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segunda-feira, 22 de novembro de 2010

A Elegância do Ouriço - Miriam

A ironia e o sarcasmo têm seu fascínio. Como o ouriço, com aquelas agulhinhas e cara de fofo. Talvez por isso tenha escolhido este livro, entre tantos nas estantes da livraria. Ainda bem. Com o pouco tempo livre que tenho, é bom quando o passo com algo inusitado. E, mesmo sabendo que, como disse o Ferreira Gullar, “um mesmo livro nunca é o mesmo para duas pessoas”, arrisco-me a recomendá-lo.
Não é leitura que flui facilmente, apesar de bem escrito e prender a atenção. Nada contra bestsellers que, com suas narrativas simples, também cumprem seu papel - e eu os leio, sim. Mas resolvi explorar outra possibilidade, que me exigisse mais persistência.
As duas personagens que criam a trama com suas reflexões e a acidez de suas análises sobre o comportamento dos moradores de um edifício de luxo em Paris – quem ousaria isso na cidade das luzes, onde o glamour é maior que a realidade – e seus conflitos, vão tornando a leitura por vezes arrastada, mas instigante.
A visão feminina permeia o romance, afinal é sob o ponto de vista delas que a história é contada. A concierge cinquentona do prédio esconde uma sofisticada cultura artística (literário-musical-gastronômica especialmente) apenas para “corresponder à crença social que associa o paradigma da concierge a uma velha, feia e rabujenta, sem educação”, para fazer “girar a grande ilusão do universo de que a vida tem um sentido que pode ser facilmente decifrado”. E a pré-adolescente revoltada com sua vida de filha de “pobre família rica”, que programa o suicídio para o dia em que irá completar treze anos, cujo questionamento leva-nos ao confronto com nossos próprios fantasmas.
Uma turba de personagens permeia o conto, inverossímeis ou não, todos servindo ao propósito da análise de uma sociedade fadada à falência – e, o pior, à solidão.
Lugar comum, ou não, o representante masculino – e quase redentor - é oriundo da cultura asiática. E voilà ocidente-oriente ... Belas reflexões filosóficas sobre beleza e arte, verdades e mentiras, simplicidade e arrogância, o superficial e o profundo, crenças versus realidade, sentido da vida e morte vão se sucedendo. (Ok, ok, para os iniciados, seja lá o que isso for!)
É... parafraseando Fernando Bonassi, a literatura, realmente, “nos transforma em seres humanos menos piores”.
Em tempo: vasculhando a internet descobri que fizeram um filme baseado neste romance:
Le herisau. Quem o assistiu/assistir que o comente!

Miriam Vizentini - Baden, Suíça

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