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quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Ordinário

Avisto o ônibus que ameça ir embora sem mim. Corro, aceno, consigo alcançá-lo e rezo para não perder o próximo. Quinze minutos, desço e, sorte, o outro ônibus já está no ponto. Mais uma vez a mesma encenação, corro e aceno o derradeiro “me-espere-pelo-amor-de-deus”. Passo na roleta e mal acredito no oásis, cadeiras vazias! Assento o corpo, acomodo os pensamentos, coloco os fones de ouvido, fecho os olhos e agradeço, agora só mais quarenta minutos. Dois pontos e uma senhora carregada de um universo particular senta ao meu lado e invade os limites que deveriam separar estranhos. A mulher e toda sua existência me espremem contra a janela. Respiro fundo e, vingativa, torço para que haja uma curva para a esquerda que leve a abençoada e suas sacolas, casacos e falta de noção para o meio do ônibus. Ela cochila e se esparrama mais um bocadinho. De repente a tal curva para a esquerda, tão inesperada quanto o meu ato reflexo de salvar a mulher e toda sua parafernália. Ela se apruma, sorri e agradece. Com a irritação diluída no sorriso, recoloco meus fones de ouvidos torcendo por uma grande reta até nosso destino. Quem sabe ainda sobreviva nesta alma selvagem algum vestígio de humano, melhor, de divino herdado da minha amada avó. Um naco de boa vontade, humor e paciência. Amém! A bênção, vó!

Dona Maria - Rio de Janeiro, Brasil

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