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quarta-feira, 21 de abril de 2010

Participe desta bela discussão: "Precisa-se de Matéria Prima para construir um País!"

A crença geral anterior era que Collor não servia, bem como Itamar e Fernando Henrique. Agora dizemos que Lula não serve. E o que vier depois de Lula também não servirá para nada. O problema está em nós. Nós como POVO. Nós como matéria prima de um país. Porque pertenço a um país onde a "ESPERTEZA" é a moeda que sempre é valorizada, tanto ou mais do que o dólar. Um país onde ficar rico da noite para o dia é uma virtude mais apreciada do que formar uma família, baseada em valores e respeito aos demais... João Ubaldo
De verdade há uma tendência em rejeitar qualquer presidente que esteja no poder. E isto não é de hoje, isto é histórico. Há quem diga que a maior vantagem do homem é poder mudar de opinião, e isto fazemos com uma rapidez sem igual. E há também quem considere tais mudanças, uma transformação cultural inevitável. É a negação do Brasil! Trabalho este que vem se solidificando a cada século. Thaís Aguiar
Querem desmerecer o Brasil. Cresci ouvindo que o povo brasileiro é mal educado ou iletrado. Parece que o Brasil está tão preocupado em responsabilizá-lo pelas mazelas do país que esquecem de procurar a verdadeira razão Histórica do porquê somos o que somos. O Brasil tem mais anos escravagistas do que republicanos. E quem fundou a república brasileira foram os senhores de engenho contra o poderio dos monarcas. Não foi Tiradentes não. O Brasil tem uma história colonialista, mentalidade colonizadora até quando defende as privatizações a preço de banana e as intervenções do FMI, ou na mentalidade escravagista que divide o país em luta de classes. E sem falar do notório tolhimento de qualquer oportunidade digna aos mais pobres e pretos. Marcelo Madeira



"Precisa-se de Matéria Prima para construir um País!"

"A crença geral anterior era que Collor não servia, bem como Itamar e Fernando Henrique. Agora dizemos que Lula não serve. E o que vier depois de Lula também não servirá para nada.
Por isso estou começando a suspeitar que o problema não está no ladrão corrupto que foi Collor, ou na farsa que é o Lula. O problema está em nós. Nós como POVO.
Nós como matéria prima de um país. Porque pertenço a um país onde a "ESPERTEZA" é a moeda que sempre é valorizada, tanto ou mais do que o dólar. Um país onde ficar rico da noite para o dia é uma virtude mais apreciada do que formar uma família, baseada em valores e respeito aos demais.
Pertenço a um país onde, lamentavelmente, os jornais jamais poderão ser vendidos como em outros países, isto é, pondo umas caixas nas calçadas onde se paga por um só jornal E SE TIRA UM SÓ JORNAL, DEIXANDO OS DEMAIS ONDE ESTÃO.
Pertenço ao país onde as "EMPRESAS PRIVADAS" são papelarias particulares de seus empregados desonestos, que levam para casa, como se fosse correto, folhas de papel, lápis, canetas, clipes e tudo o que possa ser útil para o trabalho dos filhos ...e para eles mesmos.
Pertenço a um país onde a gente se sente o máximo porque conseguiu "puxar" a tevê a cabo do vizinho, onde a gente frauda a declaração de imposto de renda para não pagar ou pagar menos impostos.
Pertenço a um país onde a impontualidade é um hábito. Onde os diretores das empresas não valorizam o capital humano. Onde há pouco interesse pela ecologia, onde as pessoas atiram lixo nas ruas e depois reclamam do governo por não limpar os esgotos. Onde pessoas fazem "gatos" para roubar luz e água e nos queixamos de como esses serviços estão caros.
Onde não existe a cultura pela leitura (exemplo maior nosso atual Presidente, que recentemente falou que é "muito chato ter que ler") e não há consciência nem memória política, histórica nem econômica.
Onde nossos congressistas trabalham dois dias por semana para aprovar projetos e leis que só servem para afundar ao que não tem, encher o saco ao que tem pouco e beneficiar só a alguns.
Pertenço a um país onde as carteiras de motorista e os certificados médicos podem ser "comprados", sem fazer nenhum exame. Um país onde uma pessoa de idade avançada, ou uma mulher com uma criança nos braços, ou um inválido, fica em pé no ônibus, enquanto a pessoa que está sentada finge que dorme para não dar o lugar.
Um país no qual a prioridade de passagem é para o carro e não para o pedestre. Um país onde fazemos um monte de coisa errada, mas nos esbaldamos em criticar nossos governantes.
Quanto mais analiso os defeitos do Fernando Henrique e do Lula, melhor me sinto como pessoa, apesar de que ainda ontem "molhei" a mão de um guarda de trânsito para não ser multado.
Quanto mais digo o quanto o Dirceu é culpado, melhor sou eu como brasileiro , apesar de ainda hoje de manhã passei para trás um cliente através de uma fraude, o que me ajudou a pagar algumas dívidas.
Não. Não. Não. Já basta.
Como "Matéria Prima" de um país, temos muitas coisas boas, mas nos falta muito para sermos os homens e mulheres que nosso país precisa.
Esses efeitos, essa "ESPERTEZA BRASILEIRA" congênita, essa desonestidade em pequena escala, que depois cresce e evolui até converter-se em casos de escândalo, essa falta de qualidade humana, mais do que Collor, Itamar, Fernando Henrique ou Lula, é que é real e honestamente ruim, porque todos eles são brasileiros como nós, ELEITOS POR NÓS.
Nascidos aqui, não em outra parte... Me entristeço. Porque, ainda que Lula renunciasse hoje mesmo, o próximo presidente que o suceder terá que continuar trabalhando com a mesma matéria prima defeituosa que, como povo, somos nós mesmos.
E não poderá fazer nada... Não tenho nenhuma garantia de que alguém o possa fazer melhor, mas enquanto alguém não sinalizar um caminho destinado a erradicar primeiro os vícios que temos como povo, ninguém servirá.
Nem serviu Collor, nem serviu Itamar, não serviu Fernando Henrique, e nem serve Lula, nem servirá o que vier. Qual é a alternativa? Precisamos de mais um ditador, para que nos faça cumprir a lei com a força e por meio do terror? Aqui faz falta outra coisa.
E enquanto essa "outra coisa" não comece a surgir de baixo para cima, ou de cima para baixo, ou do centro para os lados, ou como queiram, seguiremos igualmente condenados, igualmente estancados....igualmente sacaneados!!!
É muito gostoso ser brasileiro. Mas quando essa brasilinidade autóctone começa a ser um empecilho às nossas possibilidades de desenvolvimento como Nação, aí a coisa muda... Não esperemos acender uma vela a todos os Santos, a ver se nos mandam um Messias.
Nós temos que mudar, um novo governador com os mesmos brasileiros não poderá fazer nada. Está muito claro...... Somos nós os que temos que mudar.
Sim, creio que isto encaixa muito bem em tudo o que anda nos acontecendo; desculpamos a mediocridade mediante programas de televisão nefastos e francamente tolerantes com o fracasso.
É a indústria da desculpa e da estupidez. Agora, depois desta mensagem, francamente decidi procurar o responsável, não para castigá-lo, senão para exigir-lhe (sim, exigir-lhe) que melhore seu comportamento e que não se faça de surdo, de desentendido.
Sim, decidi procurar o responsável e ESTOU SEGURO QUE O ENCONTRAREI QUANDO ME OLHAR NO ESPELHO. AÍ ESTÁ. NÃO PRECISO PROCURÁ-LO EM OUTRO LADO.
E você, o que pensa?....
MEDITE!!!"
João Ubaldo Ribeiro

De verdade há uma tendência em rejeitar qualquer presidente que esteja no poder. E isto não é de hoje, isto é histórico.
Há quem diga que a maior vantagem do homem é poder mudar de opinião, e isto fazemos com uma rapidez sem igual. E há também quem considere tais mudanças, uma transformação cultural inevitável.

É a negação do Brasil! Trabalho este que vem se solidificando a cada século.

Este Brasil, citado talvez por "João", é um Brasil observado com olhos "antropológicos", olhos de pesquisa, olhos com determinismo social, olhar típico de quem já viveu fora do país. É traçar um perfil do cidadão elevando seus "desvios de conduta e trangressões morais" (regras impostas por uma igreja fajuta). É como ir na terapia e ter que levar o caderninho das culpas, para serem observadas e trabalhadas.
Se estas forem realmente palavras de João Ubaldo Ribeiro, alguém que teve experiências fora e por isto tem esta visão tão massificadamente estrangeira do próprio país, não precisamos multiplicar estes conceitos que os "gringos" já fazem de nós. Se seguirmos reforçando este país, ao invés de trabalharmos nossas qualidades e exaltarmos nossos potenciais, estaremos SIM reforçando esta idéia de Negação do Brasil!!!

Este Brasil eu reconheço e desconheço! Poderia listar aqui todas as minhas colocações em defesa deste brasileiro que faz o gato para ter luz em casa e se acha o espertão. Mas minha defesa não se faz necessária. Prefiro defender a matéria prima. Esta que nos reflete melhores a cada dia. Esta que desconhece seus direitos de cidadão... Mas estamos em transformação, o mundo está. E precisaremos sim, caminhar ainda léguas e léguas para chegar na matéria prima ideal, que hoje tenho uma concepção deste ideal mas amanhã, me desculpem, já terei mudado de opinião.

Me sinto muito brasileira e orgulhosa, por ter um presidente como o Lula, pois pela primeira vez estamos lidando com uma verdade acima de nós. Uma verdade de carne e osso que foge às teorias e exerce na prática o que é ser um representante desta matéria prima. Pela primeira vez colocamos lá em cima, alguém genuinamente brasileiro que deu um grande passo em 8 anos para exercer essa brasilidade no poder. Não é um embuste, não passamos a falsa imagem de um presidente letrado, intelectualizado que representa esta matéria prima. Os anteriores nunca representaram uma população que fosse além da sua pequena e elitista comunidade. E nos ofendemos agora porque o presidente disse que ler é chato? Nós, parte desta "elitezinha" não nos sentimos representados? Vamos observar como anda a indústria editorial brasileira? Somos um país que lê????

E a verdade é a primeira matéria prima que precisamos saber lidar. Assim, aceitando esta verdade e trabalhando para ela estar sempre presente, para exercê-la costumeiramente, poderemos construir algo mais valioso dentro de nós. Para sermos espelhos e encontrarmos um modelo próprio para uma BELA MATÉRIA PRIMA BEM BRASILEIRA!

Me perdoem, mas eu pertenço a um outro Brasil!
Thaís Aguiar Zeller

Querem desmerecer o Brasil
Cresci ouvindo que o povo brasileiro é mal educado ou iletrado. Parece que o Brasil está tão preocupado em responsabilizá-lo pelas mazelas do país que esquecem de procurar a verdadeira razão Histórica do porquê somos o que somos.
O Brasil tem mais anos escravagistas do que republicanos. E quem fundou a república brasileira foram os senhores de engenho contra o poderio dos monarcas. Não foi Tiradentes não!
O Brasil tem uma história colonialista, mentalidade colonizadora até quando defende as privatizações a preço de banana e as intervenções do FMI, ou na mentalidade escravagista que divide o país em luta de classes. E sem falar do notório tolhimento de qualquer oportunidade digna aos mais pobres e pretos.
Cresci vendo familiares e amigos morrendo ou sendo torturados por lutar contra a ditadura de 64 que muitos ainda chamam de "Revolução". Mas nunca vi a classe dominante do Brasil se pronunciar com tanta vêemencia contra o golpe militar de 64 como eu vejo agora contra o governo Lula.
Porque para a classe dominante deve ser muito difícil mesmo ver a Classe D comprar geladeira, apartamento próprio, carro zero Km e principalmente ver os negros lotando os Shopping Centers. E ainda, o que deve detonar mesmo os republicanos de calça curta é o avanço econômico do Nordeste (é de pirar qualquer elitista).
Um povo maravilhoso nós já temos, porque um povo que sobreviveu à escravidão com toda sua pujança cultural na culinária, na dança, na música, por sinal, respeitadissima no mundo todo. O que queremos agora, nós brasileiros, é uma nova consciência de uma nova elite do país. Sem cana de açúcar, café ou chicote.
Marcelo Madeira


Um comentário:

Noemi Osna disse...

Thaisinha, pessoal, ou quem quer que vá ler....

Gostei muito do texto do Marcelo Madeira. Nossos problemas enquanto Nação vêm de ´"lá de trás" de nossa história enquanto colônia destinada a suprir a metrópole. Uma mentalidade "extrativista" que se mantém hoje, de certo modo, no contexto da divisão nacional do trabalho ditada pelo capitalismo. Então, também é importante nessa mesma lógica que o nível do consumo se expanda e se eleve...

Por outro lado, concordo que ainda impera por aqui a mentalidade "casa grande e senzala" . Sabem o que mais revolta os "senhores de engenho" e respectivos baba-ovos? Quem antes se sujeitava a trabalhar por qualquer prato de comida ou salário de fome (vide, principalmente os estados do Norte e Nordeste) hoje não quer mais, pois tem a Bolsa Família... Para essa gente, "pobre, negro e índio tem mais é que saber o seu lugar"...E que seja, de preferência, a seu serviço....

Outra coisa: no meu tempo de militante há muitos anos, eu achava que tínhamos que mudar a base econômica, para que depois a base ideológica também mudasse e chegássemos a uma sociedade de nova ética e de muita justiça. E o indivíduo se diluia nessa avaliação.

Hoje, ainda concordo que a base econômica tenha que mudar, mas acho que aqueles que estão lutando por essa mudança têm que mudar individualmente também. Concordo plenamente com o João Ubaldo nesse aspecto: cada um de nós tem que se olhar no espelho, sim.

Não adianta fazer um discurso revolucionário ou de mudanças e ser um tremendo FDP em sua própria casa ou nas relações com o próximo. Não adianta esbravejar por ética na política e ceder aos "pequenos" subornos nossos de cada dia, do guarda de trânsito ao amigo bem situado na política que vai arranjar um cabide de emprego para o nosso filho... Ou ficar feliz quando se leva vantagem em um troco dado errado a nosso favor. Só para citar exemplos que me chegam à mente.

Sinceramente, não sei como ou quando isso tudo vai mudar... Sei que, pessoalmente, procuro corrigir algumas dessas distorções em mim mesma. E conversando sobre o assunto com as pessoas de minhas relações.

Minha grande esperança é essa meninada que está chegando com outra mentalidade. Mais engajada socialmente e também com as questões do meio-ambiente - se é que hoje a gente pode separar essas duas questões.

Talvez nem seja a maioria das crianças que vem por aí, mas que tem uma "vanguardinha' mostrando a carinha no pedaço, ah isso tem!

Abração da Noemi