos!
Fonte: Revista Íntegra e Gerador de Conteúdo

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Carta aberta - Huei Lin Allegretti

(Carta recebida em 13 de agosto de 2009)
Olá queridos amigos e amigas

Passei as últimas horas tentando descobir algo sobre o mail que recebi sobre a manifestação "Fora Sarney"; entrei no Orkut, no Twitter, e cheguei a conclusão de que pode ser um movimento realmente feito pela população, e não um movimento de manipulação. No final das contas, como saber?

Nesse último final de semana, conversando com meus irmãos, recomecei a divagar sobre algumas coisas que há muito não pensava. Estou ficando mais velha, e com isso, mais acomodada. Mas fiquei incomodada com a minha/nossa comodidade. Durante a semana, conversando com uma aluna, esses pensamentos novamente voltaram à tona. Quantos e mails recebemos com acusações sérias sobre nossos governantes? Quantos escândalos não vêm à tona, volta e meia, na mídia? Quantos outros e mails não recebemos com "correntes" para que apaguemos as luzes num certo dia numa certa hora, dizendo que não devemos abastecer nossos carros em certo lugar, ou vários outros movimentos pacíficos que eu, pessoalmente (e infelizmente) quase sempre esqueço de fazer? (Vale a pena lembrar que em vários países mudanças sérias ocorrem devido a boicotes desse tipo). Mas aí pensamos que pode ser que não seja verdade, que pode ser somente uma jogada de marketing do concorrente, que não temos tempo para checar toda essa enxurrada de informações (informação=forma-a-ação. Será que vem daí?) que recebemos via internet! E continuamos nossas vidas, trabalhando, dando duro, reclamando ás vezes...

Conversava com meu irmão que, no Brasil, e em Curitiba certamente, temos a idéia de que passeatas são para pessoas de esquerda, de que não vemos os movimentos populares, como as passeatas, como uma ferramenta de cidadania, mas quase nos envergonhamos disso, de ir para as ruas, de mostrar a cara, de lutar pelos nossos direitos. Justificamos essa nossa falta de iniciativa com nosso passado de ditadura, com nossa característica de "bon vivants" dos brasileiros, pacíficos, que curtem a vida...Será que já não amadurecemos o bastante para termos voz própria? Infelizmente, nossa voz não é representada pelos nossos governantes, como deveria ser. Na grande maioria das vezes, nossos políticos não estão representando a nossa vontade, mas sim o interresse deles. Até quando vamos aceitar?
Deveríamos ter vergonha, não de andar na Rua XV demonstrando nossos desejos, de sermos melhores representados, de sermos respeitados ou de termos um retorno pelo que pagamos de impostos. Deveríamos ter vergonha é de sermos conscientes e não fazermos nada! De sermos coniventes! Eu acredito que quem tem consciência, é responsável. Somos todos responsáveis pela sem-vergonhice que acontece em nosso país. É nosso DEVER, não só direito, irmos para as ruas e demonstrar nosso descontamento. Não devemos ter vergonha. Temos que aprender a fazer isso, é verdade, mas digo a vocês que, quando você está lá fora, defendendo seus direitos e praticando cidanania, o sentimento é de orgulho e satisfação, de irmandade, de humanidade, de confraternização, de estarmos defendendo algo que sabemos ser justo e certo.

Daí recebi esse email sobre a manifestação (Fora Sarney!). Minha primeira reação é "sim, vou repassar a todos que conheço". Depois comecei a pensar em todas as implicações que isso pode ter, não sabia quem havia iniciado esse movimento, que tipo de reação terá a polícia ( no "perguntas e respostas" do Yahoo! fiquei sabendo que em Brasilia a polícia reagiu), etc, etc.
Continuo não podendo dar essas respostas. Mas vejo isso como uma chance de exercermos cidadania, de aprendermos democracia. Eu não vou desperdiçar essa chance!

Fora Sarney!

Huei Lin Alegretti - Curitiba, Brasil

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

"Uma homenagem ao primeiro aniversário da Crise Financeira Mundial" - Marcelo C. Madeira

Pane na máquina do espírito

Há algo de errado
Na máquina do espírito
É falta de óleo
Ou falta de brio

Ou quem sabe

Uma mania hipocondríaca
De explorar a cobiça
Aos limites limítrofes
Do preço mais cotado
do cambio flutuante de ideários

Que dia menos dia
Há de queimar o fusível
E explodir o coração

As veias entupidas de dinheiro
Esse material abstrato
Sem valor natural
Apenas o valor agregado

Que gangrena a carne
Que engrena o carro
Que engendra o espírito
Que gera o vício
Que causa o pigarro


Um fino e espetacular
Curto circuito
Que não deixa vestígios

Só fragmentos de culpa
Aniquiladas a murro
Na ponta da faca
Que tira as vísceras rasgadas
De um jovem na calçada

E o velho deitado
Já não entende nada
O espírito já é máquina
Um enguiço retroativo
Marcelo C. Madeira

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Um spa exclusivo, Revista Piauí

Habitué que se preza não vai a Punta del Este, vai a Punta. Não visita amigos numa ilha em Angra dos Reis, mas em Angra. Dá uma relaxada no spa do Costão, jamais no Costão do Santinho. A intimidade dos famosos com refúgios badalados parece exigir tratamento no diminutivo - nomes por extenso são coisas de turismo de massa. Assim, quando a beldade venezuelana Dayana Mendoza, atual Miss Universo, desembarcou na baía de Guantánamo, em Cuba, logo tratou de chamar aquele enclave ensolarado do Caribe pela sua abreviatura pronunciável, Gitmo. O termo é uma corruptela da sigla militar (gtmo) que designa a base naval dos Estados Unidos fincada nas barbas da ilha comunista de Fidel Castro.
Dayana e Gitmo: parece terem sido feitos um para o outro. Pelo menos é o que se deduz dos posts com que a coroada de 22 anos brindou os leitores de seu blog:
Guantánamo, Cuba!!! Uáaau, minha profissão é fantástica!!!! Foi uma experiência incrível. Crystle [Crystle Stewart, a Miss Estados Unidos 2008] e eu chegamos na sexta-feira e logo fomos dar uma volta. Todos ali pareciam saber da nossa chegada. Como primeira atividade participamos de um almoço de boas-vindas. Em seguida, visitamos um dos bares da base militar. Batemos ótimos papos sobre a experiência de viver em Gitmo. [...]
Também tivemos direito a uma demonstração das incríveis habilidades dos cães militares. Todo o pessoal foi simplesmente bárbaro conosco. Visitamos os campos dos prisioneiros, vimos as celas, os locais dos banhos, os espaços de recreação, com salas de cinema, aulas de arte, livros. Tudo muito interessante. Os fuzileiros navais nos deram uma aula sobre a história do lugar, e pudemos ir até a linha divisória entre Gitmo e Cuba.

E a água de Guantánamo! Tããão incrível. Fomos até a Playa Cristal, onde aprendi que o nome vem de minúsculos cristais acumulados na areia ao longo de séculos. É lindo ver todas aquelas cores brilhando ao sol.

Por mim, eu não partiria jamais de Gitmo. Tudo tão relaxante, tão calmo, tão lindo! Que viagem memorável, deliciosa!

É uma lástima, senão uma brutalidade, que os responsáveis pela Organização Miss Universo tenham retirado do ar o diário de viagem encerrado em 27 de março passado. No seu lugar foi inserido um comunicado um tanto seco da presidente da entidade que, em 2009, organizará a 53ª edição do concurso: "Os comentários feitos por Dayana Mendoza em seu blog referiam-se à hospitalidade com que foi recebida pelos membros das Forças Armadas dos Estados Unidos e suas famílias aquarteladas em Guantánamo", informou Paula Shugart.

Isto é, Dayana não se referia ao campo de detenção ali instalado desde 2002, e que se tornou o foco irradiador da política de tortura autorizada pelo governo George W. Bush em sua guerra contra o terror. Nada que evocasse o devastador relatório de 41 páginas da Cruz Vermelha Internacional, tornado público no início de abril, e que aponta os abusos pelos quais Guantánamo passou a se notabilizar. A Miss Universo tampouco cruzou com os 240 prisioneiros que permanecem encarcerados em Gitmo. Não teve a oportunidade, portanto, de ser apresentada a dois dos estrategistas do 11 de Setembro, o saudita Abu Zubaydah, submetido a 83 sessões de simulação de afogamento, nem ao kuwaitiano Khalid Sheikh Mohammed, torturado 183 vezes só em março de 2003, segundo o mesmo relatório.

O convite para passar cinco dias de março em Guantánamo chegou a Dayana através da United Service Organization, uso, entidade criada durante a Segunda Guerra Mundial para prover apoio recreativo e moral às Forças Armadas americanas espalhadas mundo afora. Hoje, a missão de entretenimento à soldadesca faz parte da agenda politicamente correta de toda Miss Universo. No passado, foi Hollywood que aderiu em peso ao chamado cívico para cruzar meio mundo e injetar calor humano às tropas em guerra. Uma lista completa das mais de 208 mil (sim, 208 mil) visitas organizadas entre 1941 e 1945 inclui os nomes mais estelares do showbiz americano. De Marlene Dietrich a Bob Hope, de Judy Garland e Lauren Bacall a Fred Astaire, de Humphrey Bogart, Glenn Miller e Frank Sinatra - ninguém ousaria faltar. Na Guerra da Coréia dos anos 50 foi a vez de Marilyn Monroe, Debbie Reynolds, Errol Flynn, Jane Russell e Bob Hope (sempre ele) vestirem o uniforme. Mesmo durante um conflito que rachou a nação americana nos anos 60 e 70, como a Guerra do Vietnã, a uso conseguiu organizar mais de 5 mil apresentações de artistas. Pelas terras do sudeste asiático deram o ar de sua graça Sammy Davis Jr., Ann-Margret, John Wayne e, como não, Bob Hope.

Para a atual embrulhada militar erguida sobre os escombros do atentado às Torres Gêmeas, o escrete tem sido mais esquálido. Lance Armstrong, o herói das pedaladas, foi despachado para o Catar, Afeganistão e Quirguistão. No Kuwait, coube a Scarlett Johansson iluminar, com sua tez de pêssego e boca carnuda, os rostos da soldadesca aquartelada no deserto.

Mas é a passagem-relâmpago da venezuelana Dayana Mendoza por Guantánamo que consolidou a despedida daquela base como centro de detenção e de tortura. Barack Obama, ao assumir a Presidência em janeiro deste ano, decretou que em doze meses não haveria mais detentos na base militar. Os cinco dias de Dayana bastaram para revelar a vocação do local para "ilha da fantasia".

Infelizmente, por ter tido o seu blog cruelmente abortado, a Miss Universo não pôde se estender sobre tudo o que a cativou em Gitmo. Mas poderá transformar suas observações em livro, futuramente. Talvez assim:

A interação com os animais é realmente um dos pontos fortes dos resorts da cadeia Bush, Cheney & Rumsfeld. Quando a gente menos espera, surge um cachorro não se sabe de onde. Ouvi dizer que num dos spas mais exóticos, o de Abu Ghraib, eles chegam a brincar de corre-corre com hóspedes vip. Para tornar tudo ainda mais divertido, vez por outra os animadores põem vendas em alguns deles - quer dizer, nos hóspedes, não nos cachorros... - e aí é um susto só!

Agora, se você é desses que gostam de tirar foto de celebridades, esse lugar não é para você. Fiquei impactada com o grau de privacidade que esse resort oferece aos famosos. Durante meus cinco dias de relaxamento em Gitmo, as celebridades mega-ultra-vips recarregavam suas baterias num espaço completamente isolado. No máximo, a gente ouvia um ou outro grito do personal deles. Um luxo.

Boa parte dos hóspedes de Gitmo foi trazida de muito longe, em jatos fretados, cortesia da casa. A frequência, aliás, é das mais cosmopolitas que já encontrei - conheci gente de pelo menos 26 países! Sério: em que outro lugar você vai conhecer um rapaz do Iêmen, do Afeganistão e - olha só! - até do Djibuti?!! Sim, tem um país chamado Djibuti!

Para driblar a tensão das nossas agendas, ainda na semana passada, tive de prestigiar a abertura do pregão da Nasdaq, compareci à corrida de Fórmula 1 na Malásia, aprendi o que é Twitter e participei de dois desfiles em Miami - o serviço em Gitmo é all-inclusive, ou seja, já está tudo pago. Das refeições light (o lugar é divino para emagrecer) aos roupões chiquésimos, laranja-vivace, da grife Frette, nada falta. Agora que conheci, pretendo voltar sempre. Ouvi dizer que eles têm um curso bárbaro de apnéia! Tábua-de-água, ou algo assim! Quero fazer, pra pode mergulhar no Djibuti!
Dorrit Harazim para Revista Piauí - maio 2009

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Uma sem-teto brasileira na Suíça

Como contraste ao luxo do último post, publiquei hoje uma pequena reportagem que fiz com uma simpática jovem brasileira, ex-moradora de rua e atualmente coordenadora do Movimento dos Sem Teto do Centro (MSTC). Acho que vale a pena falar sobre o tema.
Ivaneti de Araújo havia sido convidada pela ONG Anistia Internacional para falar a um público europeu sobre um problema crescente e muito grave no Brasil: o déficit habitacional e o número crescente de desabrigados vivendo nas ruas das grandes capitais do país. Suas palavras emocionaram muitas pessoas, assim como as imagens tiradas por fotógrafos de alguns prédios ocupados em São Paulo.
Por coincidência, assisti há algumas semanas um fantástico documentário no canal de TV franco-alemão ARTE sobre uma biblioteca que havia sido criada na ocupação da Prestes Maia por um catador de papel. Os livros eram encontrados por ele no lixo. Os usuários eram os ocupantes, pessoas de todas as idades que viviam em condições subumanas em mais um desses “balança-mas-não-cai” da maior metrópole do país.
Pessoalmente também acho crítico qualquer espécie de confisco da propriedade privada, porém a Ivaneti de Araújo abriu meus olhos para uma verdade: os prédios e casa abandonados (o que aconteceu com o Castelinho no Rio de Janeiro?) ganham vida com a ocupação. Ao invés de ratos, pombos e desocupados, esses espaços passam a ter famílias inteiras, com muitas crianças. Corredores escuros viram playground. Cozinhas abandonadas passam a ser salão comunitário. E um quarto vazio, passa a ter histórias.
Aqui na Europa já visitei várias casas ocupadas. A mais impressionante surgiu em Berlim nos anos 90, a de um antigo shopping center tomado por anarquistas e artistas. O resultado: um dos centros culturais mais produtivos já surgidos na capital alemã. Na época fiz uma reportagem para o Jornal do Brasil. Em Berna, um antigo estábulo abandonado foi “confiscado” nos anos 80 por jovens esquerdistas. Hoje a Reitschule tem teatro, cinema, restaurante ecológico e até espaço para concertos. Cheguei a ver o grupo alemão Kraftwerk por lá. Será que poderíamos ter o mesmo no Brasil?
Foto: Prédio ocupado no bairro da Luz, São Paulo. Flickr/Oco Sapiens
Alexander Thoele para Swissinfo
Conheça mais sobre o trabalho do jornalista Alexander Thoele

domingo, 7 de dezembro de 2008

Embalos de Obama à noite

Embalos de Obama à noite (mais uma noite de insônia...)

Sorry to Barack Obama and American people! Why USA has Obama, and we have Berlusconi?

Eram as frases de alguns dos cartazes em Roma, no último 7 de novembro, quando várias pessoas saíram às ruas, pedindo desculpa a Barak Obama pelo comentário idiota do primeiro ministro italiano Silvio Berlusconi.

Berlusconi disse em seu encontro com o presidente russo Medweden: “Obama tem tudo o que é necessário para se desejar fechar acordos com ele: é jovem, bonito e até bronzeado.“ No protesto, alguns italianos apelaram e revidaram no mesmo nível: “melhor um presidente bronzeado do que um anão careca!“, referindo-se a Berlusconi.

Quanto à pergunta dos italianos: “por que os EUA têm o Obama e eles o Berlusconi? ” na Itália o buraco é mais embaixo. O tal anão careca é o poderoso chefão lá, praticamente dono do país. Quando a oposição chega ao poder o anão dá sempre um jeitinho de puxar o tapete. E tudo acaba em “cosa nostra“, ou seja, na mãos dos mafiosos. Uma pena, os tempos de mudança e de abertura ainda não chegaram na bota da Europa.

Os Embalos de Obama à noite continuam (ou insônia parte 2)

John McCain aceitou a derrota. Foi vaiado por seus colegas de partido, mas continuou o discurso e parabenizou Obama. Lembrei-me do Al Gore que agiu da mesma maneira nas eleições presidenciais americanas anteriores, mesmo sabendo que alguma coisa tinha por trás daquelas eleições. Mas os resultados apontavam Bush como vitorioso.

Gesto bonito e demonstração de idealismo cívico sem mesquinharias! Uma das qualidades que faltam entre os políticos: aceitar a decisão democrática e o fato de que se todos não derem as mãos, a coisa não vai para frente.

Bem diferente agiu o Senhor Blocher, do partido de direita aqui na Suíça. Ao perder seu cargo de ministro, jurou vingança, rodou a baiana. Sua atitude mostra que apesar de sua competência para o cargo (o desgraçado é bom nas finanças!) tem a alma mesquinha. A mesma alma que prega contra nós, estrangeiros neste país.

Magda Hammer (Zürich, Suiça)

domingo, 28 de setembro de 2008

Carta à revista Veja

"Como educadora, historiadora, ex-professora da PUC e da Cátedra Paulo Freire e viúva do maior educador brasileiro PAULO FREIRE -- e um dos maiores de toda a história da humanidade --, quero registrar minha mais profunda indignação e repúdio ao tipo de jornalismo, que, a cada semana a revista VEJA oferece às pessoas ingênuas ou mal intencionadas de nosso país. Não a leio por princípio, mas ouço comentários sobre sua postura danosa através do jornalismo crítico. Não proclama sua opção em favor dos poderosos e endinheirados da direita, mas , camufladamente, age em nome do reacionarismo desta.
Esta vem sendo a constante desta revista desde longa data: enodoar pessoas as quais todos nós brasileiros deveríamos nos orgulhar. Paulo, que dedicou seus 75 anos de vida lutando por um Brasil melhor, mais bonito e mais justo, não é o único alvo deles. Nem esta é a primeira vez que o atacam. Quando da morte de meu marido, em 1997, o obituário da revista em questão não lamentou a sua morte, como fizeram todos os outros órgãos da imprensa escrita, falada e televisiva do mundo, apenas reproduziu parte de críticas anteriores a ele feitas.
A matéria publicada no n. 2074, de 20/08/08, conta, lamentavelmente com o apoio do filósofo Roberto Romano que escreve sobre ética, certamente em favor da ética do mercado, contra a ética da vida criada por Paulo. Esta não é, aliás, sua primeira investida sobre alguém que é conhecido no mundo por sua conduta ética verdadeiramente humanista.
Inadmissivelmente, a matéria é elaborada por duas mulheres, que, certamente para se sentirem e serem parceiras do 'filósofo' e aceitas pelos neoliberais desvirtuam o papel do feminino na sociedade brasileira atual. Com linguagem grosseira, rasteira e irresponsável, elas se filiam à mesma linha de opção política do primeiro, falam em favor da ética do mercado, que tem como premissa miserabilizar os mais pobres e os mais fracos do mundo, embora para desgosto deles, estamos conseguindo, no Brasil, superar esse sonho macabro reacionário.

Superação realizada não só pela política federal de extinção da pobreza, mas , sobretudo pelo trabalho de meu marido – na qual esta política de distribuição da renda se baseou - que demonstrou ao mundo que todos e todas somos sujeitos da história e não apenas objeto dela. Nas 12 páginas, nas quais proliferam um civismo às avessas e a má apreensão da realidade, os participantes e as autoras da matéria dão continuidade às práticas autoritárias, fascistas, retrógradas da cata às bruxas dos anos 50 e da ótica de subversão encontrada em todo ato humanista no nefasto período da Ditadura Militar.
Para satisfazer parte da elite inescrupulosa e de uma classe média brasileira medíocre que tem a Veja como seu 'Norte' e 'Bíblia', esta matéria revela quase tão somente temerem as idéias de um homem humilde, que conheceu a fome dos nordestinos, e que na sua altivez e dignidade restaurou a esperança no Brasil. Apavorada com o que Paulo plantou, com sacrifício e inteligência, a Veja quer torná-lo insignificante e os e as que a fazem vendendo a sua força de trabalho, pensam que podem a qualquer custo, eliminar do espaço escolar o que há de mais importante na educação das crianças, jovens e adultos: o pensar e a formação da cidadania de todas as pessoas de nosso país, independentemente de sua classe social, etnia, gênero, idade ou religião.
Querendo diminuí-lo e ofendê-lo, contraditoriamente a revista Veja nos dá o direito de concluir que os pais, alunos e educadores escutaram a voz de Paulo, a validando e praticando. Portanto, a sociedade brasileira está no caminho certo para a construção da autêntica democracia. Querendo diminuí-lo e ofendê-lo, contraditoriamente a revista Veja nos dá o direito de proclamar que Paulo Freire Vive!

São Paulo, 11 de setembro de 2008
"Ana Maria Araújo Freire"

Destaques do jornalista Pedro Alexandre Sanches
Ilustração de Maringoni, na Agência Carta Maior

quarta-feira, 26 de março de 2008


Gostaria de questionar, não sobre o conteúdo de e-mails que lotam as nossas contas, sempre botando pra baixo o atual governo brasileiro, seja ele qual for, mas questionar o porque pessoas gastam seu tempo em atitudes como esta.

Mas e quem o faz? Quanto recebe? Em reais, em euros ou em dólares? Admiro o ponto criativo, mas qual é a solução?

Que não me levem a mau, nao é uma crítica, como já disse admiro a criatividade, a pesquisa e o estar bem informado, mas gostaria tanto de receber e-mails com projetos sociais ou culturais, e-mails que proponham mudanças num âmbito maior do que as contas gastas pelo governo, pois temos problemas semelhantes também fora do Brasil.

“Allora”, faz um ano que moro na Itália, não voltei mais para o meu país neste tempo. Tenho contato com muitos amigos, familiares que estão lá. Sei que existem dificuldades econômicas, sociais e políticas, como existem no mundo inteiro. Aqui na Itália, por exemplo, também temos problemas de corrupção, problemas de políticos que dormem durante congressos no senado, com a monopolizaçao dos meios de comunicaçao, com a competiçao, com o lixo e a interminável luta pelo poder.
Sendo assim, jamais direi que Italia, Suíça, Bélgica, Holanda ou qualquer país é melhor ou pior que o Brasil, ou seja, os problemas, cada qual na sua lavanderia, devem ser resolvidos de acordo, e neste acordo estão também as pessoas que insistem em criticar os pontos negativos e não gerar soluções. Então, pergunto para estas pessoas que investem o seu tempo e sua criatividade nestes e-mails, o que fazem além disso? Algo de prático para “o seu mundo”. Quero realmente saber! Porque como ja falei, nós aqui na Itália também contamos com inúmeros problemas. E como acredito que a “uniao faz a força”, creio que a união que faz essa força pode ser muito mais forte se é feita para o bem, para ressaltar os pontos bons de um governo, de um país, de uma família.

Portanto vocês, meus caro colegas, que dão o seu precioso tempo a estes tipos de e-mails e ao criadores e pesquisadores bem informados que acreditam que precisam abrir os olhos do mundo para esta sacanagem que rola, compartilhem conosco sobre seu trabalho, suas ações, seus planos com a comunidade, para que possamos juntos construir um mundo melhor, ou vocês acreditam que só porque vivo na Itália não me preocupo mais com a Floresta Amazônica? Nos também respiramos aqui! E acreditamos que cada um pode fazer e dar do seu melhor...


Jaciara Polese – Ferrara, Itália