A Revista Íntegra, após cinco anos de publicações, chega ao fim.
Convidamos você a conferir esta última edição. Saiba mais...

sábado, 27 de junho de 2009

"o rei do pop"

E lá se foi uma das figuras mais polêmicas do século XX - Michael Jackson, dito "o rei do pop". Desde sempre diferente em tudo: a tenra idade no início da carreira, sua voz sempre infantil, seu estilo, seus inusitados passos e movimentos de dança, suas esquisitices, seus escândalos, conseguindo sempre chamar a atenção do mundo inteiro, provocando sentimentos de amor e ódio - e histeria - planeta afora. Insatisfeito com sua própria aparência e história, resolvido a mudar sua vida, (talvez mesmo sem saber direito pra onde), foi pessoa de grandes ações e gestos, éticos e antiéticos, pessoa discutível, incrível mas inegavelmente criativo, surpreendente sempre ... os julgamentos, deixo para os críticos de plantão.Inesquecíveis ficarão seus vídeoclips, que causaram verdadeira revolução na forma de veicular músicas e de registrar cinematograficamente performances de cantores e instrumentistas - black and white foi para mim o mais marcante. Podem falar tudo que quiserem, criticá-lo, adorá-lo, execrá-lo, mas não poderão negar que, hoje, o mundo perdeu um grande artista.
Miriam Vizentini (Baden, Suíça)


sexta-feira, 26 de junho de 2009

Ora, vá!

Moro em uma rua central. Fazia dias que o gari não aparecia para varrer a calçada. Cansada de esperar e enojada com aquela sujeira toda, decidi eu mesma varrer. Um conhecido passou e me falou que eu estava certa, pois estava exercendo o meu direito de cidadania!

Pouco depois um garoto parou e, me encarando, pediu uma moeda e eu o mandei à merda! Puxa, ele levou um susto muito grande, pois uma senhora idosa não deveria usar estas palavras. E, então continuei: Se você tivesse se oferecido para varrer, me ajudar, eu daria um bom café e mais uma moeda. Mas como você só quer uma moeda, então digo novamente, vá à merda!

Tempos depois, ao atravessar a rua (é, aqui no centro mesmo), percebi um homem caído na calçada. Preocupada, me aproximei, outras duas mulheres também chegaram, fizemos uma rodinha, uma delas entrou na farmácia, logo ali, para pedir ajuda. Um balconista se aproximou, conseguiu acordar o homem desmaiado, que sussurrou alguma coisa. O rapaz se afastou sem dizer nada. Pedi ajuda a um passante que também escutou os sussurros, e me falou que era FOME! Voltei nos passos, entrei no pequeno restaurante e pedi um prato de comida. Outra pessoa ajudou-o a sentar e, entregando o prato com a comida quente, me afastei em seguida, enquanto ele comia afobado.

Margarita Wasserman - escritora e membro do Instituto Histórico e Geográfico do PR.
Foto de Fabio Zanin

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Um spa exclusivo, Revista Piauí

Habitué que se preza não vai a Punta del Este, vai a Punta. Não visita amigos numa ilha em Angra dos Reis, mas em Angra. Dá uma relaxada no spa do Costão, jamais no Costão do Santinho. A intimidade dos famosos com refúgios badalados parece exigir tratamento no diminutivo - nomes por extenso são coisas de turismo de massa. Assim, quando a beldade venezuelana Dayana Mendoza, atual Miss Universo, desembarcou na baía de Guantánamo, em Cuba, logo tratou de chamar aquele enclave ensolarado do Caribe pela sua abreviatura pronunciável, Gitmo. O termo é uma corruptela da sigla militar (gtmo) que designa a base naval dos Estados Unidos fincada nas barbas da ilha comunista de Fidel Castro.
Dayana e Gitmo: parece terem sido feitos um para o outro. Pelo menos é o que se deduz dos posts com que a coroada de 22 anos brindou os leitores de seu blog:
Guantánamo, Cuba!!! Uáaau, minha profissão é fantástica!!!! Foi uma experiência incrível. Crystle [Crystle Stewart, a Miss Estados Unidos 2008] e eu chegamos na sexta-feira e logo fomos dar uma volta. Todos ali pareciam saber da nossa chegada. Como primeira atividade participamos de um almoço de boas-vindas. Em seguida, visitamos um dos bares da base militar. Batemos ótimos papos sobre a experiência de viver em Gitmo. [...]
Também tivemos direito a uma demonstração das incríveis habilidades dos cães militares. Todo o pessoal foi simplesmente bárbaro conosco. Visitamos os campos dos prisioneiros, vimos as celas, os locais dos banhos, os espaços de recreação, com salas de cinema, aulas de arte, livros. Tudo muito interessante. Os fuzileiros navais nos deram uma aula sobre a história do lugar, e pudemos ir até a linha divisória entre Gitmo e Cuba.

E a água de Guantánamo! Tããão incrível. Fomos até a Playa Cristal, onde aprendi que o nome vem de minúsculos cristais acumulados na areia ao longo de séculos. É lindo ver todas aquelas cores brilhando ao sol.

Por mim, eu não partiria jamais de Gitmo. Tudo tão relaxante, tão calmo, tão lindo! Que viagem memorável, deliciosa!

É uma lástima, senão uma brutalidade, que os responsáveis pela Organização Miss Universo tenham retirado do ar o diário de viagem encerrado em 27 de março passado. No seu lugar foi inserido um comunicado um tanto seco da presidente da entidade que, em 2009, organizará a 53ª edição do concurso: "Os comentários feitos por Dayana Mendoza em seu blog referiam-se à hospitalidade com que foi recebida pelos membros das Forças Armadas dos Estados Unidos e suas famílias aquarteladas em Guantánamo", informou Paula Shugart.

Isto é, Dayana não se referia ao campo de detenção ali instalado desde 2002, e que se tornou o foco irradiador da política de tortura autorizada pelo governo George W. Bush em sua guerra contra o terror. Nada que evocasse o devastador relatório de 41 páginas da Cruz Vermelha Internacional, tornado público no início de abril, e que aponta os abusos pelos quais Guantánamo passou a se notabilizar. A Miss Universo tampouco cruzou com os 240 prisioneiros que permanecem encarcerados em Gitmo. Não teve a oportunidade, portanto, de ser apresentada a dois dos estrategistas do 11 de Setembro, o saudita Abu Zubaydah, submetido a 83 sessões de simulação de afogamento, nem ao kuwaitiano Khalid Sheikh Mohammed, torturado 183 vezes só em março de 2003, segundo o mesmo relatório.

O convite para passar cinco dias de março em Guantánamo chegou a Dayana através da United Service Organization, uso, entidade criada durante a Segunda Guerra Mundial para prover apoio recreativo e moral às Forças Armadas americanas espalhadas mundo afora. Hoje, a missão de entretenimento à soldadesca faz parte da agenda politicamente correta de toda Miss Universo. No passado, foi Hollywood que aderiu em peso ao chamado cívico para cruzar meio mundo e injetar calor humano às tropas em guerra. Uma lista completa das mais de 208 mil (sim, 208 mil) visitas organizadas entre 1941 e 1945 inclui os nomes mais estelares do showbiz americano. De Marlene Dietrich a Bob Hope, de Judy Garland e Lauren Bacall a Fred Astaire, de Humphrey Bogart, Glenn Miller e Frank Sinatra - ninguém ousaria faltar. Na Guerra da Coréia dos anos 50 foi a vez de Marilyn Monroe, Debbie Reynolds, Errol Flynn, Jane Russell e Bob Hope (sempre ele) vestirem o uniforme. Mesmo durante um conflito que rachou a nação americana nos anos 60 e 70, como a Guerra do Vietnã, a uso conseguiu organizar mais de 5 mil apresentações de artistas. Pelas terras do sudeste asiático deram o ar de sua graça Sammy Davis Jr., Ann-Margret, John Wayne e, como não, Bob Hope.

Para a atual embrulhada militar erguida sobre os escombros do atentado às Torres Gêmeas, o escrete tem sido mais esquálido. Lance Armstrong, o herói das pedaladas, foi despachado para o Catar, Afeganistão e Quirguistão. No Kuwait, coube a Scarlett Johansson iluminar, com sua tez de pêssego e boca carnuda, os rostos da soldadesca aquartelada no deserto.

Mas é a passagem-relâmpago da venezuelana Dayana Mendoza por Guantánamo que consolidou a despedida daquela base como centro de detenção e de tortura. Barack Obama, ao assumir a Presidência em janeiro deste ano, decretou que em doze meses não haveria mais detentos na base militar. Os cinco dias de Dayana bastaram para revelar a vocação do local para "ilha da fantasia".

Infelizmente, por ter tido o seu blog cruelmente abortado, a Miss Universo não pôde se estender sobre tudo o que a cativou em Gitmo. Mas poderá transformar suas observações em livro, futuramente. Talvez assim:

A interação com os animais é realmente um dos pontos fortes dos resorts da cadeia Bush, Cheney & Rumsfeld. Quando a gente menos espera, surge um cachorro não se sabe de onde. Ouvi dizer que num dos spas mais exóticos, o de Abu Ghraib, eles chegam a brincar de corre-corre com hóspedes vip. Para tornar tudo ainda mais divertido, vez por outra os animadores põem vendas em alguns deles - quer dizer, nos hóspedes, não nos cachorros... - e aí é um susto só!

Agora, se você é desses que gostam de tirar foto de celebridades, esse lugar não é para você. Fiquei impactada com o grau de privacidade que esse resort oferece aos famosos. Durante meus cinco dias de relaxamento em Gitmo, as celebridades mega-ultra-vips recarregavam suas baterias num espaço completamente isolado. No máximo, a gente ouvia um ou outro grito do personal deles. Um luxo.

Boa parte dos hóspedes de Gitmo foi trazida de muito longe, em jatos fretados, cortesia da casa. A frequência, aliás, é das mais cosmopolitas que já encontrei - conheci gente de pelo menos 26 países! Sério: em que outro lugar você vai conhecer um rapaz do Iêmen, do Afeganistão e - olha só! - até do Djibuti?!! Sim, tem um país chamado Djibuti!

Para driblar a tensão das nossas agendas, ainda na semana passada, tive de prestigiar a abertura do pregão da Nasdaq, compareci à corrida de Fórmula 1 na Malásia, aprendi o que é Twitter e participei de dois desfiles em Miami - o serviço em Gitmo é all-inclusive, ou seja, já está tudo pago. Das refeições light (o lugar é divino para emagrecer) aos roupões chiquésimos, laranja-vivace, da grife Frette, nada falta. Agora que conheci, pretendo voltar sempre. Ouvi dizer que eles têm um curso bárbaro de apnéia! Tábua-de-água, ou algo assim! Quero fazer, pra pode mergulhar no Djibuti!
Dorrit Harazim para Revista Piauí - maio 2009

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Ser Jovem na França - Mostra da Caixa em SP

Fotógrafos franceses retratam os jovens de seu país em exposição na Sé.

A CAIXA Cultural promove a exposição Ser Jovem na França, de 20 de junho a 26 de junho. A mostra reúne obras dos consagrados fotógrafos Martin Parr, Marie-Paule Nègre e Marc Riboud que retratam a maneira de viver da juventude francesa atual. A exposição, parte do calendário do Ano da França no Brasil, já foi exposta no Rio de Janeiro e, após a temporada em São Paulo, segue para Brasília.
Com curadoria do fotógrafo brasileiro Milton Guran, a exposição apresenta 109 obras de 28 fotógrafos que fazem parte do acervo do Fundo Nacional de Arte Contemporânea da França. Originalmente chamado de "Le Plus Bel Âge", este conjunto de obras tive origem em uma das maiores encomendas públicas do gênero, sob a coordenação de Agnès de Gouvion Saint-Cyr, do Ministério da Cultura francês.
Ser Jovem na França - De 20 de junho a 26 de julho
CAIXA Cultural - Praça da Sé, 111 Terça a domingo, das 9h às 21h
Informações pelo telefone 11/ 3321-4400 ou pelo site da CAIXA
Entrada franca

Blogs fazem pessoas escreverem mais e pior, diz Saramago

O escritor português José Saramago, que está prestes a publicar um livro com os artigos que escreveu em seu blog, diz acreditar que com o crescimento desse tipo de espaço na internet "está se escrevendo mais, embora pior". "A prática do blog levou muitas pessoas que antes pouco ou nada escreviam a escrever. Pena que muitas delas pensem que não vale a pena se preocupar com a qualidade do que se escreve", disse Saramago em entrevista publicada hoje pelo jornal argentino "Clarín".
"Cuido de um post como de um romance", afirma o escritor português José Saramago
O escritor português reuniu os artigos publicados durante os seis primeiros meses de sua atividade como blogueiro em "Caderno de Saramago", um livro vetado na Itália por Silvio Berlusconi e que reflete o espírito crítico de seu autor.

"Pessoalmente cuido tanto do texto de um blog como de uma página de romance", disse o Nobel português, de 86 anos e que apresentará o livro em um encontro com blogueiros aberto a internautas de todo o mundo, no próximo dia 25, em Lisboa.
Quanto a seu blog (http://caderno.josesaramago.org/), o escritor disse que não destina ao espaço "nenhuma ideia em particular", para depois expressar que "os sismógrafos não escolhem os terremotos, reagem aos que vão ocorrendo, e o blog é isso, um sismógrafo".
"Aqueles que me leem sabem que podem encontrar-se a cada dia diante de algo totalmente inesperado", reforçou Saramago, que respondeu às perguntas do diário argentino por e-mail da Espanha, onde mora.
O autor de "O Evangelho segundo Jesus Cristo" também sustentou que não teve de lidar com a situação de criar textos que tivesse medo de publicar, e avaliou que "se o blog é um espaço para a reflexão, não deve surpreender que ilumine aquele que o escreve".
da Efe, em Buenos Aires para Folha de são Paulo

O melhor Latte Machiatto de Zurique

Ai machiatto, eu vejo uma eterna promessa de felicidade em ti! Tua espuma com cara de chantilly me faz lembrar as gulosises da infância. O leite quentinho aconchega e quando se encontra com aquela faixa escurinha de café prova que a miscigenação é beleza pura.
Você pode achar que eu estou viajando, mas tenho certeza que muitas mulheres concordam comigo. Aliás, é comprovado que a maioria das mulheres toma Latte Machiatto quando vai a um café.

Em busca do perfeito pingado, o jornal Tagesanzeiger contratou dois baristas conceituados de Zurique: Kurt Bauer e Armin Luginbühl. Eles tiveram a árdua tarefa de degustar Latte Machiattos em seis cafés diferentes no centro da cidade e classificá-los.
A reportagem é do dia 27 de maio de 2009. A classificação foi a seguinte:


Schwarzenbach, Münstergasse 17, 5.40 francos, 87 pontos
Belcafé, Bellevue, 5.70 francos, 77 pontos
La Stanza, Bleicherweg10, 5 francos, 76 pontos
Sprüngli, Pareplatz, 7.00 francos, 69 pontos
Infinito, Sihlstrasse 20, 5.80 francos, 51 pontos
Schober, Napfgasse 4, 6.80 francos, 49 pontos

Além da temperatura, sabor e qualidade do café foram avaliados o serviço do local e a aparência da bebida.
Bom, eu conheço a maioria dos locais acima e concordo com o que li na reportagem. Nela é dito, por exemplo, que o machiatto do Infinito tem muito leite e que o da Sprüngli também, mas é coisa linda. No Schober eu nunca provei, pois quando vou lá é para exagerar nos doces e não no café: peço espresso com adoçante ao lado de uma imensa torta de chocolate. Ridículo, não? Mas qual mulher nunca fez isso? Os especialistas dissseram que o machiatto lá deixa um gosto de pelica na boca.

Adoro o ambiente do Schwarzenbach, com sua cara e cheiro de espresso, sofisticadíssimo.
E por essa razao acabo ficando no cafezinho quando passo por ali. Acredito que o machiatto deles deve ser muito bom, mas acho um pecado misturar qualquer coisa no café naquele lugar totalmente especializado em grãos de café. Evito até o açúcar.

A reportagem não citou o Starbucks, pioneiro e especialista em misturar café com todos tipos de leite, cremes e sabores. Apesar do copo ser imenso, o machiatto deles é uma delícia e você pode criar o seu "drink" do jeito que quiser. Fora isso, meu Chris, que também entende de café, continua defendendo "o pingado chique" da rede americana como o melhor do gênero: pela qualidade do café, temperatura do leite e a consistência da espuma.

Então, alguém aceita um cafezinho? Ou melhor, um cafezão...


Magda Hammer (Zurique, Suíça)

quinta-feira, 18 de junho de 2009

quinta-feira, 11 de junho de 2009

Okuribito, Departures

Assisti esta semana Okuribito (Departures), filme japonês ganhador do Oscar de melhor filme estrangeiro deste ano, e não poderia deixar de recomendá-lo na Íntegra. Na história, o violoncelista Daigo Kobayashi, que perde seu emprego numa orquesta sinfônica de Tóquio, resolve desistir da vida de músico e voltar com a mulher para sua terra natal no interior do Japão. Na cidade, encontra no jornal o anúncio de um emprego muito bem pago, entitulado "Departures". Pensando em se tratar de uma agência de viagens, Kobayashi se candidata à vaga. Para seu espanto, na entrevista ele descobre que a agência NK é na verdade uma agência funerária que necessita de um "Nokanshi" ou "encoffiner", profissional do cerimonial japonês que prepara os mortos para o funeral, partida ("departure") e entrada na próxima vida. O filme gira em torno da morte e do elaborado ritual japonês de preparação, limpeza e apresentação de cadáveres que envolve alta precisão, delicadez, graça e máximo respeito pelos mortos e suas famílias.

Colocando em palavras a idéia parece muito estranha, quase macabra, é preciso assistir para entender a poesia, emoção e beleza deste filme. Comovente, sem ser apelativo ou piegas. Profundo, sensível e humano, nos leva a uma viajem sem precedentes à cultura japonesa. Para mim o grande mérito de Okuribito é a simplicidade. Não há nada de grandioso ali, a fotografia não é monumental, nada da beleza colorida dos filmes asiáticos, a música não é originalissima, Beethoven e Bach nas suas mais tradicionais sinfonias. Mas no todo o filme funciona, exatamente como uma perfeita sinfonia. Prova de que não é preciso recursos milionários, grandes produções ou alta tecnologia para se construir uma grande obra cinematográfica.

Imperdível! Sua forma de pensar sobre a morte não será mais a mesma!

Cristina Pereira (Zurique, Suíça)

A bela obra de Rodrigo Leão, Thaís Aguiar

É um enorme prazer apresentar Rodrigo Leão na revista íntegra. Conheci o trabalho deste músico há muito tempo, quando ele ainda fazia parte e era um dos principais compositores do belíssimo Madredeus, o grupo musical português de maior projeção mundial. Depois, em carreira solo, me deparei inúmeras vezes com seus álbuns na Rádio Educativa em Curitiba, na edição do programa "Cantos de Portugal" que apresentava pérolas deste país. Confesso que depois disso não tive mais muita intimidade com sua obra, apesar de referenciar sempre seu nome à música de qualidade.
Quando se fala em música portuguesa lembramos de poucos nomes como o de Mariza, Dulce Pontes, Amália Rodrigues, algumas referências folclóricas. E temos o especialíssimo Madredeus, que com a voz de Teresa Salgueiro, nos apresentou um país diferenciado dos clichês que todo país carrega. Portugal então nos pareceu no campo das artes rico, produtivo, refinado e com uma profundidade que fez com que, no fim da década de 80, passássemos a nos orgulhar dessas origens em nosso miscigenado país. Até o cultuado diretor Wim Wenders se rendeu as suas artes e produziu o filme "Lisbon Story", onde eterniza o grupo Madredeus num costumeiro encontro de músicos no bairro da Alfama.
Em 1985, Rodrigo, Pedro Ayres Magalhães e Gabriel Gomes criaram o Madredeus. Em 1994, Rodrigo deixou o grupo para dar sequência a carreira solo que já dava bons frutos. Desde esta data, segundo a mídia especializada, a obra de Rodrigo tem surpreendido a cada lançamento. Em 2004, por exemplo, lançou o álbum "Cinema", considerado pela conceituada revista Billboard um dos melhores discos do ano. Neste trabalho participaram Beth Gibbons (conhecida como vocalista da banda Portishead) e Ryuichi Sakamoto (figura de destaque na área, muito também por trilhas sonoras de importantes filmes).
Rodrigo Leão é um artista que vale conhecer e se render as suas sensíveis e ricas composições que estimulam o nosso imaginário!


rodrigo leão - voltar
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sábado, 6 de junho de 2009

"Para além de livros, planos e provas", Miriam Vizentini

Sinceramente, diz aí: o que você pensa de um professor ? Qual é o papel que ele deve desempenhar em sala de aula? Fora dela? E o que você espera da escola? Qual o real valor dessas “entidades”? Não, não estou pedindo as imagens idealizadas, as “expectativas de um mundo melhor nas mãos da escola” e sim as vivências, a experiência real.
Vamos lá, não é difícil, não ! Deixe aflorar suas certezas e dúvidas, mágoas, agradecimentos, frustrações, saudades, boas recordações, traumas...
Como professora, ultimamente, tenho feito essa pergunta a mim mesma também - e agora convido você a pensar ... vamos lá !
(... tempo para pensar na sua história ...)
Agora, acrescente à sua reflexão a seguinte situação: este professor tem em sua sala de aula, nos subúrbios de uma grande cidade, alunos provenientes de diferentes classes sociais.
Coloque mais um elemento, por favor: esses jovens têm origens diversas, culturalmente falando – idioma, costumes, valores, religião, crenças - além de suas diferentes expectativas em relação à escola, incluindo medos, dúvidas, indiferença, raiva, desinteresse, descrença ...
Ah sim, tudo isso na ebulição da adolescência, com seus questionamentos sobre tudo, sua indisciplina, seus problemas de aprendizagem ...
Depois dessa reflexão, assista ao filme: La classe – entre les murs (The class / Entre os muros da escola - Palma de Ouro no Festival de Cannes 2008). Digo depois de refletir porque, assim, o efeito será bem mais interessante.
Não se trata exatamente de um documentário, mas também não deixa de sê-lo parcialmente, uma vez que os atores representam a si mesmos, neste trabalho do diretor francês Laurent Cantet, baseado no livro “semiautobiográfico” do professor François Bégaudeau – que além de representar François Marin, o professor, colabora no roteiro ao lado de Cantent e de Robin Campillo.
O professor da tela aparece bem intencionado, mas completamente perdido. Seu bem-estruturado programa a ser cumprido, seus pressupostos educacionais arraigados, suas expectativas quanto a seu papel vão caindo por terra e assistimos a um desmoronar de mitos. O que para ele é diálogo aberto, para os alunos cheira a obrigação. Ele oscila, sem limites, entre o ser compreensivo e autoritário. As informações, o conhecimento por ele considerado como “essencial” é algo quase hermético ao entendimento dos jovens - ironicamente estão numa classe de língua e literatura francesa, onde o idioma está longe de ser o elemento facilitador da comunicação, mas passa a ser o ponto de discórdia e distanciamento, entre os dois lados de um verdadeiro front.
E seguimos as reuniões de professores perplexos diante de situações incômodas e problemas com seus alunos, as discussões sem encontrar saídas para os problemas apresentados, seus conflitos e frustrações, sua escancarada condição de humanidade (caem quaisquer possíveis posições de “endeusamento”). Seguem-se também alguns acontecimentos envolvendo pais quase inatingíveis, enfim, tudo o que se pode observar, em maior ou menor intensidade, nas escolas do nosso mundo “globalizado”, a mesma problemática, esteja a classe na periferia de Paris, Zurique, Nova York, Roma, ou no eixo Rio-São Paulo.
Saímos do cinema com a certeza de que a escola, nos moldes como está estruturada, de certa forma agoniza, despe-se de suas certezas.
E é aí que reside o melhor do filme – e o diferencia de filmes já realizados envolvendo este mesmo tema (“professor x classe difícil”): na tomada de consciência da dificuldade de lidar com todas essas diferenças dentro da escola. Fica clara a atual incapacidade de professores - e pais - de gerenciar tantas variáveis. Nitidamente vê-se que é preciso reformular o que se acredita ser o trabalho educacional, os regulamentos, a organização, os pressupostos teóricos, enfim repensar a escola para a nova realidade – e fazê-la ir além dos livros, programas e provas.
O desafio de trabalhar com crianças e jovens em classes ditas multiculturais e de periferia é imenso. Tenho acompanhado de perto a batalha diária de vários bem-intencionados professores suíços de Zurique, na busca de levar suas turmas a se harmonizar aos moldes vigentes e percebo como muitas vezes sentem-se desorientados. Tenta-se aliviar algumas tensões ao buscar os professores de língua e cultura materna como mediadores culturais, para explicar aos alunos as regras da escola e o que se espera deles, para esclarecer as possíveis diferenças de ensino e nomenclatura (por exemplo, na matemática), orientar os pais que não dominam o idioma a entender as expectativas da escola quanto ao papel dos pais e vice-versa, procurando dar um pouco mais de segurança nos primeiros meses de escola a aluno, professor e pais. Despende-se muita energia para algum resultado, muitas vezes, não se evita a frustração de todos – mas já é um começo.

"Migração Feminina na Suíça", Cristina Pereira

Pesquisa do Instituto de Geografia da Universidade de Berna analisa e discute a temática da imigração feminina na Suíça. Nas últimas décadas a Suíça tem registrado um grande aumento no número de imigrantes mulheres, particularmente de países de fora da comunidade Européia. Este não é um fenômeno restrito à Suíça ou a países da Comunidade Européia, mas uma tendência observada mundialmente. Hoje em dia as mulheres constituem a maior parte dos imigrantes que entram na Suíça.
Infelizmente, a opinião pública e política sobre estas mulheres é ainda bastante negativa. Elas são vistas como não educadas, indivíduos para os quais a migração é o único meio de melhorar sua condição de vida e de sua famílias, como vítimas de exploração e pobremente integradas.
O projeto de pesquisa liderado por Dra. Yvonne Riaño e Prof. Doris Wastl-Walter e financiado pelo Swiss National Foundation através de um NFP 51 (Nationales Forschungsprogramm-Integration und Ausschluss) com orçamento de mais de 300.000 francos, busca chamar a atenção para a inadequação destas generalizações e das políticas de imigração que elas geram. O estudo quer trazer à tona a idéia que imigrantes mulheres são diversas em termos dos seus países de origem, nível educacional, seu padrão de vida no país de origem, religião, background rural ou urbano, razões para e experiências com a migração e os direitos que apresentam na Suíça de acordo com seu status de residência e nacionalidade.

Um dos focos principais do estudo são os processos de migração, integração e exclusão social de imigrantes qualificadas, raramente consideradas em estudos sociais anteriores, que geralmente dão mais atenção às imigrantes não qualificadas, oriundas de condições econômicas e sociais precárias. A pesquisa inclui mulheres Latino-Americanas e do Oriente Médio, de religião Cristã e Muçulmana, consideradas qualificadas (com educação secundária completa) e altamente qualificadas (com educação superior completa).
Os resultados mostram que, ainda que estas mulheres tenham nível educacional muito bom, freqüentemente com experiência profissional anterior à migração, e que dominem a nova língua, somente uma minoria é capaz de obter emprego de acordo com as suas qualificações na Suíça.

Um terço das imigrantes qualificadas não se encontram integradas no mercado de trabalho a outra metade tem status de trabalho precário, ou porque trabalham em posições abaixo do seu nível de qualificação ou porque tem empregos instáveis e sem perspectivas de longo prazo. Portanto, o estudo conclui que para muitas imigrantes qualificadas a migração não resulta em uma melhoria, mas ao contrário numa perda de status de classe. A situação se apresenta como um paradoxo: enquanto os países de origem perdem recursos humanos valiosos com a saída destas mulheres, a Suíça falha em fornecer um framework adequado para o desenvolvimento deste novo capital social, cultural e econômico.
Outro resultado interessante do estudo revela que as imigrantes não aceitam passivamente as condições desfavoráveis que encontram na Suíça. Elas mobilizam seus recursos pessoais para facilitar seu acesso ou para melhorar suas chances de participar do mercado de trabalho. As estratégias e respostas ao desafio na participação no mercado de trabalho incluem requalificação, tomada de empregos abaixo do seu nível de qualificação, criação de novos networks e realização de trabalho voluntário não remunerado em organizações sociais e políticas.

Participar de atividades voluntárias é de grande importância para a mulher imigrante. Por um lado é um meio de realizar uma atividade além do papel de dona de casa imposto pela sociedade. Por outro, as atividades voluntárias são um meio de usar suas qualificações profissionais assim como às vezes funcionam como um degrau para o trabalho profissional remunerado.
Mulheres qualificadas tem o desenvolvimento profissional como um de seus principais objetivos e de importância central para a sua identidade pessoal. Imigrar para a Suíça, entretanto, implica para muitas delas um confronto com novas regras, normas e valores quanto ao papel dos sexos e ao valor do trabalho da mulher.
Ter filhos e confrontar as novas normas considerando a maternidade causa conflitos pessoais e compele muitas mulheres a transformar-se, adaptar-se ou lutar para manter seu nível de atividade profissional pré-imigração.
O estudo aponta para conceitos discriminatórios embebidos tanto nas leis de imigração na Suíça, quanto na mentalidade dos empregadores. Em particular a subvalorização das qualificações pessoas e educacionais das imigrantes não-Européias, e atitudes patriarcais da sociedade quanto ao seu papel na criação dos filhos. Estes fatores combinam-se para produzir oportunidades desiguais de acesso ao mercado de trabalho. Imigrantes qualificadas não enfrentam apenas barreiras em aplicar seus recursos educacionais na sociedade Suíça, mas também são confrontadas com a desvalorização de seu trabalho e experiência, perda de confiança e de autonomia.
As pesquisadoras concluem que se a Suíça quiser se beneficiar do capital social e cultural que as imigrantes qualificadas trazem ao país, é necessário reconhecer que a qualificação não é uma garantia automática para a integração sócio-econômica, sendo necessário o desenvolvimento de programas que suportem a transferência e a re-acreditação deste capital. Estes programas têm que necessariamente levar em consideração fatores específicos como sexo e etnia que dificultam o acesso de imigrantes qualificadas ao mercado de trabalho.
Para saber mais sobre este trabalho interessantíssimo, e que muito nos diz respeito, visite o site das pesquisadoras na Universidade de Berna:
http://www.giub.unibe.ch/sg/immigrantwomen
ou leia o artigo : Understanding the Labour Market Participation of Skilled Immigrant Women in Switzerland: The Interplay of Class, Ethnicity and Gender. Journal of International Migration and Integration, vol 8, 2, pp 163-183 - que pode ser acessado em pdf através do site:
http://www.springerlink.com/content/y42r088803q1g0hu/
Cristina Pereira (Zurique, Suíça)

Ciao Itália, Andréa Cocchiarale

Moro perto da Itália (3 horas de carro, 45 minutos de avião), mas, até a semana passada, eu só havia visitado uma cidade italiana: Milão.
Neste ano, aproveitei o feriadão da semana santa para conhecer um pouco mais deste país adorado pelos brasileiros. Meu destino foi Perúgia, capital da Úmbria, localizada na região central da Itália, fronteira com a Toscana (capital Florença) a oeste, Marche (capital Ancona) a leste e Lácio (capital Roma) ao Sul.
Antes de embarcar, pesquisei um pouco sobre a cidade e a região e descobri que estava prestes a entrar em uma máquina do tempo, uma vez que os primeiros dados sobre a cidade datam de 310 a.C.
Perúgia foi uma das cidades pertencentes à Etrúria, região formada por doze cidades civilizadas que tiveram grande influência sobre os romanos. Os Etruscos (nome dado aos habitantes que se instalaram nesta região entre os anos 1200 e 700 a.C.) podem ter sido originários da Ásia Menor assim como da própria Itália e sua língua utilizava um alfabeto similar ao grego.
A cidade até hoje conserva uma grande quantidade de antiguidades, dentre as quais suas muralhas medievais, portas de proteção, sepulturas, inscrições etruscas e latinas. O mais interessante foi andar em uma cidade subterrânea sem janelas e quase nenhuma iluminação natural. Fiquei imaginando como deve ter sido viver em um grande buraco debaixo da terra com somente algumas portas de acesso ao mundo exterior... Impressionante!
A cidade também se destaca por suas duas universidades: a Universidade de Perúgia (Università degli Studi di Perúgia), fundada no século XIV, e a Universidade para estrangeiros (Università per Stranieri di Perúgia), fundada em 1921, com o objetivo de promover a região da Úmbria — bem como sua história e cultura — para o mundo.
Agroturismo em Perúgia:
Muito popular na Itália, o agroturismo é uma modalidade de turismo rural oferecido por agricultores. Estes oferecem serviços de hospitalidade para habitantes de centros urbanos e ao mesmo tempo promovem e valorizam a cultura local. Grande parte dos pequenos hotéis, pousadas e apartamentos de temporada são construídos em propriedade privada e administrados pelas famílias dos agricultores. Esta é uma excelente opção de acomodação, uma vez que é possível visitar cidades como Assisi (25 km), Florença (151 km) e até mesmo Roma (183 km) e ao mesmo tempo desfrutar da vida no campo.

Onde fazer agroturismo?
Azienda Agricola Olivum: Poggio Pelliccione 5, I-06134 Perúgia
Apartamentos mobiliados de temporada com dois quartos, sala, cozinha e banheiro equipado para deficientes físicos.
Preço: Baixa temporada (1 Janeiro – 30 Junho e 1 Setembro – 31 Dezembro): 440 Euros por semana
Alta temporada (1 Junho – 31 Agosto): 490 Euros por semana
Atrações: Produção de vinho tinto Cabernet Sauvignon e azeite de oliva Extra Vergine.
Detalhes: Visite o site: http://www.prolivum.com/englishIndex.htm (inglês, italiano e alemão)

Assisi (Assis)
Quem está em Perúgia não pode ir embora sem visitar Assisi. Esta cidade é famosa por ter sido o local de nascimento de São Francisco de Assis (Francesco Bernadone), que fundou ali a Ordem dos Franciscanos e de Santa Clara de Assis (Chiara d'Offreducci). A cidade medieval é encantadora com suas casas de pedra, igrejas, chafariz, cafés, lojas de souvenir além de ser considerada Patrimônio Mundial pela UNESCO. A Basílica de São Francisco de Assis é a atração principal dos turistas de todas as partes do mundo. Ela é composta pelo mosteiro franciscano, assim como a basílica inferior e superior de São Francisco. O túmulo de São Francisco, também localizado na parte inferior da Basílica, é aberto para visitas.
Em setembro de 1997, um terremoto atingiu Assisi e danificou a basílica (uma parte to teto caiu). Ela permaneceu fechada por dois anos para restauração. Além da Basílica de São Francisco, a cidade possui outras atrações turísticas como a Basílica de Santa Chiara, Chiesa Nuova, Basílica de Santa Maria degli Angeli, Eremo delle carceri e Castelo Rocca Maggiore.
Montefalco
Estava à procura de uma experiência de enogastronomia (a combinação de vinhos e alimentos), muito popular na região da Úmbria, quando descobri a cidadezinha de Montefalco. Com um pouco mais de cinco mil e seiscentos habitantes, esta cidade medieval é um charme. Suas estreitas ruas de pedra dispõem de uma grande variedades de bares e restaurantes que oferecem degustações de vinhos acompanhadas de queijo, frios e brusqueta. Eu nunca havia feito este tipo de degustaçâo de vinhos e fiquei muito satisfeita com todo o processo, desde a escolha do local, tipos de vinho, até a hora do pagamento pelo serviços oferecidos.
Perúgia
Região: Úmbria Altitide: 490 metros acima do nível do mar População: aproximadamente 150 mil habitantes
Clima: A temperatura média no verão é de 20 graus e no inverno 5 graus.
Como chegar de avião: o aeroporto de Perúgia oferece vôos domésticos de/para Milão, Roma, Palermo, Olbia, Lamezia e Terme, assim como vôos internacionais de/para Stansted (Essex, Inglaterra), Girona (Espanha), Tirana (Albânia) e Bucareste (Romênia).
Eventos locais:
- Festival Internacional de Jazz: De 10 a 19/07/2009 - http://www.umbriajazz.com/
- Eurochocolate: uma feira internacional de chocolate que acontece anualmente em Perúgia. Em 2009, a feira acontecerá entre 15 e 25 de outubro - http://www.eurochocolate.com/it/Per%C3%BAgia2009/home.html
- Festival Internacional de Jornalismo, geralmente acontece anualmente no mês de abril - http://www.festivaldelgiornalismo.com/
- Festa de Ciência (Perugia Science Fest): a sétima edição da festa da ciência em Perúgia acontecerá de 7 a 17 de maio de 2009 - http://www.Perúgiasciencefest.eu/
Andréa Cocchiarale (Zurique, Suíça)
Matéria publicada na revista Panorama do Turismo.
Leia mais matérias sobre viagens no blog "viagens na íntegra"

sexta-feira, 5 de junho de 2009

Albert von Keller na Kunsthaus - Um retrato feminino do início do século XX.


O suíço Albert von Keller pintou senhoras, mães, Femmes Fatales, bruxas, deusas da mitologia e idolatrava tanto a figura feminina que a pintou até crucificada, no lugar de Jesus Cristo.
O ambiente é o da Belle Époque: suas musas aparecem envolvidas em tecidos caros, nuas, ou em vestidos luxuosos - sentadas num divã ou dançando em imensos salões.
Mas a principal característica de Von Keller é tentar mostrar a alma dessas mulheres em suas pinturas. Elas parecem estar em transe, sonhando, hipnotizadas e hipnotizantes. Assim, seus quadros eram mais impressões psicológicas do que retratos fiéis.

A exposição “Albert von Keller: Salons, Séancen, Secession“ está na Kunsthaus até o dia 04/10/2009, às quartas-feira a entrada é franca, nos outros dias a entrada custa Fr 14.-.


Kunsthaus Zürich, Heimplatz 1
De sábado a terça 10–18 Uhr
De quarta a domingo 10–20 Uhr


http://www.kunsthaus.ch/
Magda Hammer (Zurique, Suíça)

quinta-feira, 4 de junho de 2009

“As pessoas não precisam estar mais bem-vestidas. Precisam ser melhores”

Estranho ouvir isso de um estilista? Pois a moda, para Jum Nakao, nada mais é do que uma “ferramenta de descoberta”. Ele não aposta em tendências e padrões, mas em um novo formato de mercado: “A gente precisa reconectar as pessoas à essência humana”. Desde que deixou a passarela mais importante do País, em 2004, decidiu dedicar a carreira ao resgate de valores. Ministra cursos no sertão, desenvolve objetos sustentáveis com comunidades na Amazônia. O que mais dói, conta, é perceber todo o potencial de recursos e saberes do País que fica “confinado ao silêncio”.

Leia a seguir trechos da entrevista de Jum Nakao, realizada e publicada pela revista Almanaque Brasil de Cultura Popular - edição de maio/09.

Você deixou de acreditar na concepção dos grandes desfiles?
Eu continuo acreditando na importância da moda, mas tenho que pensar em novos processos. Estou sempre com alunos, em oficinas e palestras, porque preciso formar pessoas. Não para o mercado. Preciso formar pessoas capazes de criar novos formatos de mercado. Se os processos não mudam, os hábitos continuam os mesmos.

Diante da crise mundial, a moda deve se transformar?
Acho até curioso que uma crise como a que a gente vive esteja acontecendo, fazendo as pessoas pensarem nos seus conceitos, na sua cultura de consumo. Do que a gente precisa? Acho que esse primeiro quarto de século vai ser todo dominado por uma discussão sobre sustentabilidade, sobre novas éticas. Chegou um ponto em que é necessário reformular valores. Não há como imaginar que do jeito que está podemos continuar.
<É preciso repensar os parâmetros de consumo?>
O que mostra como uma comunidade vive é o consumo. Eu acho um absurdo que para a sociedade continuar existindo as pessoas tenham que consumir carros, por exemplo. Para suprir a necessidade atual do planeta inteiro, dentro dos hábitos atuais de consumo, precisamos de dois planetas. Se isso não mudar, é impossível falar em futuro. Uma outra questão é a própria hierarquia de valores. O valor do material é muito maior do que o valor do conhecimento. O de uma celebridade, muito maior que o de um pensador. A sociedade perdeu seus parâmetros. E não adianta as pessoas só falarem em “ecologicamente correto”, em “consciência de sustentabilidade”. Elas precisam comprar a ideia. Consumir não é ruim, é um ato político. Se você vai comprar um produto, tem que avaliar se ele está sendo produzido num sistema com o qual você concorda ou não. Desde que entrei no projeto Floresta Móbile, o que mais acho importante é que os produtos vendam. Senão a comunidade que acreditou no projeto como alternativa de sobrevivência vai voltar a queimar.

Como funciona o Floresta Móbile?

É um projeto grande, desenvolvido no mundo todo. Eu trabalho com uma comunidade carvoeira na Amazônia. Produzimos móveis com resíduos de madeiras que seriam queimados. Na contramão da antiga Revolução Industrial, partimos para a “revolução humana”. Resgatamos o valor de como é feito, não do que é feito. Se um saber está sendo aplicado, a natureza ganha fôlego para o reflorestamento. Queimando, se acaba com algo como um Estado de São Paulo por dia. Colaborar, dar vida, animar – no sentido de dar alma a coisas inertes – exigem um tempo diferente do da destruição. Jogar uma bomba é rápido, reconstruir demora. A proposta é que essas comunidades se dediquem a construir, não a destruir. Se esses projetos não derem certo, elas vão voltar a destruir. Por isso é muito importante que a sociedade compre a ideia, e não somente no plano filosófico.

Você tem andado muito pelo Brasil. O que tem visto?
O País é muito rico de recursos e saberes. Se você for para qualquer lugar do País, vai encontrar um Brasil diferente. Mas você sabe que é a sua casa. E as pessoas te reconhecerão como brasileiro também. Isso você não vai sentir em nenhum outro lugar do mundo. Essa questão da hospitalidade – ainda que não seja restrita aos brasileiros – mostra como entre nós existe, sim, uma comunhão. Entretanto, há uma cultura muito viva, mas que está sendo sufocada. Não precisa ir longe. No interior de seu Estado você pode descobrir coisas de que nunca ouviu falar. A verdade é que a gente só olha para o que está sendo vendido. Há um potencial muito grande de saberes que fica confinado ao silêncio. Se não há demanda por estes saberes, as pessoas que os detêm simplesmente partem para outras atividades que possam garantir o sustento. Se a sociedade só quer carvão, estas pessoas vão fazer queimadas. Ou vão morrer de fome.

Leia na Integra a entrevista no Almanaque Brasil de Cultura Popular