Nelson Mandela referência na luta contra o racismo e desenvolvimento da África, completa em 2008, noventa anos de idade. Mandela, que entre outras, mantém sob seu nome as fundações Nelson Mandela Foundation, Childrens Found e Rhodes Foundation, realiza ao redor do mundo eventos, com a participação voluntária de grandes famosos, para arrecadar fundos na luta contra fome, AIDS, discriminação racial, desenvolvimento dos países na África entre outras desigualdades sociais. Mandela, na verdade já não atua mais diretamente nas frentes de trabalho das fundações que levam seu nome. Este trabalho agora é desenvolvido por atores como Will Smith e Robert de Niro.
O evento que acontecerá no dia 27 de Junho, no Hide Park em Londres, arrecadará fundos para o Projeto 46664 AIDS. O número se refere ao seu código da época em que foi prisioneiro e o projeto atua diretamente na luta contra o impacto da AIDS na África.
A festa contará com a presença de ilustres políticos, cantores, atores, esportistas e famosos que virão do mundo inteiro. Entre eles: Bill Clinton (ex presidente dos EUA), Gordon Brown (primeiro ministro da Inglaterra), Robert de Niro, Forest Whitaker, Oprah Winfrey, Lewis Hamilton (piloto de formula 1), Will Smith, Queen, Paul Rodgers, Annie Lennox, Simple Minds, Leona Lewis, the Sugababes, Dame Shirley Bassey, Razorlight, Andrea e Sharon Corr, Eddy Grant e Jamelia, Zucchero e Amaral. Alguns deles, já acompanham Mandela desde 1988, há 20 anos. Os artistas Africanos são: Johnny Clegg, Sipho Mabuse, Loyiso, Kurt Darren, Soweto Gospel Choir, The Children of Agape choir, Emmanuel Jal.
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Para inaugurar essa tecnologia aqui na revista inserimos os Feeds da Folha on-line, pois nem todos os sites de notícias contam com este recurso. É a notícia indo até você!
Uma senhora saiu do elevador e como eu estava saindo da minha casa, cordialmente nos olhamos, e discretamente ela me perguntou se eu sabia qual era o apartamento da Sra. Franca, pensei então: "nesse andar só tem dois apartamentos, e eu nao sou a senhora Franca, Federico também não é, Anna muito menos". Não temos cachorro, eu nunca colocaria o nome da minha cachorrinha de Franca. Os cachorros não são francos, são puxa-sacos. O cachorro da minha vizinha late o dia inteiro e eu não posso nem reclamar, porque minha filha grita o dia inteiro. A senhora espera paciente no meu andar... Eu moro no quarto andar. Meu prédio tem poucos andares, mas o suficiente para abrigar os poucos moradores e seus apartamentos antigos e espaçosos. Não é negócio vender apartamentos agora, melhor deixar para herança dos filhos e esses dos netos. É grande e caro mantê-lo, mas melhor nao vendê-lo. Economiza-se no que se pode: na água, no banho, na mesa. A família unida não vende, se mantém, mantém-se viva a idéia de família, todos unidos nas festas religiosas. Eu também fui assim, tentei me enturmar, fiz sempre a ceia de natal na minha casa. Na última estava toda a nobre familia, eu quis caprichar, contratei até um papai Noel, ele chegou bêbado, deu escândalo, e minha filha disse: -Papai Noel pode fazer o que quiser, né mamãe?! A família comentou: - O natal dos brasileiros é assim... O papai Noel era um tipo alternativo, ele achou a minha casa muito burguesa e sem espírito ou energia, como ele mesmo disse, de Natal. Falou bem alto que eu não era livre. Isso porque ofereci a ele coca-cola, e nao vinho. Não sei porque fiz isso, o vinho é o meu vício, meu céu, meu chão. Branco, vermelho ou rosa, eu contemplo suas cores. Com ele sou delicada e faço as mais carinhosas combinaçoes. Com ele vou dormir, acordo pensando e passo o dia esperando. A senhora ainda espera minha resposta. Onde mora a Sra. Franca? Eu moro há muitos anos nesse prédio, portanto tenho a obrigação de dizer quem é a Sra. Franca. Tenho pressa. Preciso superar a Sra. da pergunta e entrar no elevador, mas ela está na porta do elevador. Não sei, mas tenho que responder, preciso ser gentil. Na Europa é educado ser gentil, ser anônimo, não ser incômodo, inoportuno. Non importa nessuno. Ai que saco, quem é essa senhora? Mas, perguntei: - Por acaso essa Sra. Franca é loira com os cabelos curtos? Sim. A senhora da pergunta respondeu. Ah... é a minha vizinha! Obrigada senhora; disse ela. Até logo, por nada; disse eu.
Tá, tá, eu sei que estou nostálgica demais. Mas o que posso fazer se a cada dia eu descubro no youtube uma velharia que me agrada? Eu, balzaquiana que sou, deparei-me numa dessas noites de insônia com o Rock in Rio de 1985.
Muitas lembranças me vieram à memória. Eu só tinha 13 anos. Quase fugi de casa para ir assistir a esse show. Explicando melhor, não era só a rebeldia de adolescente aborrecente que me movia. Nessa idade, eu já tinha uma certa consciência política. Desde os meus dez anos, queria ser presidente do Brasil, hahaha. Imaginem só, as outras meninas querendo ser médicas, professoras, bailarinas e eu já com idéias revolucionárias.
Bom, voltando àquele data, para quem não se lembra ou não sabe, aquele dia não era só o dia do início daquele concerto. Tancredo tinha sido eleito presidente da República do Brasil. O primeiro após 21 anos de ditadura militar. Não foram eleições diretas como queríamos, mas foram eleições! E naquele dia todos estavam embuídos daquela esperança. Era aquele dia! Nós vencemos e tínhamos que comemorar. Acabei não indo ao concerto nem me tornando a grande chefe da nação. Então só me resta contar uma pequena parte dessa história: Rio de janeiro, 15 de janeiro de 1985, ao meio-dia em ponto, jovens vinham correndo, dando pulos e cambalhotas, invadindo a Cidade do Rock até chegar na grade do palco. Era o primeiro Rock in Rio começando, o projeto mais ambicioso de um evento internacional a ser realizado no Brasil. O maior evento mundial de rock na época, depois do Woodstock.
Até então contava-se nos dedos as bandas de rock internacionais que haviam tocado no Brasil. Roberto Medina, que organizou o evento, sabia que o momento era propício para faturar com esse tipo de música. Os jovens brasileiros estavam ouvindo rock internacional e nacional. Este último havia nascido há pouco e era muito bom. Foram gastos 11 milhões de doláres no evento, que contou com o apoio do governo brasileiro a fim de melhorar a imagem do Brasil no exterior. Como se algo ainda pudesse ser consertado... Mas o governo militar não apitou em nada na cidade do Rock. Era tempo de mudanças no Brasil, todos sabiam disso. Assim, o Rock in Rio de 1985 tornou-se um parque de diversão onde os artistas diziam o que pensavam. Afinal o rock é isso aí, é contestação e compromisso com a liberdade. Tudo isso no meio de muita chuva. Era lama, bandeiras verdes e amarelas e diversão para todos os lados.
E um rock irreverente, inteligente e satírico. Se o Brasil parece muitas vezes uma piada sem graça, por que não inverter isso e criticar essas questões através do humor? Foi isso que a versão tupiniquim desse estilo musical fez. Tudo começou com o movimento „udigrude“ dos anos 70 (o new wave nacional) e do Ásdrúbal Trouxe o Trombone, que desde 1974 mixou música e ironia nos palcos. Aí veio a banda Blitz que, com seu humor escraxado, foi responsável pela explosão do rock no Brasil.
Ao longo dos anos 80 as letras foram tornando-se mais politizadas e o rock se estabeleceu de vez entre os nossos jovens, tornando-se o fato cultural mais significativo de tal década no Brasil. Muitos roqueiros vinham de Brasília – existe cidade melhor para se formar rebeldes com causa do que Brasília? Lugar onde o poder está tão próximo e tão longe... Renato Russo e seu Legião Urbana vinham de lá. Junto a Cazuza, líder da banda carioca Barão Vermelho, tornaram-se uns dos maiores ídolos daquela geração. Geração Coca-Cola, como o próprio Renato dizia. Ambos injetaram poesia no rock, percorreram a estrada dos excessos em busca da sabedoria e fizeram o Brasil mostrar a sua cara com questões simples e diretas: “Que país é este?”. E falando verdades sem medo ou pudor: „me chamam de ladrão, de bicha, maconheiro, transformam o país inteiro num puteiro, pois assim se ganha mais dinheiro“. Os dois morreram no auge da fama vitimados pela Aids, o mal do fim do século sobre o qual tanto cantaram.
Cresci ouvindo esses caras, acreditando no que eles diziam. Foram eles que formaram minha opinião. Por isso eu queria ter estado lá naquele dia. E foi um desses dois grandes poetas que tocou no primeiro dia de Rock in Rio. Cazuza e Barão vermelho, subiram pela primeira vez a um palco enorme, o que indicava que o rock nacional tinha conquistado seu espaço. Tinham uma bandeirinha na bateria, Frejat estava de verde amarelo e Cazuza cantou a vitória da democracia mostrando a nova cara do Brasil. Eram os jovens que começavam a acreditar no país. Era o rock brasileiro mostrando seu valor no meio de tantas bandas internacionais. Foi um marco, tanto na história do Brasil como para o rock brasileiro. Cazuza encerra o show com a música Pro dia nascer feliz e com as palavras: „Que o dia nasça lindo para todo mundo amanhã. Por um Brasil novo, uma rapaziada esperta!“
E assim se fizeram os anos 80, a nossa década equivalente aos anos 60 lá de fora. O mais importante nela foi a descoberta da liberdade de expressão por toda uma geração que nunca tinha votado ou tido nenhum movimento político. A gente começava a achar que o Brasil era o país do futuro, um futuro que ainda não aconteceu. Um dia a gente chega lá. Mas isso já é uma outra história.
Numa palestra sobre a produção fonográfica brasileira, em Curitiba, todos os presentes se calaram ao ouvir um senhor que disse: - A facilidade de qualquer um hoje gravar um cd, traz muito lixo ao mercado musical em nosso país! ...e eu perguntei - o que é pior? É a variedade que traz o lixo e te dá a chance de selecionar o que ouvir, ou a imposição do lixo pelo mercado que não te dá escolha? Isso fez surgir um interessante, mas interminável debate que envolveu democracia, liberdade de expressão, jabá, distribuição e monopólio das gravadoras do mercado musical brasileiro. Essa palestra foi há mais de 10 anos. Hoje já teríamos novas mídias para compor a discussão, e as questões seriam outras.
Alemanha, 1989. O projeto EUREKA (EU 147), que teve início 2 anos antes, apresentou uma nova possibilidade que se chamava MP3 (abreviação de Mpeg Layer 3), o terceiro formato de padronização criado pelo Moving Pictures Expert Group. Quase 20 anos depois esses minúsculos aparelhinos fazem um enorme sucesso em todas as gerações. Mp3 é um formato de codificação mais compactado ainda que o Cd e o Lp. Este processo tem como base a psicoacústica, o estudo de como as pessoas percebem os sons. E os codificadores de Mp3 foram elaborados em cima das limitações da audição humana. Através de fórmulas matemáticas, são eliminados tudo aquilo que a psicoacústica garante que não percebemos.
Certa vez, conversando com a Cris Pereira, nos perguntamos se estas facilidades não banalizavam a música de alguma forma. Concluimos que o acesso fácil e a possibilidade de quantificar os números, tornavam a música um acessório da vida cotidiana. A facilidade de baixar qualquer arquivo na Internet em Mp3, através dos Napsters, reúne diariamente milhões de usuários. Com isto, toda a indústria fonográfica está a perigo. As dificuldades ou facilidades de gravar um Cd é uma questão do passado.
Numa matéria de Cassiano Elek Machado para a revista Piauí – março 2007 – André Midane, figura conhecida no meio das gravadoras, deixa claro: “Com as novas tecnologias acabam fisicamente os estúdios, fábricas, distribuição, estoques e lojas, e as gravadoras terão que se concentrar na filtragem e promoção de bandas. E só sobreviverão se virarem empresas de marketing.” E há quem diga que não quer investir no marketing. E Cassiano vai ainda mais a fundo e questiona a qualidade dos novos formatos. Segundo ele “com o Mp3 qualquer um escuta qualquer música. Mas a música virou qualquer coisa”.
Como vemos não somente o mercado da música, mas em qualquer mercado a tecnologia caminha para a perda da qualidade, mas, acessível a todos os bolsos. E há muitos profissionais preocupados com esta perda da qualidade, para outros este não é o problema, e sim na forma com que as pessoas utilizam estes aparelhos, na maneira de difundir e consumir desmedidamente o que coloca dentro dele.
E assim, com um Mp3 à tiracolo, a população trabalha para a consolidação de uma geração de surdos, que se escutarem seus aparelhinhos no volume máximo, causam um estrago irreversível à audição. Na França, o órgão de proteção ao consumidor, obrigou os fabricantes a limitarem o volume dos aparelhos para 100 decibéis. “Cada vez que alguém escuta uma música acima dos limites aceitáveis, perde um fio de cabelo da audição. Em longo prazo teremos muitos carecas” afirma Luis Tonaghi, proprietário de um estúdio no Rio de Janeiro. Que falta faz ir para a casa de um amigo, ligar o toca-discos e vibrar com mais uma descoberta musical. Mas neste tempo os acessos às boas produções vinham por caminhos difíceis, hoje a república das escolhas está aberta, você pode ouvir o que quiser e onde quiser! Os Mp3 são os controle remotos da televisão auditiva!
Uma bela cantora que se chama Mayra Andrade, é a minha dica nesta edição. Cantora caboverdiana residente na França, Mayra lançou seu primeiro cd (com músicas cantadas em língua Crioula e em francês) e levou para casa recentemente o "Prêmio da BBC Radio 3 World Music - 2008". Mayra Andrade, filha de pais cabo-verdianos, nasceu em Cuba há 23 anos, mas repartiu a sua infância por quatro países: Cabo verde, Senegal, Alemanha e Angola. Desde 2003 que vive em Paris, onde se tornou mais conhecida a nível internacional. No Brasil cantou ao lado de Lenine e Chico Buarque, num "single" a favor da luta contra a AIDS. Em 2005, Charles Aznavour, símbolo da cultura musical francesa, convidou Mayra para participar no seu novo álbum, num duo em francês. O show é ótimo e vale a pena conhecer. Mayra Andrade é mesmo fantástica! (Marcelina - agora diretamente da França)
Este foi um evento que teve o apoio da Revista Íntegra e aconteceu no Sternenbar Kiosk Josefwiese. Quem não foi, perdeu uma linda noite de verão recheada de música brasileira da melhor qualidade.
Quem poderia imaginar que um museu sobre uma língua pudesse provocar tantas sensações auditivas, visuais, quase olfativas e despertar tamanho sentimento de pátria, de aconchego, de lar? O Museu da Língua Portuguesa (São Paulo, Estação da Luz) leva os seus visitantes a uma viagem única, ao universo rico e deslumbrante da língua portuguesa. O museu compõe-se de três andares, entre eles, um andar de exposições itinerantes. O 2°andar explora as influências das palavras na nossa cultura, seja na comida, na música ou no comportamento do brasileiro. Vídeos excelentemente produzidos, painéis interativos nos ensinam, por exemplo, como a língua tupinambá influenciou o português ou contam a história dos emigrantes que recebemos, sua particularidades e as palavras que absorvemos desses novos "brasileiros". No 3° piso, ficamos todos no escuro, vendo projeções no teto da sala, mergulhados nos textos de escritores como Monteiro Lobato, Gregório de Mattos, Clarice Lispector.
Continuo deslumbrada com esta experiência e a indico a todos, independente de idade, nacionalidade ou sexo. Indispensável é somente falar português para entender o conteúdo enriquecedor do museu e da nossa língua.
Sabe quando você está naquela correria, longe da terrinha há muito, falando outra língua sem nem se dar conta e, de repente, entra num lugar que está tocando uma música brasileira? -"Ufa!" Respirei aliviada sem nem saber porquê. Como se o tempo tivesse parado por alguns segundos. Ouvi só a música, sem nada mais. Uma voz macia, uma bossinha nova. -"Quanto tempo..." pensei.
E o tempo passa. Agora, de 4 a 22 de junho, tem participação brasileira no Sydney Film Festival. Depois de uma pequena participação no Sydney Latin American Film Festival, com apenas um curta, eles e nós teremos a chance de ver mais pouquinho da cara do Brasil aqui, além mar. Apesar da mostra competitiva não contar com nenhum filme brasileiro, a participação brasileira não decepciona. Entre outros mais famosos, como "Tropa de Elite", o cinema brasileiro responde presente em uma sessão de curtas intitulada "Best of Brazil". Também estamos dentro da "Digital Innovators" com uma seleção da "Videobrasil" 2007, explorando as fronteiras do cinema e do video arte. E mais. Pois hoje, nesse mundo tecno-global, tudo está mais perto. Nunca foi tão fácil ouvir música, ver filmes e tomar um Guaraná. Assim vou indo, sendo surpreendida com a participação brasileira pelo mundo a fora. Cada vez mais presente, fico sempre-muito-feliz-mesmo quando vemos e mostramos além das bundas.
O livro de Nelson Motta sobre a vida de Tim Maia simplesmente VALE TUDO!
Sem censura, restrições ou julgamentos, Nelson Motta narra com paixão e irreverência a vida eletrizante de Tim Maia em “Vale Tudo - O Som e a Fúria de Tim Maia”. Transgressor, amoroso e debochado, o cantor que gostava de se definir como “preto, gordo e cafajeste” se consagrou como um dos melhores, mais queridos e respeitados artistas da música brasileira, o rei do samba-soul. No ano em que se completaram dez anos de sua morte, a história de Tim Maia é resgatada por um de seus amigos mais próximos. O jornalista, compositor e produtor musical Nelson Motta parte da memória da intensa convivência com o cantor (e pesquisa minuciosa) para contar uma história de som, fúria e gargalhadas em torno de um dos personagens mais ricos, divertidos e originais do Brasil moderno. O livro é uma viagem pela vida do cantor, a começar pela infância e juventude, no bairro carioca da Tijuca, até os seus últimos dia de vida em 1997. Para quem ainda não teve oportunidade, por favor, não perca esta leitura agradabilíssima, que vai ficar na sua memória por muito tempo. Este é um daqueles livros que a gente devora, não consegue parar de ler e fica triste quando termina. A receita para este sucesso: a combinação da redação leve e inteligente de Nelson Motta com a louca e intensa história de um personagem único, polêmico e talentoso como Tim Maia. Esta foi das biografias mais divertidas e interessantes que já li. Tim Maia era uma figuraça! E as estórias que se passaram na vida deste ser “magnético”, beiram a incredulidade. Tim era doidão, furioso. Um exagero em várias frentes, no tamanho, na fome, na raiva, no talento, na criatividade. Leia, e depois você vai ficar querendo, como Tim Maia, mais: "Mais grave! Mais agudo! Mais eco! Mais retorno! Mais tudo!".
Por razões que desconheço, a vida insiste em me conectar à Itália. Não tenho antepassados italianos, fato muito comum no Rio Grande do Sul, meu estado de origem. Nunca estudei a língua italiana, e meu interesse pela Itália sempre foi o da grande maioria dos mortais: viajar e conhecer a linda e romântica terra. Esta situação mudou quando comecei a namorar um Italiano, Milanese, com quem dividi muitos anos que me aproximaram da cultura, da geografia e das peculiaridades que envolvem o povo italiano. Durante anos tive a oportunidade de conhecer melhor a música, a literatura, o cinema italiano, e fazer parte de uma “típica” família italiana. Minha relação com Riccardo acabou há algum tempo, mas a vida de novo fez meu caminho cruzar com a Itália. Desde o fim do mês de fevereiro tenho vivido em Roma, atual capital italiana e, por quase mil anos, o centro da civilização ocidental. Mudei para Roma para trabalhar num projeto de pesquisa cientifica na (em tempos idos) muito célebre Universitá di Roma, La Sapienza, fundada em 1303 e atual maior universidade Européia. Sendo brasileira e depois de ter vivido cinco anos em Zürich, a experiência de morar em Roma, e conhecer de perto a vida em uma grande cidade italiana, tem sido, para dizer pouco, inusitada. Já viajei muito pela Itália, conheço quase todas as principais cidades e várias pequenas jóias, que me fizeram pensar em ficar para sempre. Mas garanto que existe uma diferença enorme, que pode mudar nosso ponto de vista, entre conhecer a Itália como viajante ou morar no país. Também acredito que viver no ambiente urbano das grandes cidades italianas seja uma experiência totalmente distinta do que viver em cidades de tamanho médio, ou em pequenos “paesinos”. Do ponto de vista de uma mulher brasileira, cientista, apreciadora de toda a forma de arte, e apaixonada pela diversidade e pela riqueza de viajar, vejo a Itália hoje além do país dos sonhos românticos e, absolutamente, discordo com o a expressão brasileira: ”italiani tutti buona gente”! Italianos são os mais caóticos objetos biológicos existentes na natureza. Brasileiros que acreditam que são os Portugueses desprovidos de raciocínio lógico, nunca tiveram a oportunidade de contemplar a atitude dos italianos no trânsito. Eles (elas também!) são os motoristas mais ignorantes e bárbaros do mundo, pondo à prova o conceito da evolução humana. Italianos pensam complicado, não importa o grau de instrução. A distância entre dois pontos para um italiano nunca será uma reta. E isto salta aos olhos de qualquer bom observador, no mais corriqueiro hábito italiano: o caffè nel bar. Além das mil e uma possibilidades – expresso caldo/freddo,, expresso macchiato caldo/freddo, expresso lungo, decaffeinado, decaffeinado com latte e poca schiuma, caffe d’orzo, cappucino, latte macchiato, caffè corretto, americano, americano coretto com grappa, caffè na tazza, na tazza grande, caffè nel vetro, com panna, doppia panna, etc, etc (só mesmo italianos ou rigorosos estudiosos da arte de preparar café podem entender todas as variedades) – tomar café no balcão na Itália é, na minha opinião, um ato de coragem.
Digo isso após presenciar diariamente a quase selvageria presente no hábito que tantos estrangeiros idealizam como chic, refinado, civilizado. Italiano que é italiano de verdade toma café naquela confusão e aperto, com dezenas de braços sobre a cabeça, com o barman suando e correndo como louco, naquela barulheira (porque todo mundo fala MUITO), sob cotoveladas e empurrões, prensado contra o balcão pela massa muito pouco gentil e voraz querendo seu espaço.
Eu já me conscientizei que jamais irei me acostumar ou adaptar a esta “cultura do mais forte (e menos gentil) que predomina” que existe aqui. Vou sempre passar horas na fila do bar (para alcançar, educadamente, meu simples cappucino), da pizzeria, da pasticceria, da gelateria... e acabar sempre irritada, furiosa e impressionada com a atitude de “questa brava gente”! Minha experiência em Roma terminará antes do planejado, pela minha insatisfação com a péssima qualidade de vida e frenesi da cidade. Mas da Itália, quero permanecer com a impressão positiva, registrar na alma e na memória a beleza e os encantos deste país tão suigeneres. E ainda que no contato mais próximo eu tenha descoberto que é um mito a idéia de que todos os italianos são abertos, bem-humorados, gentis e solidários, vou sempre manter minha profunda admiração pela civilização que deu ao mundo... as cores de Michelangelo, as formas de Bernini, a pureza da pintura de Rafaello, o contraste de Caravaggio, o mistério do conhecimento de Leonardo da Vinci. A arquitetura inacreditável e poética de Ravello, Venezia, Firenze, Cinque Terre, Positano e Amalfi. A obra de Vivaldi, a música de Ângelo Branduardi e Fabrizio de André, a literatura de Primo Levi, o cinema de Fellini, Tornatore e Salvatores...
Vejam, não quero escandalizar-lhes com esta frase, com pouco fundamento nesse blog de questões sociais e culturais, nem tampouco fazer qualquer tipo de polêmica. O fato é que outro dia falando com a minha íntegra amiga Thais tive uma grande surpresa ao sair de sua íntegra boca a frase: "Tenho uma puta alergia desse pólen do caralho!"
Ela ainda se desculpou dizendo que estava passando por uma fase um pouco adolescente, mudou de assunto e perguntou se na Itália estava fazendo sol, eu respondi - "melhor não perguntar pelo sol aqui na Europa que ele logo se esconde, puta que o pariu!"
Vejam amigas, não sou o perfil de pessoa que o usa o palavrão para se defender, mas devo admitir que desde que me mudei para a Europa, escutá-lo me traz uma estranha sensação de saudade e também alívio, me sinto em casa. Sim, porque palavrão tem mais sentido na língua de origem. E eu fui despejando um balde fodido de palavras não toleráveis na nossa sociedade pudica e reprimida.
Mas a "ciência do palavrão" pode nos explicar e esclarecer muito da nossa necessidade física e emocional em aliviar a tensão dessa zona cerebral reprimida. Pesquisas recentes mostram que as palavras sujas nascem em um mundo a parte dentro do cérebro, enquanto a linguagem comum e o pensamento consciente ficam a cargo da parte mais sofisticada da massa cinzenta, o neocórtex. Os palavrões moram nos porões da cabeça. Mais exatamente no sistema límbico. É o fundo do cérebro, a parte que controla nossas emoções. Trata-se de uma zona primitiva: se o nosso neocórtex é mais avantajado que o dos outros mamíferos, o sistema límbico é bem parecido. Nossa parte animal fica lá. Uns são contra o palavrão, admitindo o seu uso por outros somente em determinadas ocasiões. Cacilda Becker defendia-o no teatro: “Quando o palavrão vem dentro de um espetáculo de cultura e atende às necessidades indiscutíveis de esclarecimento do público - em todo o Brasil normalmente culto - faz parte da obra de arte e é absolutamente justificado. Condená-lo é uma atitude, se não hipócrita, ao menos ignorante”. Oduvaldo Viana era totalmente favorável ao uso do palavrão no teatro, acrescentando, porém: "Não é qualquer um que consegue usá-lo bem; o seu emprego é uma arte”. O escritor Gilberto Freyre disse: "No momento exato, sim, o palavrão é necessário.”Quase todos falam palavrão; quando não falam, pensam o palavrão!
Mas isso amigas, nao quer dizer que precisamos sair por aí dizendo palavrões, é só para ter consciência que quando a saudade apertar, sabemos aonde começar o nosso resgate cultural.
Aliás, antes que eu me esqueça: “tô com uma puta saudade do Brasil!”
Sou do tempo em que enciclopédias eram objetos de difícil acesso, caros e que pertenciam ao reino dos estudantes, ou dos estudiosos. Livros grandes, pesados, com capas sisudas, de aspecto tradicional. Creio que consultar enciclopédias não fosse um hábito freqüente, mesmo que muitas famílias as tivessem em casa. Eu, mesmo tendo estudado muito e por longos anos, nunca tive o hábito ler este tipo de livro. Mas o desenvolvimento da tecnologia da informação e a internet criaram mais uma grande revolução, a revolução do acesso e da troca de conhecimento.
Para quem não conhece, na internet existe uma coleção de páginas, chamada Wikipedia, contendo artigos sobre as mais diversas áreas do conhecimento humano. A Wikipedia, chamada de Enciclopédia Livre, num conceito moderno, está disponível em 257 idiomas, e apresenta mais de 7.5 milhões de artigos. O maior conteúdo se encontra nas versões em inglês (mais de 2.360.000 artigos) e alemão (mais de 745.000 artigos). A versão em português apresenta atualmente mais de 376.000 artigos. O conceito moderno refere-se não somente à facilidade e velocidade de acesso ao conteúdo, mas principalmente à forma como este é adicionado à enciclopédia. Na Wikipedia, qualquer um pode adicionar novos artigos, modificar e ampliar artigos pré-existentes. Este conceito, chamado “Wiki”, caracteriza qualquer rede de páginas web, contendo as mais diversas informações, que podem ser modificadas e ampliadas por qualquer pessoa através de navegadores comuns, ou qualquer outro programa capaz de ler páginas em HTML e imagens. Nos moldes da Wikipedia existem outros projetos, todos hospedados pela Wikimedia Foundation (organização não-governamental situada em São Francisco, nos EUA): (i)Wikinews; (ii)Wiktionary; (iii)Wikiquote; (iv)Wikibooks; (v) Wikisource; (vi)Wikispecies; (vii)Wikiversity. A Wikibooks apresenta uma coleção de livros e textos didáticos de conteúdo aberto, enquanto a Wiskisource contém uma biblioteca com livros e textos de domínio público (atualmente 106.397 textos na versão em inglês e 16.304 na versão em português). Ainda que exista certa controvérsia e preocupação, principalmente relacionada ao fato de que qualquer um, especialista ou não, poder editar o conteúdo, a Wikipedia é um grande sucesso. Atualmente a enciclopédia é não somente o maior trabalho de referencia geral disponível na internet, mas também o de mais rápido crescimento e popularidade - a versão inglesa esta entre as dez páginas web mais visitadas do planeta. Eu, com minha eterna sede de conhecimento, acho a Wikipédia uma das melhores criações da internet. Imagino que, todos os que por curiosidade se deixaram levar pelo fluxo aleatório de conhecimento que as páginas propiciam, já experimentaram a delicia de surpreender-se com esta moderna fonte de informação. O conteúdo da enciclopédia e extensivamente “cross-linked", i.e., na descrição de um determinado assunto, conceitos que também possuem uma página descritiva na Wikipedia, podem ser acessados através dos links. E é uma grande diversão descobrir as informações mais interessantes e curiosas (às vezes aquelas bem inúteis, mas que tornam a vida mais leve) que a pessoa jamais pretendeu ou imaginou saber quando entrou na Wikipedia para pesquisar o seu assunto de interesse.
Para terminar vou dar um exemplo divertido desta maravilha que é a Wikipedia. Um dia destes resolvi ampliar meu conhecimento sobre o tema “Magical Realism”. Encontrei na versão em inglês tudo (e muito mais) que podia imaginar sobre o assunto. Mas a minha curiosidade, razões subjetivas e componentes aleatórios, me levaram à página que descreve o conceito de “serendipity”. Por sua vez esta me levou a descobrir, entre clics, e clics, que os efeitos do LSD (Lysergic acid diethylamide) foram descobertos serendipitously (casualmente) pelo químico Albert Hofmann, na Suíça (onde fiz pesquisa, em Química, por anos) no dia em que ele ingeriu acidentalmente uma pequena quantidade do composto que acabara de sintetizar e notou sua própria alteração psíquica. Três dias depois, Hofmann resolveu ingerir voluntariamente 250 microgramas de LSD para testar mais a fundo os efeitos do composto. Sentindo-se muito mal com os primeiros efeitos da droga, teve que ir para casa, escoltado pelo assistente de laboratório, no seu habitual meio de transporte, a bicicleta.
Na bicicleta, teve o que foi registrado como a primeira "viagem de ácido" da história: delírios e alucinações terríveis, e alterações psicológicas que permaneceram até o dia seguinte. Esta data marca o nascimento da célebre droga que fez tantas famosas almas artísticas delirarem e produzir aclamadas obras e tantas outras almas se perderem no caminho. Entre os que usaram a droga pelo prazer de experimentar as viagens psicodélicas, este dia, 19 de abril de 1943, ficou conhecido como “Bicycle Day”. Para minha surpresa e diversão, “the Bicycle Day”, 19 de abril, é exatamente a data de aniversário do meu namorado, também cientista na Suíça, que vive na bicicleta, e assim como Hoffman, usa a magrelinha todo santo dia para ir e vir do laboratório. Mas que, para meu alívio, ufa, não usa LSD ;-) ! Para experimentar uma “grande viagem”, no conhecimento humano, visite uma hora destas a Wikipédia - http://wikipedia.org/ – relax and enjoy!!!!
Cristina Pereira, Roma - Itália
P.S.: todas as informações históricas contidas neste artigo foram obtidas na Wikipedia em inglês, http://en.wikipedia.org/, onde as referências originais podem ser encontradas.
Mulheres que escolhem Portugal e Espanha para estudar, fazer negócios ou simplesmente mudar de ares têm que provar o tempo todo que não estão lá para se prostituir ou arrumar marido. Fomos aos dois países rastrear as origens do preconceito – que se espalha pela Europa e está cada dia mais agudo.
A estudante gaúcha Manoela Rysdyk, 28 anos, e uma amiga andavam em Lisboa, pelas ruas do Bairro Alto, cheio de bares charmosos e onde não circulam carros. Um motorista afoito surgiu num Alfa Romeo, buzinou e gritou para elas saírem da frente. Manoela respondeu e o homem, irritado, saiu do carro já acertando socos e pontapés nas duas. A polícia chegou, o português se adiantou: “São prostitutas brasileiras”. Enquanto a gaúcha e a amiga tentavam dar a versão delas, o policial pediu o passaporte e decretou: “É mentira, vocês são mesmo prostitutas brasileiras”. Manoela ficou uma semana sem pôr o pé na rua, chorando. Pouco tempo depois, de volta a Porto Alegre, recebeu o diagnóstico de síndrome do pânico. Na Espanha, a nutricionista paranaense Sueli Moreira, 38 anos, preferiu perder a fiança que pagou a continuar na república onde alugava um quarto. Como parte do seu doutorado pela Universidade de São Paulo, precisava passar sete meses em Barcelona. Já nos primeiros dias no novo endereço, onde viviam apenas pós-graduandos estrangeiros, ouviu da esposa de um colega a determinação de não chegar perto do marido dela: “Toda brasileira é prostituta”, sentenciou. São situações como essas que as brasileiras têm enfrentado no dia-a-dia em Portugal e na Espanha. Não faz diferença nem o grau de formação, nem a qualificação profissional, nem mesmo o tipo físico. No imaginário europeu, a mulher brasileira é livre, sensual, não mede esforços para atingir seus objetivos e não vê barreiras que a impeçam de trocar de par se ela não está feliz. Essa lista de atributos atesta que estamos falando de uma mulher bem-resolvida e dona de si, mas na Europa tem sido sinônimo de mulher volúvel, infiel, cidadã nada confiável.
Patrícia Jota de Lisboa, e Daniel Setti, de Barcelona