“E se um dia ou uma noite um demônio se esgueirasse em tua mais solitária solidão e te dissesse: esta vida, assim como tu vives agora e como a viveste, terás de vivê-la ainda uma vez e ainda inúmeras vezes: e não haverá nela nada de novo, cada dor e cada prazer e cada pensamento e suspiro e tudo o que há de indivisivelmente pequeno e de grande em tua vida há de te retornar, e tudo na mesma ordem e sequência – e do mesmo modo esta aranha e este luar entre as árvores, e do mesmo modo este instante e eu próprio. A eterna ampulheta da existência será sempre virada outra vez – e tu com ela, poeirinha da poeira!”. Temperatura de 26º, sensação térmica de 50º. Senhas. Filas. Espiral do inferno. Próximo. Marés de Araribóia: subindo insatisfações, descendo xingamentos. Próximo. A porta trava. Próximo. A criança chora. Próximo. A velhinha desmaia. Próximo. Uma legião escada abaixo, escada acima. Próximo. Diante da platéia o revide contido entre dentes e contrações musculares. Próximo. Na coxia todas as falas de um dia de furia. Próximo. Um gole de café para firmar o pulso. Próximo. Gritos, exageros, mais alguém desmaia. Próximo. Conciliação das transitórias: 16 garrafas de café, 01 garrafa de chá, 6 galões de água, 02 auditores, 01 policial armado, algumas carteiras de cigarro, um pouco de antiácido, algum analgésico, uma tampa de privada quebrada, dois botões danificados em um dos elevadores, uma torneira de bebedouro arrancada, restos de bom humor. Saldo zerado. O bom filho à casa torna. Próximo.
Dona Maria - Rio de Janeiro - Brasil
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