A Revista Íntegra, após cinco anos de publicações, chega ao fim.
Convidamos você a conferir esta última edição. Saiba mais...

domingo, 28 de setembro de 2008

Vivência


Casada aos dezoito anos

Descasada aos quarenta e oito

Trinta anos de experiência

Tornaram-me totalmente inexperiente

Muitas lágrimas desejando a liberdade

Muito medo de alcançá-la

Desejo de viver a vida

Uma âncora prendendo-me à morte...

Uma Margarita lutando contra uma secóia

Pensando ser forte. Desejando a morte.

Esquecendo a existência dos homens

Buscando a Deus.

Deus aqui! Aqui, Deus!

Força quase sobre-humana,

Tornando-me quase humana

Alcançando dentro de mim, uma fagulha divina.


Margarita Wasserman, escritora e membro do Instituto Histórico e Geográfico do Pr.

A vida, as mudanças e os amigos

Se tento voltar ao tempo, as minhas primeiras lembranças, sempre me saltam memórias de amigos da escola, da vizinhança, filhos dos amigos dos pais, primos que moravam longe, colegas do ballet ou do curso de inglês. Muitas dessas pessoas desapareceram da minha vida. Felizmente continuo tendo laços muito estreitos com alguns amigos de infância. Como eu, estes amigos modelaram a sua personalidade e estilo de vida ao longo dos anos. Ainda assim compartilhamos semelhanças que nos unem.


Ao sair do Brasil, para terras onde não temos referências, tive a sensação que amizades tornam-se ainda mais representativas no dia-a-dia do estrangeiro. Conhecer novas pessoas, com as quais é possível compartilhar notícias ou acontecimentos corriqueiros, confiar, dar e receber carinho, ir ao cinema em tardes frias, é uma tarefa difícil. 

Há aqueles que se agarram aos primeiros brasileiros que surgem e, embora no Brasil jamais teriam uma relação de amizade, no exterior tornam-se melhores amigos pelas circunstâncias. Outros querem inserir-se de tal forma na nova realidade que rechaçam contato com conterrâneos terceiro-mundistas. A palavra de ordem é deixar de ser brasileiro, viver como um americano ou um europeu, esquecer o português (ainda que não fale a língua estrangeira nada bem). 

A Suíça é o 5° país estrangeiro em que moro. Já experimentei andar com brasileiros para poder falar o idioma, rir, expressar minha saudade do feijão, arroz e bife sem ter que me explicar. Já fui à lugares onde não pude nem conhecer estrangeiros, e me adaptei à cultura local de tal maneira que meus amigos falavam mal de outros estrangeiros na minha frente. Quando eu me pronunciava “alto lá, também sou estrangeira”, eles diziam: “não, você é como a gente, estrangeiros são os iugoslavos e os turcos”. Ao deixar cada lugar, tinha certeza que deixava um pouco de mim, um pedaço da minha historia, da minha felicidade amenizada pelos companheiros que deixava pra trás. 


Cheguei na Suíça sem fazer muito esforço para conhecer gente nova. Ao conhecer pessoas legais, pensava cética: “nem vale a pena investir nesta amizade, mais cedo ou mais tarde, ou eu, ou eles vão embora”. A grande verdade era que estava cansada de sofrer com a separação, começar tudo de novo e igualmente de querer que os meus grandes amigos do Brasil e do resto do mundo participassem ativamente da minha rotina. Eram horas na frente do computador, contando todas as façanhas, enviando fotos de passeios que eles nem sabiam onde haviam sido feitos. 


Eis que a vida nos surpreende novamente e traz pessoas tão importantes, que fazem mais doce a dura realidade de estar fora do seu habitat, da sua família, da sua cultura. Hoje tenho um círculo de amigos em Zurique muito especial. Alguns são para se ver uma vez a cada dois meses, tomar um café, falar por alto da vida. Mais do que esses encontros casuais com gente querida, tive a grande sorte de achar amigos–irmãos. Aqueles com quem a gente pode jogar-se na cama sem ter que tirar o sapato, falar baboseira, levar puxada de orelha, discutir temas filosóficos e mundanos, ouvir elogio, abraçar, rir e chorar. 

Como havia diagnosticado, esses seres viram a sua família. Se eles saem de férias, sinto falta de não vê-los aos domingos ou almoçar com eles durante a semana. Continuo temendo o abalo que terei se algum dia nos separarmos. Mas pra quê sofrer por antecipação? Por que não aproveitar este presente, que é a nossa única certeza nessa vida? Os amigos do Brasil continuam sabendo da minha rotina, e os de outros cantos vão sendo selecionados; restam somente os verdadeiros. Uma coisa seja dita: não imagino uma vida nem aqui, nem na China, sem amigos.


Cecília Zugaib - Zurique, Suíça

Carta à revista Veja

"Como educadora, historiadora, ex-professora da PUC e da Cátedra Paulo Freire e viúva do maior educador brasileiro PAULO FREIRE -- e um dos maiores de toda a história da humanidade --, quero registrar minha mais profunda indignação e repúdio ao tipo de jornalismo, que, a cada semana a revista VEJA oferece às pessoas ingênuas ou mal intencionadas de nosso país. Não a leio por princípio, mas ouço comentários sobre sua postura danosa através do jornalismo crítico. Não proclama sua opção em favor dos poderosos e endinheirados da direita, mas , camufladamente, age em nome do reacionarismo desta.
Esta vem sendo a constante desta revista desde longa data: enodoar pessoas as quais todos nós brasileiros deveríamos nos orgulhar. Paulo, que dedicou seus 75 anos de vida lutando por um Brasil melhor, mais bonito e mais justo, não é o único alvo deles. Nem esta é a primeira vez que o atacam. Quando da morte de meu marido, em 1997, o obituário da revista em questão não lamentou a sua morte, como fizeram todos os outros órgãos da imprensa escrita, falada e televisiva do mundo, apenas reproduziu parte de críticas anteriores a ele feitas.
A matéria publicada no n. 2074, de 20/08/08, conta, lamentavelmente com o apoio do filósofo Roberto Romano que escreve sobre ética, certamente em favor da ética do mercado, contra a ética da vida criada por Paulo. Esta não é, aliás, sua primeira investida sobre alguém que é conhecido no mundo por sua conduta ética verdadeiramente humanista.
Inadmissivelmente, a matéria é elaborada por duas mulheres, que, certamente para se sentirem e serem parceiras do 'filósofo' e aceitas pelos neoliberais desvirtuam o papel do feminino na sociedade brasileira atual. Com linguagem grosseira, rasteira e irresponsável, elas se filiam à mesma linha de opção política do primeiro, falam em favor da ética do mercado, que tem como premissa miserabilizar os mais pobres e os mais fracos do mundo, embora para desgosto deles, estamos conseguindo, no Brasil, superar esse sonho macabro reacionário.

Superação realizada não só pela política federal de extinção da pobreza, mas , sobretudo pelo trabalho de meu marido – na qual esta política de distribuição da renda se baseou - que demonstrou ao mundo que todos e todas somos sujeitos da história e não apenas objeto dela. Nas 12 páginas, nas quais proliferam um civismo às avessas e a má apreensão da realidade, os participantes e as autoras da matéria dão continuidade às práticas autoritárias, fascistas, retrógradas da cata às bruxas dos anos 50 e da ótica de subversão encontrada em todo ato humanista no nefasto período da Ditadura Militar.
Para satisfazer parte da elite inescrupulosa e de uma classe média brasileira medíocre que tem a Veja como seu 'Norte' e 'Bíblia', esta matéria revela quase tão somente temerem as idéias de um homem humilde, que conheceu a fome dos nordestinos, e que na sua altivez e dignidade restaurou a esperança no Brasil. Apavorada com o que Paulo plantou, com sacrifício e inteligência, a Veja quer torná-lo insignificante e os e as que a fazem vendendo a sua força de trabalho, pensam que podem a qualquer custo, eliminar do espaço escolar o que há de mais importante na educação das crianças, jovens e adultos: o pensar e a formação da cidadania de todas as pessoas de nosso país, independentemente de sua classe social, etnia, gênero, idade ou religião.
Querendo diminuí-lo e ofendê-lo, contraditoriamente a revista Veja nos dá o direito de concluir que os pais, alunos e educadores escutaram a voz de Paulo, a validando e praticando. Portanto, a sociedade brasileira está no caminho certo para a construção da autêntica democracia. Querendo diminuí-lo e ofendê-lo, contraditoriamente a revista Veja nos dá o direito de proclamar que Paulo Freire Vive!

São Paulo, 11 de setembro de 2008
"Ana Maria Araújo Freire"

Destaques do jornalista Pedro Alexandre Sanches
Ilustração de Maringoni, na Agência Carta Maior

Úteis e fúteis

Tá...e se eu, com trinta anos, ainda for solteira, e isso quer dizer não ter nenhum namorado, não ter um trabalho bem remunerado nem bem admirado (sou garçonete), não ter comprado meu apartamento, não ter carro, não ir à academia, não gostar de peças de teatros musicais e o pior de tudo, se alguém me perguntar, não sei bem ainda o que eu quero da minha vida!!! 
Gostaria mesmo é de passar meus dias sempre rodeada de amigos, vendo o pôr do sol sobre a água do mar, ou atrás da montanha. 
Gostaria de ter sempre minha mãe por perto, meus cachorros e meus gatos, viver um tórrido e quente amor, ter uns três ou quatro filhos, e ter grana  suficiente para me sustentar e ainda ser bem generosa com os que me rodeiam. 
É pecado? Querer ficar com a  bunda pra cima, fazendo de vez em quando aquilo que se gosta (eu gosto de administrar as coisas...detesto fazer), ter tempo e grana pra fazer um yoga, um pilates talvez, ver um belo e bom filme por dia, ir na massagista, no cabeleireiro, ler os jornais gastando pelo menos uma hora no café da manha, nadar, encontrar com os amigos, tomar uma cervejinha gelada, jantar em bons restaurantes e experimentar cada dia uma cozinha diferente. Não acho de verdade que seria futilidade da minha parte. Seria muito boa em não fazer nada. 
Quem acha que o Zeca Pagodinho é infeliz? E porque criticar? Viva a liberdade de escolha e de opinião.
Ninguém é perfeito. Eu aceito todo mundo. Quem gosta de trabalhar, quem gosta de “bundar”, quem gosta de homem (apesar de achar que a concorrência ta cada vez mais acirrada), quem gosta de mulher, quem gosta dos dois...

Viva a mente livre, o poder de usar uma calça laranja berrante, de sair de manha sem pentear o cabelo, de abraçar e beijar com carinho e afeição todos os amigos que encontra, viva as relações que conquistamos ao longo da vida. Viva o trabalho e principalmente a oportunidade de trabalhar.

Carolina Bisacchi - Londres, Inglaterra

A gente escuta cada uma

Quando São Paulo era Estados Unidos.” Era a frase preferida daquela mulher quando queria mostrar cultura e conhecimento... As bobagens eram tantas que quando seu companheiro de muitos anos adoeceu e baixou no hospital, ela chegava às pressas para trazer roupa limpa e saía correndo do quarto para não escutar os desaforos dele. “O governo é ruim, mas o Brasil vai bem...!” Frase que escutei de um pequeno empresário, faz muitos anos. “O meu pai não é europeu, ele é polaco...” Afirmação de uma vizinha de bairro.
Era a última aula para aquela classe de formandos e enquanto o professor dissertava, um dos alunos levantou a mão e perguntou o significado da palavra véspera...
Perto de minha casa, havia uma confeitaria que apenas aceitava encomendas. A dona falava com um forte sotaque estrangeiro. Uma ocasião curiosa, perguntei qual era o seu país de origem e ela prontamente me respondeu que era a Lituânia. Uma jovem estudante, aguardando a sua vez para ser atendida, desandou a rir incontrolavelmente. O motivo daquela risada era que ela não sabia que existe a Lituânia, a Estônia e também a Letônia...
Era um jantar solene, apenas para empresários. Uma senhora convidada para o evento conversava com seu vizinho de mesa e falou que apreciava bastante o Passeio Público por causa do seu ar bucólico. O tal convidado não conhecia a palavra bucólico...
Caminhando pela orla da praia de Guaratuba, escutei duas moças conversando, quando uma perguntou para a outra: “Como é que se diz, urubu ou aribu?” A outra respondeu: “Ora, a gente diz aribu porque não sabemos se é macho ou fêmea.”
Logo, ao subir no ônibus, a passageira escutou o cobrador contar para uma mocinha, com quem conversava: “O médico disse que tenho uma ursa. Vai ver por isto como tanto!...”

Margarita Wasserman - Escritora e membro do Instituto Histórico e Geográfico do Paraná

Ilustração - Os Gêmeos - site

Campanha "PERCA UM LIVRO"


"Perca um Livro' é uma iniciativa que pretende trazer para o Brasil uma prática internacional de incentivo à leitura. A idéia é "perder" um livro em lugar público para ser achado e lido por outras pessoas que, então, farão o mesmo. O objetivo é fazer do mundo inteiro uma livraria.

A prática consiste em três passos simples:

1. Leia um bom livro;
2.
Cadastre o livro e escreva seus comentários para pegar seu código único e a etiqueta correspondente ao livro;
3."Perca" o livro em um lugar público.

De posse do código o leitor poderá rastrear pelo tempo que quiser os caminhos percorridos pelo livro.

A partida inicial do projeto será dada pela editora Zeiz que irá "perder" 150 exemplares do livro "A Unidade dos Seis - O Herdeiro Especial". Os livros "perdidos" estarão com orientações que levem o próximo leitor a repetir o mesmo procedimento: ler, cadastrar e "perder".

A idéia é que estes livros sejam a ponta de uma corrente que incentive outras pessoas a fazerem o mesmo com outros livros, disseminando entre pessoas o saudável hábito da leitura.

http://www.livr.us/sobre.php

Eat, Pray, Love

Comer, Rezar, Amar (publicado no Brasil pela Objetiva) é um daqueles livros que toda mulher, independente da idade ou situação, deve (e merece!) ler.
A escritora americana Elisabeth Gilbert descreve neste livro um ano de sua vida em que, após uma grande crise existencial, decide largar tudo e sair pelo mundo a procura de si mesma, de Deus, de respostas e convicções.
Com tudo o que uma mulher instruída e ambiciosa teoricamente poderia querer: um marido, uma casa, um projeto a dois de ter filhos e uma carreira de sucesso, em vez de sentir-se feliz e realizada, Gilbert foi tomada pelo pânico, pela tristeza e pela confusão. Enfrentou um divórcio, uma depressão debilitante e outro amor fracassado, até que se viu tomada por um sentimento de liberdade que ainda não conhecia.
Foi quando tomou uma decisão radical.
Demitiu-se do emprego, e partiu sozinha para uma viagem de um ano pela Itália, Índia e Indonésia.
O livro é um grande bestseller, traduzido em dezenas de línguas e já ultrapassando a marca de cinco milhões de cópias vendidas. Penso eu que este estrondoso sucesso deve-se ao tema tão comum a todos nós - as grandes crises existências da vida - e por Gilbert ter tido coragem e condições de fazer o que todo mundo sonha quando passa por uma destas crises: largar tudo e aventurar-se pelo mundo, sem compromissos ou objetivos. Como não ter vontade de fazer o mesmo ao ler o relato da escritora?
Bem escrito, fluído e simples, este livro é uma delicia, e tenho certeza vai inspirar mudanças em muitas vidas. Leia, identifique-se, emocione-se e sonhe.

P.S: Para as leitoras de Zürich: Comer, Rezar, Amar já esta disponível na biblioteca do CEBRAC!

Cristina Pereira - Zurique, Suíça

Calu Fontes – A Maga da Porcelana


Calu Fontes é uma maga, que transforma papéis e porcelanas brancas em arte de beleza inigualável. Nos seus objetos – sejam eles azulejos, potes, colares, pratos, xícaras, bowls, vasos e até mesmo roupa íntima - mandalas, orixás, deuses indianos, santos católicos, cores e frutas misturam-se e vivem lado a lado harmonicamente.
O seu trabalho já é reconhecido há um certo tempo em território nacional, onde inúmeras reportagens a prestigiam constantemente. Calu lançou uma coleção para a Tok & Stock, fez painéis de azulejos em restaurantes descolados, participa e promove bazares. Inevitavelmente, com tanto talento e criatividade, essa artista começa a despertar interesse e ser levada a outros paises.
Para conferir o seu trabalho pessoalmente, passe na casinha de contos de fadas, o seu ateliê, na Rua Luis Anhaia, 91, Vila Madalena, São Paulo.
Para viajar no seu mundo, visite a sua pagina web www.calufontes.com ou veja suas referências em sites (entre tantos outros) como:

http://www.coolhunting.com/archives/2008/09/calu_fontes_por.php http://setdesignthinking.blogspot.com/2008/09/calu-fontes.html

http://meuladoluxo.blogspot.com/2008/09/calu-fontes.html

Cecília Zugaib - Zurique, Suiça

Exposição "300% Spanish Design: 100 Cadeiras 100 Luminárias 100 Cartazes"

Três elementos cotidianos são o foco da exposição 300% Spanish Design: 100 Cadeiras 100 Luminárias 100 Cartazes, na qual estão presentes obras de Salvador Dalí, Antoni Gaudí, Javier Mariscal, Pablo Picasso, Antoni Tàpies e Joan Miró.

Com curadoria do arquiteto Juli Capella, a exposição, abrigada no SESC Avenida Paulista e organizada pela Sociedade Estatal para a Ação Cultural Exterior (SEACEX), apresenta simbolicamente três coleções: a estrutura e o conforto (cadeira), o progresso e a magia (luminária), e a comunicação visual (cartaz). Mesmo concebida originalmente
como parte do programa cultural do Pavilhão da Espanha, na Exposição Universal de Aichi 2005 (Japão), a exposição que ocupa os três andares do SESC Avenida Paulista é diferenciada das demais vezes em que foi exposta por trazer peças mais recentes e novos achados históricos.

A idéia da exposição é demonstrar a rica contribuição espanhola para a cultura criativa mundial nos últimos 100 anos e apresentar produtos que ainda hoje são fabricados com tecnologias não muito sofisticadas, salvo algumas exceções. São projetos simples, porém engenhosos.
SESC Avenida Paulista

05/09 a 11/01.

Terça a sexta, das 13h às 21h; Sábados, domingos e feriados, das 11h às 19h.

São Paulo


Francis Bacon

“I was seventeen. I remember it very, very clearly. I remember looking at a dog-shit on the pavement and suddenly I realize, there it is – this is what life is like. Strangely enough it tormented me for months, till I came to, as it were, accept that here you are, existing for a second, brushed off like flies on wall... I think of life as meaningless; but we give meaning during our own existence. We create certain attitudes which give it meaning while we exist, though they in themselves are meaningless really.”

Bacon, reconhecido internacionalmente como um dos pintores mais influentes do século XX e apontado como o pintor inglês mais importante do seu tempo. Curioso pensar que o sobrenome do cara é Bacon! Nada mais adequado.

Bacon, carne, “flesh”.

O porquê disso ele mostra em sua pintura. Um mundo sem Deus ou vida pós-morte. O ser humano como qualquer outro animal: irracional, violento, desesperado, vulnerável. Imagens mal formadas, transfiguradas, distorcidas, ensanguentadas.


Arte para ele era um método de demonstrar formas de sentimento, mais do que meramente representar um objeto. Inspirado pela brutalidade das guerras de seu tempo, pela solidão dos marginalizados pela sociedade, e por toda realidade crua que o cercava.

Sua obra deriva de estudos de fotografias, filmes, obras de outros artistas, livros, poesias e fatos. Mas ele não faz uma reconstrução, e sim uma alusão baseada em sua compreensão pessoal de cada coisa. Parcece meio angustiante, e é.

Mas é também impressionante a precisão do sofrimento expresso. A realidade da carne exposta em uma representacao não real da carne. Segundo Bacon: a pintura indo de encontro direto ao sistema nervoso. Desconcertante!

Pode ser que você nao goste do trabalho dele, pode ser que não te diga muita coisa, mas alguma coisa, com certeza, ele tem para dizer.

Se você tiver chance, o Tate Britain, em Londres, exibe até 4 de janeiro de 2009, a exposição “Francis Bacon”.

Se voce tiver interesse, a BBC disponibiliza uma grande quantidade de entrevistas dele no site:

http://www.bbc.co.uk/archive/bacon/

Se voce tiver tempo, um cara chamado Andrew Brighton escreveu um livro bem bacana que apresenta a obra do pintor de maneira bem introdutória e fluente.

O nome do livro é apenas “Francis Bacon”.

Bom, simples e barato.


Jacqueline Sambugaro - Londres, Inglaterra

Orangina Naturally Juicy French version

Zürich Film Festival

4. Zürich Film Festival - 25 de setembro a 5 de outubro de 2008

Eu sou uma grande fã desse festival, que vem crescendo e ganhando nova dimensão.

A Première para as celebridades aconteceu no dia 25 de setembro com o filme “Der Baader Meinhof Komplex“. Filme alemão baseado num romance com o mesmo título que conta a história de jovens que praticaram terrorismo nos anos 70. No dia 26 de setembro, Sylvester Stallone, o homenageado deste ano, recebeu seu “Golden Icon Award“. Essa é a parte glamorosa do evento. Mas para quem prefere cinema a “glamour”, o programa tem sempre filmes independentes com atores e diretores desconhecidos. Novas caras, talentos, idéias, e mídias.

Um dos destaques da programação é "Blindness", dirigido por Fernando Meireles (Cidade de Deus) e baseado na obra de José Saramago "Ensaio sobre a cegueira". Com Mark Ruffalo, Juliane Moore e Gael Garcia Bernal.

Confira o programa e entradas: http://www.zurichfilmfestival.org/

Magda Hammer - Zurique, Suíça

Happy-go-lucky

Happy-go-lucky, Mike Leigh, UK 2008, 118 min.

Poppy (Sally Hawkins), a mocinha da história, deve ter sido cowboy em alguma outra vida: preste atenção em suas botas. Adora também estampas e as mistura sem seguir nenhuma regra.

E ela vai cruzando ruas e becos londrinos com um sorriso e jeito maroto. Poppy tem um objetivo na vida: ela quer fazer todo mundo ao seu redor feliz.

O diretor Mike Leigh criou um personagem sensível, engraçado, espontâneo e surpreendentemente sensato. Quem vê aquela maluquinha com uma sacola de papel na cabeça, imitando um pássaro nem imagina que Poppy é uma mulher responsável (professora primária!), dona de seu nariz e capaz de compreender os problemas do ambiente em que vive.

Mike Leigh, que em filmes como „Naked“ e „Vera Drake“ narrou o lado sombrio da vida, obteve desta vez grande êxito escrevendo uma comédia. Você ri mas não deixa de se emocionar.

Sally Hawkins ganhou o Urso de Prata de melhor atriz no Festival de Berlim por sua atuação no filme.

Magda Hammer - Zurique, Suíça

Brasil no Oscar 2009

O Ministério da Cultura divulgou a lista dos 14 filmes que entraram na corrida para disputar a vaga de representante brasileiro na disputa pelo Oscar 2009 de Melhor Filme em Língua Estrangeira.

A decisão foi da comissão composta por seis profissionais da área audiovisual: Antonio Alfredo Torres Bandeira, Cleber Eduardo Miranda dos Santos, Silvia Maria Sachs Rabello, Maria Dora Genis Mourão, Giba Assis Brasil Paulo Sérgio Almeida e Silvio Da-Rin.

Candidatos:

A Casa de Alice - Chico Teixera

A Via Láctea - Lina Chamie

Chega de Saudade Laís Bodansky

Era Uma Vez - Breno Silveira

Estômago - Marcos Jorge

Meu Nome Não É Johnny - Mauro Lima

Mutum - Sandra Kogut

Nossa Vida Não Cabe Num Opala - Pinheiro

Olho de Boi - Hermano Penna

Onde Andará Dulce Veiga? - Guilherme de Almeida Prado

O Passado - Hector Babenco

Os Desafinados - Lima Júnior

O Signo da Cidade - Alberto Riccelli

Última Parada 174 - Bruno Barreto


A produção que irá concorrer será "Última Parada - 174" de Bruno Barreto. Um filme de ficção baseado na história real de um sobrevivente de uma chacina no Rio de Janeiro que anos mais tarde sequestra um ônibus na zona sul da cidade. A história também já foi contada no documentário "Ônibus 174", de José Padilha, diretor de "Tropa de Elite". Você já assitiu?

Acho a maior graça


'Acho a maior graça: tomate previne isso, cebola previne aquilo, chocolate faz bem, chocolate faz mal, um cálice diário de vinho não tem problema, qualquer gole de álcool é nocivo, tome água em abundância, mas não exagere... Diante desta profusão de descobertas, acho mais seguro não mudar de hábitos. Sei direitinho o que faz bem e o que faz mal pra minha saúde! Prazer faz muito bem. Dormir me deixa 0 km. Ler um bom livro faz-me sentir novo em folha. Viajar me deixa tenso antes de embarcar, mas depois rejuvenesço uns cinco anos. Viagens aéreas não me incham as pernas; incham-me o cérebro: volto cheio de idéias.

Brigar me provoca arritmia cardíaca. Ver pessoas tendo acessos de estupidez me embrulha o estômago. Testemunhar gente jogando lata de cerveja pela janela do carro me faz perder toda a fé no ser humano. E telejornais... os médicos deveriam proibir - como doem!

Caminhar faz bem, dançar faz bem, ficar em silêncio quando uma discussão está pegando fogo, faz muito bem! Você exercita o autocontrole e ainda acorda no outro dia sem se sentir arrependido de nada. Acordar de manhã arrependido do que disse ou do que fez ontem à noite é prejudicial à saúde! E passar o resto do dia sem coragem para pedir desculpas, pior ainda! Não pedir perdão pelas nossas mancadas dá câncer: não há tomate ou mussarela que previna.

Ir ao cinema, conseguir um lugar central nas fileiras do fundo, não ter ninguém atrapalhando sua visão, nenhum celular tocando e o filme ser espetacular, uau! Cinema é melhor pra saúde do que pipoca! Conversa é melhor do que piada. Exercício é melhor do que cirurgia. Humor é melhor do que rancor.

Amigos são melhores do que gente influente. Economia é melhor do que dívida. Pergunta é melhor do que dúvida. Sonhar é melhor do que nada!' - Luís Fernando Veríssimo 

Nem toda brasileira é bunda (de silicone)

“Eu coloquei 200 mililitros.”

- “Eu prefiro 300 mililitros."

Foi essa conversa que uma amiga minha ouviu na sala de espera de um requisitado cirurgião plástico em São Paulo. Como ela só estava ali para entrevistá-lo, e, é

totalmente leiga no assunto (pelo menos é o que ela conta, pensando bem ela tem um peitão, ah será???), ficou imaginando do que se tratava a conversa.

Enfim, entre um comentário e outro ela percebeu que estavam falando sobre silicone. As duas senhoras eram turbinadas. Turbinadíssimas. E reparando bem, não só nos seios.

Isso despertou a minha curiosidade, e confesso que fiquei meio cabreira. Como é que pessoas totalmente bem informadas, como eu e minha amiga, não se tocaram imediatamente que as duas senhoras estavam discutindo o tamanho da teta de cada uma? Tenho que me manter mais informada. Precisava tomar alguma atitude!


Primeiro, aproveitei o tédio do consultório médico para folhear a Caras. Gente! Luisa Brunet, Sônia Brega, ups Braga, como elas estão diferentes! Poxa, uma grande turma não pode mais cantar a música “Pagu” da Rita Lee: “Nem toda feiticeira é corcunda, nem toda brasileira é bunda, meu peito não é de silicone...”

Segundo, visitei o site de uma clínica de tratamentos estéticos. Ali encontrei vasto vocabulário inexistente no meu dia-a-dia. Meus comentários estão em itálicos.


-Tratamento de Cicatrizes de Acne a Laser - nossa que chique, na minha época era minancora e olhe lá.

-Blefaroplastia a Laser - pensei, alguma coisa dentro do cérebro? Não, cirurgia estética das pálpebras.

-Skin Resurfacing (peeling a laser) - surfar o que? Aquela areinha a laser???

-Peeling Químico de Fenol Light - saudações de Chernobyl? Ainda bem que só tem a versão light, a heavy se chamaria Hiroshima???

-Implante de Restylane, Hidrogel, Alloderm (células humanas), Metacrilato (PMMA), Out-line (Acrilamida) - é a tal da clonagem?

-Fio Russo, Dermosustentação da Face - meu Deus que Meda!

-Elevação de Sobrancelhas - elevar? Até onde?

-Micro-implante de Sobrancelhas (fio a fio) - é fio do que, ai que meda de novo!

-Aumento de Lábios (Bardotização) - Bardo... sem dúvida, a língua portuguesa evoluiu muito nos últimos tempos.

-Aumento das Mamas com Prótese de Silicone (Importada) - mas nem no ramo onde o Brasil é super avançado o produto nacional é valorizado?

-Plástica de Umbigo ai Jesuis, começaram a mexer nos buracos!

-Rejuvenescimento de Mãos (Lipoescultura) - e a cura do câncer, como vai?

-Elevação de Nádegas com Fio Elástico - imaginei o médico com uma cordinha amarrando a bunda ao pescoço.

-Tratamentos contra Celulite - o verdadeiro mal do século, quer dizer, ela já existia antes, mas a celulite só foi notada lá por 1960. A Marilyn Monroe tinha também e ninguém nunca reclamou! Sobrou para nós que viemos depois dela, mais um causo para a mulher moderna lidar. Aliás, quem será que foi o puto que “descobriu” a celulite?

-Drenagem Linfática - maior legal esse nome.

-Estimulação Russa - hum, essa eu até topo. Nunca provei um russo. Ai Putin, vem meu bem...


Falando sério (juro, vou tentar!): eu admiro os avanços da medicina e da tecnologia. E sei que eles são muito úteis em caso de acidentes ou defeitos de nascença. Reconstrução do seio após câncer de mama, claro! Silicone após amamentação, tudo bem, conheço o fenômeno ovo estrelado...Mas é que ser bonita virou uma coisa tão corriqueira, tão banal. Qualquer um é bonito, e pior: o mundo colocou na cabeça que não se pode mais envelhecer.

E a geração silicone então? Brasileira antigamente tinha seio pequeno, não tem mais. E a chinesa não opta por quebrar as pernas para os médicos poderem alongá-las? Tudo é possível.

Tudo bem, cada um é cada um, e decide o que quer fazer com o próprio corpo. Tão natureba assim eu também não sou. Sou vaidosa, faço minhas mudanças, pequenas, mas mudanças. Não vou deixar, por exemplo, as axilas tão cabeludas quanto as de um estivador português, só porque é a natureza da coisa. E antes eu achava cabelo branco uma coisa linda, até que eles começaram a aparecer na minha própria cabeça.


Mas alguma coisa está errada. Pensei em um verso da Cecília Meireles:


Eu não tinha este rosto de hoje

Assim calmo

Assim triste

Assim magro

Nem estes olhos vazios

Nem o lábio amargo

Eu não dei por esta mudança

Tão simples

Tão certa

Tão fácil

Em que espelho ficou perdida minha face?”


Nesse instante imaginei a autora dos versos acima na sala de espera no lugar da minha amiga, sentadinha de pernas cruzadas, com seu jeito solitário e frágil, ouvindo aquelas estórias. Nossa Ciça (já íntima da Cecília Meireles) não estaria cheia de vastas emoções e pensamentos imperfeitos (isso já é Rubem Fonseca). O que ela estaria pensando?

E como se a própria Cecília tivesse baixado em mim, matei a charada: a ciência e a tecnologia podem tirar as pelancas, sugar a gordura e esticar rosto. Mas colocar novamente o brilho nos olhos que a gente perde quando a juventude se vai, ah, isso nem Pitangy! Aquela inocência, aquele entusiasmo, só a gente trabalhando o lado de dentro mesmo, transformando-o em outras belezas, em outras juventudes.

Que cada ruga seja bem ganha, bem vivida! E que a mulher aprenda a envelhecer e crescer interiormente sem se prender a tantos conceitos estabelecidos pela ditadura da moda e da estética.


Magda Hammer - Zurique, Suíça