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sábado, 6 de junho de 2009

"Migração Feminina na Suíça", Cristina Pereira

Pesquisa do Instituto de Geografia da Universidade de Berna analisa e discute a temática da imigração feminina na Suíça. Nas últimas décadas a Suíça tem registrado um grande aumento no número de imigrantes mulheres, particularmente de países de fora da comunidade Européia. Este não é um fenômeno restrito à Suíça ou a países da Comunidade Européia, mas uma tendência observada mundialmente. Hoje em dia as mulheres constituem a maior parte dos imigrantes que entram na Suíça.
Infelizmente, a opinião pública e política sobre estas mulheres é ainda bastante negativa. Elas são vistas como não educadas, indivíduos para os quais a migração é o único meio de melhorar sua condição de vida e de sua famílias, como vítimas de exploração e pobremente integradas.
O projeto de pesquisa liderado por Dra. Yvonne Riaño e Prof. Doris Wastl-Walter e financiado pelo Swiss National Foundation através de um NFP 51 (Nationales Forschungsprogramm-Integration und Ausschluss) com orçamento de mais de 300.000 francos, busca chamar a atenção para a inadequação destas generalizações e das políticas de imigração que elas geram. O estudo quer trazer à tona a idéia que imigrantes mulheres são diversas em termos dos seus países de origem, nível educacional, seu padrão de vida no país de origem, religião, background rural ou urbano, razões para e experiências com a migração e os direitos que apresentam na Suíça de acordo com seu status de residência e nacionalidade.

Um dos focos principais do estudo são os processos de migração, integração e exclusão social de imigrantes qualificadas, raramente consideradas em estudos sociais anteriores, que geralmente dão mais atenção às imigrantes não qualificadas, oriundas de condições econômicas e sociais precárias. A pesquisa inclui mulheres Latino-Americanas e do Oriente Médio, de religião Cristã e Muçulmana, consideradas qualificadas (com educação secundária completa) e altamente qualificadas (com educação superior completa).
Os resultados mostram que, ainda que estas mulheres tenham nível educacional muito bom, freqüentemente com experiência profissional anterior à migração, e que dominem a nova língua, somente uma minoria é capaz de obter emprego de acordo com as suas qualificações na Suíça.

Um terço das imigrantes qualificadas não se encontram integradas no mercado de trabalho a outra metade tem status de trabalho precário, ou porque trabalham em posições abaixo do seu nível de qualificação ou porque tem empregos instáveis e sem perspectivas de longo prazo. Portanto, o estudo conclui que para muitas imigrantes qualificadas a migração não resulta em uma melhoria, mas ao contrário numa perda de status de classe. A situação se apresenta como um paradoxo: enquanto os países de origem perdem recursos humanos valiosos com a saída destas mulheres, a Suíça falha em fornecer um framework adequado para o desenvolvimento deste novo capital social, cultural e econômico.
Outro resultado interessante do estudo revela que as imigrantes não aceitam passivamente as condições desfavoráveis que encontram na Suíça. Elas mobilizam seus recursos pessoais para facilitar seu acesso ou para melhorar suas chances de participar do mercado de trabalho. As estratégias e respostas ao desafio na participação no mercado de trabalho incluem requalificação, tomada de empregos abaixo do seu nível de qualificação, criação de novos networks e realização de trabalho voluntário não remunerado em organizações sociais e políticas.

Participar de atividades voluntárias é de grande importância para a mulher imigrante. Por um lado é um meio de realizar uma atividade além do papel de dona de casa imposto pela sociedade. Por outro, as atividades voluntárias são um meio de usar suas qualificações profissionais assim como às vezes funcionam como um degrau para o trabalho profissional remunerado.
Mulheres qualificadas tem o desenvolvimento profissional como um de seus principais objetivos e de importância central para a sua identidade pessoal. Imigrar para a Suíça, entretanto, implica para muitas delas um confronto com novas regras, normas e valores quanto ao papel dos sexos e ao valor do trabalho da mulher.
Ter filhos e confrontar as novas normas considerando a maternidade causa conflitos pessoais e compele muitas mulheres a transformar-se, adaptar-se ou lutar para manter seu nível de atividade profissional pré-imigração.
O estudo aponta para conceitos discriminatórios embebidos tanto nas leis de imigração na Suíça, quanto na mentalidade dos empregadores. Em particular a subvalorização das qualificações pessoas e educacionais das imigrantes não-Européias, e atitudes patriarcais da sociedade quanto ao seu papel na criação dos filhos. Estes fatores combinam-se para produzir oportunidades desiguais de acesso ao mercado de trabalho. Imigrantes qualificadas não enfrentam apenas barreiras em aplicar seus recursos educacionais na sociedade Suíça, mas também são confrontadas com a desvalorização de seu trabalho e experiência, perda de confiança e de autonomia.
As pesquisadoras concluem que se a Suíça quiser se beneficiar do capital social e cultural que as imigrantes qualificadas trazem ao país, é necessário reconhecer que a qualificação não é uma garantia automática para a integração sócio-econômica, sendo necessário o desenvolvimento de programas que suportem a transferência e a re-acreditação deste capital. Estes programas têm que necessariamente levar em consideração fatores específicos como sexo e etnia que dificultam o acesso de imigrantes qualificadas ao mercado de trabalho.
Para saber mais sobre este trabalho interessantíssimo, e que muito nos diz respeito, visite o site das pesquisadoras na Universidade de Berna:
http://www.giub.unibe.ch/sg/immigrantwomen
ou leia o artigo : Understanding the Labour Market Participation of Skilled Immigrant Women in Switzerland: The Interplay of Class, Ethnicity and Gender. Journal of International Migration and Integration, vol 8, 2, pp 163-183 - que pode ser acessado em pdf através do site:
http://www.springerlink.com/content/y42r088803q1g0hu/
Cristina Pereira (Zurique, Suíça)

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