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quarta-feira, 17 de novembro de 2010

6o. Festival Cinema Brasil em Hamamatsu, Japão

O lado A
Ontem fui assistir o "Palavra (En) cantada", um documentário de Helena Solberg produzido em 2008.
Uma aula de música, poesia e prazer recheado de papos, historinhas e canjas de Lenine, Adriana Calcanhoto, Antonio Cícero, Tom Zé, Chico Buarque e outros ícones da música e da cultura brasileira. Além da seleçao de imagens e documentos. Eu ficaria mais algumas horas sentado assistindo toda aquela maravilha.
Historinhas que vão das canções provençais ao rap da periferia de São Paulo, mostrando que a nossa poesia e a canção estão intrinsicamente ligada uma à outra como se fossem um só produto de criação e prazer onírico e cultural.

O Lado B
É a primeira vez que o festival é apresentado em Hamamatsu.
Triste foi ver a sala vazia. A maioria de curiosos japoneses, poucos brasileiros.
A falta de interesse dos próprios brasileiros pelo cinema ou música brasileira passa pela jocosidade ou preconceito baseado no tempo em que se fez muita pornochanchada nas produtoras do centro de São Paulo. O som é ruim. O que eles náo sabem é que as salas é que tinham o som muito ruim. Alguns alegam que o cinema nacional da "Retomada" passa pelo filtro do ultra-realismo, da violência, favela, pobreza e desencanto com a fantasia. A fantasia, hoje em dia, no mais caro e popular que se produz na maior industria cinematográfica do mundo, é banal e infantilizada, com duendes de anéis, ingênuos povos azuis, jovens vampiros e metálicos heróis voadores que soltam raios pela palma da mão.
O fato é que o público em geral não consegue mais ver um diálogo com mais de trinta segundos sem querer mudar de canal ou trocar de filme ou sair da sala. Incomoda. Há quantos anos não vemos em Hollywood diálogos como Jules e Vincent em "Pulp Fiction" ou o astronauta Dave e o computador Hal em "2001 - Uma Odisséia no Espaço"?
Será cansaço dos roteiristas ou o final de uma era, do cinema de diretor/autor hollywoodiano? Assim explica-se a fuga para a Europa de Woody Allen?

É mais fácil e barato fazer um remake de uma idéia que já é milionária no simples dizer de seu nome do que criar, só criar, sem pensar no processo industrial e nas contas bancárias.
Não acho que o cinema barato seja melhor ou pior. Mas há produções fora do circuito pop-California que nos remetem ao prazer de ver cinema & literatura na tela, assim como música & poesia num disco. Não são, como é martelado na cabeça dos espectadores, monstrengos elitistas feitos para nerds e ratos de biblioteca que gostam de filmes preto-e-branco e papos-cabeça.
Para o público brasileiro que acha que só produzimos ultra-realidade crua e violenta, dou a dica de "A Ostra e o Vento", de Walter Lima Jr., um filme de 1997, com Lima Duarte e Leandra Leal nos papéis principais. É uma poesia de imagens, música, roteiro e fantasia. É um dos filmes mais belos já produzidos e estou falando em termos mundiais.

O Lado C
Outro dia li num desses fóruns na internet que o Diogo Mainardi é "um babaca que só reclama e não cria soluções". Pode ser. Mas ler isso fica mais interessante ao constatar que a pessoa que reclama da pessoa Mainardi também não tem nenhuma solução a apresentar, só a reclamação sobre o cara. Ótimo. Fica um círculo vicioso de nadas discutindo com vazios. E eu no meio representando meu vácuo.
Eu também só reclamo. Não tenho nenhuma solução para a falta de público brasileiro num festival de cinema brasileiro. O interesse das pessoas baseia-se no que está ao redor, no que elas aprenderam a acreditar e gostar, sob a perspicácia e tênue motivação dos cinco sentidos. Isso faz-se interessar, somar numa sala de cinema, como é o caso. Infelizmente, aprendemos que somos um país monoesportivo, polireligioso, sem preconceitos, mas com pretos feios e pobres, brancos ricos, bonitos e valentes. Isso náo se muda com um decreto ou um blog. Mas reclamo para poder manter a idéia acesa mesmo que ela venha desprovida de solução, como querem.

Nei Shimada - Hamamatsu - japão

corsarios-efemeros

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