Sinceramente, diz aí: o que você pensa de um professor ? Qual é o papel que ele deve desempenhar em sala de aula? Fora dela? E o que você espera da escola? Qual o real valor dessas “entidades”? Não, não estou pedindo as imagens idealizadas, as “expectativas de um mundo melhor nas mãos da escola” e sim as vivências, a experiência real.
Vamos lá, não é difícil, não ! Deixe aflorar suas certezas e dúvidas, mágoas, agradecimentos, frustrações, saudades, boas recordações, traumas...
Como professora, ultimamente, tenho feito essa pergunta a mim mesma também - e agora convido você a pensar ... vamos lá !
(... tempo para pensar na sua história ...)
Agora, acrescente à sua reflexão a seguinte situação: este professor tem em sua sala de aula, nos subúrbios de uma grande cidade, alunos provenientes de diferentes classes sociais.
Coloque mais um elemento, por favor: esses jovens têm origens diversas, culturalmente falando – idioma, costumes, valores, religião, crenças - além de suas diferentes expectativas em relação à escola, incluindo medos, dúvidas, indiferença, raiva, desinteresse, descrença ...
Ah sim, tudo isso na ebulição da adolescência, com seus questionamentos sobre tudo, sua indisciplina, seus problemas de aprendizagem ...
Depois dessa reflexão, assista ao filme: La classe – entre les murs (The class / Entre os muros da escola - Palma de Ouro no Festival de Cannes 2008). Digo depois de refletir porque, assim, o efeito será bem mais interessante.
Não se trata exatamente de um documentário, mas também não deixa de sê-lo parcialmente, uma vez que os atores representam a si mesmos, neste trabalho do diretor francês Laurent Cantet, baseado no livro “semiautobiográfico” do professor François Bégaudeau – que além de representar François Marin, o professor, colabora no roteiro ao lado de Cantent e de Robin Campillo.
O professor da tela aparece bem intencionado, mas completamente perdido. Seu bem-estruturado programa a ser cumprido, seus pressupostos educacionais arraigados, suas expectativas quanto a seu papel vão caindo por terra e assistimos a um desmoronar de mitos. O que para ele é diálogo aberto, para os alunos cheira a obrigação. Ele oscila, sem limites, entre o ser compreensivo e autoritário. As informações, o conhecimento por ele considerado como “essencial” é algo quase hermético ao entendimento dos jovens - ironicamente estão numa classe de língua e literatura francesa, onde o idioma está longe de ser o elemento facilitador da comunicação, mas passa a ser o ponto de discórdia e distanciamento, entre os dois lados de um verdadeiro front.
E seguimos as reuniões de professores perplexos diante de situações incômodas e problemas com seus alunos, as discussões sem encontrar saídas para os problemas apresentados, seus conflitos e frustrações, sua escancarada condição de humanidade (caem quaisquer possíveis posições de “endeusamento”). Seguem-se também alguns acontecimentos envolvendo pais quase inatingíveis, enfim, tudo o que se pode observar, em maior ou menor intensidade, nas escolas do nosso mundo “globalizado”, a mesma problemática, esteja a classe na periferia de Paris, Zurique, Nova York, Roma, ou no eixo Rio-São Paulo.
Saímos do cinema com a certeza de que a escola, nos moldes como está estruturada, de certa forma agoniza, despe-se de suas certezas.
E é aí que reside o melhor do filme – e o diferencia de filmes já realizados envolvendo este mesmo tema (“professor x classe difícil”): na tomada de consciência da dificuldade de lidar com todas essas diferenças dentro da escola. Fica clara a atual incapacidade de professores - e pais - de gerenciar tantas variáveis. Nitidamente vê-se que é preciso reformular o que se acredita ser o trabalho educacional, os regulamentos, a organização, os pressupostos teóricos, enfim repensar a escola para a nova realidade – e fazê-la ir além dos livros, programas e provas.
O desafio de trabalhar com crianças e jovens em classes ditas multiculturais e de periferia é imenso. Tenho acompanhado de perto a batalha diária de vários bem-intencionados professores suíços de Zurique, na busca de levar suas turmas a se harmonizar aos moldes vigentes e percebo como muitas vezes sentem-se desorientados. Tenta-se aliviar algumas tensões ao buscar os professores de língua e cultura materna como mediadores culturais, para explicar aos alunos as regras da escola e o que se espera deles, para esclarecer as possíveis diferenças de ensino e nomenclatura (por exemplo, na matemática), orientar os pais que não dominam o idioma a entender as expectativas da escola quanto ao papel dos pais e vice-versa, procurando dar um pouco mais de segurança nos primeiros meses de escola a aluno, professor e pais. Despende-se muita energia para algum resultado, muitas vezes, não se evita a frustração de todos – mas já é um começo.
Vamos lá, não é difícil, não ! Deixe aflorar suas certezas e dúvidas, mágoas, agradecimentos, frustrações, saudades, boas recordações, traumas...
Como professora, ultimamente, tenho feito essa pergunta a mim mesma também - e agora convido você a pensar ... vamos lá !
(... tempo para pensar na sua história ...)
Agora, acrescente à sua reflexão a seguinte situação: este professor tem em sua sala de aula, nos subúrbios de uma grande cidade, alunos provenientes de diferentes classes sociais.
Coloque mais um elemento, por favor: esses jovens têm origens diversas, culturalmente falando – idioma, costumes, valores, religião, crenças - além de suas diferentes expectativas em relação à escola, incluindo medos, dúvidas, indiferença, raiva, desinteresse, descrença ...
Ah sim, tudo isso na ebulição da adolescência, com seus questionamentos sobre tudo, sua indisciplina, seus problemas de aprendizagem ...
Depois dessa reflexão, assista ao filme: La classe – entre les murs (The class / Entre os muros da escola - Palma de Ouro no Festival de Cannes 2008). Digo depois de refletir porque, assim, o efeito será bem mais interessante.
Não se trata exatamente de um documentário, mas também não deixa de sê-lo parcialmente, uma vez que os atores representam a si mesmos, neste trabalho do diretor francês Laurent Cantet, baseado no livro “semiautobiográfico” do professor François Bégaudeau – que além de representar François Marin, o professor, colabora no roteiro ao lado de Cantent e de Robin Campillo.
O professor da tela aparece bem intencionado, mas completamente perdido. Seu bem-estruturado programa a ser cumprido, seus pressupostos educacionais arraigados, suas expectativas quanto a seu papel vão caindo por terra e assistimos a um desmoronar de mitos. O que para ele é diálogo aberto, para os alunos cheira a obrigação. Ele oscila, sem limites, entre o ser compreensivo e autoritário. As informações, o conhecimento por ele considerado como “essencial” é algo quase hermético ao entendimento dos jovens - ironicamente estão numa classe de língua e literatura francesa, onde o idioma está longe de ser o elemento facilitador da comunicação, mas passa a ser o ponto de discórdia e distanciamento, entre os dois lados de um verdadeiro front.
E seguimos as reuniões de professores perplexos diante de situações incômodas e problemas com seus alunos, as discussões sem encontrar saídas para os problemas apresentados, seus conflitos e frustrações, sua escancarada condição de humanidade (caem quaisquer possíveis posições de “endeusamento”). Seguem-se também alguns acontecimentos envolvendo pais quase inatingíveis, enfim, tudo o que se pode observar, em maior ou menor intensidade, nas escolas do nosso mundo “globalizado”, a mesma problemática, esteja a classe na periferia de Paris, Zurique, Nova York, Roma, ou no eixo Rio-São Paulo.
Saímos do cinema com a certeza de que a escola, nos moldes como está estruturada, de certa forma agoniza, despe-se de suas certezas.
E é aí que reside o melhor do filme – e o diferencia de filmes já realizados envolvendo este mesmo tema (“professor x classe difícil”): na tomada de consciência da dificuldade de lidar com todas essas diferenças dentro da escola. Fica clara a atual incapacidade de professores - e pais - de gerenciar tantas variáveis. Nitidamente vê-se que é preciso reformular o que se acredita ser o trabalho educacional, os regulamentos, a organização, os pressupostos teóricos, enfim repensar a escola para a nova realidade – e fazê-la ir além dos livros, programas e provas.
O desafio de trabalhar com crianças e jovens em classes ditas multiculturais e de periferia é imenso. Tenho acompanhado de perto a batalha diária de vários bem-intencionados professores suíços de Zurique, na busca de levar suas turmas a se harmonizar aos moldes vigentes e percebo como muitas vezes sentem-se desorientados. Tenta-se aliviar algumas tensões ao buscar os professores de língua e cultura materna como mediadores culturais, para explicar aos alunos as regras da escola e o que se espera deles, para esclarecer as possíveis diferenças de ensino e nomenclatura (por exemplo, na matemática), orientar os pais que não dominam o idioma a entender as expectativas da escola quanto ao papel dos pais e vice-versa, procurando dar um pouco mais de segurança nos primeiros meses de escola a aluno, professor e pais. Despende-se muita energia para algum resultado, muitas vezes, não se evita a frustração de todos – mas já é um começo.
2 comentários:
Gostaria de contar uma experiência positiva escolar, que remonta há mais de 50 anos, qdo estava eu ainda no "grupo escolar", escola pública do interior: Minha profa reservava sp, no final da aula, alguns minutos para ler para nós um trecho de um romance. Só posso dizer que não se ouvia um "pio" na sala de aula, era um momento quase que sagrado, sp bem vindo. Acredito que ela tenha colaborado com meu gosto pela leitura, e deqq forma sou-lhe grata por aqueles momentos inesqueciveis, cheios de sonhos e fantasias.Era uma outra época, já bem distante, está certo. Mas fica a pergunta: o que podemos hoje oferecer de inesquecivel?
Oi Miriam, assisti "Entre les Murs" e realmente mexeu comigo. Pensei sobre várias coisas e muito na nossa conversa no café sobre o papel da família na formação dos valores do "ser" humano. Depois do filme pensei, essa não é uma luta solitária, nem da escola, nem da família. É um trabalho conjunto que formará pessoas melhores. Mas o que temos hoje são famílias desestruturadas e professores despreparados para tantas tranformações. Mas o professor, este despreparado, pode também ser parte de uma família desestruturada, e é tão difícil conciliar as duas coisas.
Que falta faz o tempo em que surpresas enchiam a sala de atenção tranformando-a num momento sagrado, hoje em dia a surpresa deve ser gigantesca em poporções ou tocando algo tão profundo que está quase inalcansável, e a pergunta segue: o que podemos nós, como família ou escola, oferecer de inesquecível?
Postar um comentário