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quarta-feira, 6 de maio de 2009

Uma sem-teto brasileira na Suíça

Como contraste ao luxo do último post, publiquei hoje uma pequena reportagem que fiz com uma simpática jovem brasileira, ex-moradora de rua e atualmente coordenadora do Movimento dos Sem Teto do Centro (MSTC). Acho que vale a pena falar sobre o tema.
Ivaneti de Araújo havia sido convidada pela ONG Anistia Internacional para falar a um público europeu sobre um problema crescente e muito grave no Brasil: o déficit habitacional e o número crescente de desabrigados vivendo nas ruas das grandes capitais do país. Suas palavras emocionaram muitas pessoas, assim como as imagens tiradas por fotógrafos de alguns prédios ocupados em São Paulo.
Por coincidência, assisti há algumas semanas um fantástico documentário no canal de TV franco-alemão ARTE sobre uma biblioteca que havia sido criada na ocupação da Prestes Maia por um catador de papel. Os livros eram encontrados por ele no lixo. Os usuários eram os ocupantes, pessoas de todas as idades que viviam em condições subumanas em mais um desses “balança-mas-não-cai” da maior metrópole do país.
Pessoalmente também acho crítico qualquer espécie de confisco da propriedade privada, porém a Ivaneti de Araújo abriu meus olhos para uma verdade: os prédios e casa abandonados (o que aconteceu com o Castelinho no Rio de Janeiro?) ganham vida com a ocupação. Ao invés de ratos, pombos e desocupados, esses espaços passam a ter famílias inteiras, com muitas crianças. Corredores escuros viram playground. Cozinhas abandonadas passam a ser salão comunitário. E um quarto vazio, passa a ter histórias.
Aqui na Europa já visitei várias casas ocupadas. A mais impressionante surgiu em Berlim nos anos 90, a de um antigo shopping center tomado por anarquistas e artistas. O resultado: um dos centros culturais mais produtivos já surgidos na capital alemã. Na época fiz uma reportagem para o Jornal do Brasil. Em Berna, um antigo estábulo abandonado foi “confiscado” nos anos 80 por jovens esquerdistas. Hoje a Reitschule tem teatro, cinema, restaurante ecológico e até espaço para concertos. Cheguei a ver o grupo alemão Kraftwerk por lá. Será que poderíamos ter o mesmo no Brasil?
Foto: Prédio ocupado no bairro da Luz, São Paulo. Flickr/Oco Sapiens
Alexander Thoele para Swissinfo
Conheça mais sobre o trabalho do jornalista Alexander Thoele

Um comentário:

Anônimo disse...

Olá a todas

Estou gostando muito do blog. Moro em Zurique e o tipo de conteúdo que vcs publicam faz com que a gente não perca o contato com o que há de bom no Brasil. Sobre a ocupação da Prestes Maia, estive lá em 2008 com um amigo fotógrafo, tive a oportunidade de ver tudo de perto e conversar com o catador que criou a biblioteca (infelizmente não me lembro seu nome), uma experiência incrível. Nunca imaginei que isso tudo tinha virado documentário e sido transmitido aqui.
Um grande abraço,
Arlete