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domingo, 28 de setembro de 2008

Consultório rock-sentimental

Neste verão, depois de um longo semestre de inglórias batalhas diárias, cavando com as unhas (instrumento primitivo, mas que trouxe comigo na bagagem e que ninguém me tira!) um espaço na arenosa paisagem profissional suíça, praticamente inexistente para imigrantes-qualificados-não-reconhecidos, resolvi tirar férias de mim, ou ao menos desta parte psicóloga-professora que insiste em querer lutar em período integral.

Procurando pelos amigos, descubro que a maioria deixara terras helvéticas em busca da felicidade e os que aqui ficaram encontrei mergulhados no trabalho ou em afazeres inadiáveis... desconfortável sensação de solidão!

Decidida a não me deixar cair em depressão, entre um e outro trabalhinho doméstico (é incrível como são intermináveis!) e alguns banhos refrescantes em qualquer lago-piscina-rio encontrado no abafado eixo Baden-Zurique, resolvi viajar no tempo, pelo delicioso mundo do rock-and-roll, contagiada pelo alto-astral do musical Mamma mia - restou-me assistir ao filme, depois que perdi a apresentação em Londres!

Já tinha lido em qualquer lugar que adolescência e envelhescência são lados de uma mesma moeda, então nada de estranho em voltar a me refugiar nos meus discos, ora... e na internet, porque afinal somos pós-modernos!

Entre ritmos e letras inspiradoras deste meu “abba-momento” (“Mamma mia, here I go again, my my ... how can I resist!!!” / “You are the dancing queen, young and sweet, only seventeen... you can dance, you can jive, having the time of your life”), tive um insight: porque não mudar, jogar tudo pro alto e abrir um “consultório rock-sentimental”? Trabalho muito mais divertido e fácil – e talvez até mais eficiente – do que o que faço atualmente.

E, grande vantagem, as respostas já estão todas lá, nas letras das músicas!

Começo pegando leve, nada hardcore... vou aos Beatles – “All you need is love” – primeira premissa: se você não tem um amor, essa é a explicação deste mal estar que lhe domina, minha amiga... Questão: o que se pode fazer?

The Doors ensina: “Come on baby and light my fire”.

Brigou com seu amor? Insista, não o deixe partir. Aprendendo com as canções do Abba: “Yes, I’ve been brokenhearted, blue since the day we parted, why, why did I ever let you go?” - ou com a suplica do jovem James Blunt: “I’m not calling for a second chance I’m screaming at the top of my voice”. Caramba… como não pensei nisto antes?!

Seu namorado acha que sexo é tudo? Coloque pra ele ouvir “Amor e sexo” da Rita Lee, ao invés de discutir a relação... “Amor é um livro / Sexo é esporte / Sexo é escolha /Amor é sorte /Amor sem sexo / é amizade / Sexo sem amor / é vontade / Amor é um / Sexo é dois / Sexo antes / Amor depois”...

Já imagino como seria meu consultório: uma sala de bom tamanho, iluminação nem muito escura que dê sono, nem muito clara que quebre o encanto. Com cadeiras, um divã (preciso me lembrar de colocá-los na lista de compras da IKEA!!!) e um aparelho de som - estou em dúvida entre um antigo toca-discos ou um dos recentes mp3 ou Iphone, com capacidade de armazenar milhares de melodias. A cada problema levantado, uma música entra no ar e vamos avaliar sua letra, fazendo um paralelo com a situação apresentada.

E vou me aprofundando na pesquisa. O Mettalica (saudoso Cliff Burton!) deixa sua mensagem de renovar a relação (“Trust I seek and I find in you / every day for us something new / open mind for a different view /and nothing else matters”)…

Continuo minha “viagem”, agora pelo youtube… Talvez acrescentar na salinha um computador com beamer e uma tela não fosse má idéia, pois sempre podemos falar um pouquinho sobre o grupo, sua indumentária, performance, comportamento e aparência, estas coisinhas que fazem diminuir as tensões ...

Procuro por aquele que era um dos meus grupos favoritos: Led Zeppelin – olha lá... Jimmy Page e Robert Plant arrasando no sempre-hit “Stairway to Heaven”. Mensagem mais clara impossível: “There’s a lady buying the stairsway to heaven / she knows / if the stores are all closed / with a word she can get what she came for / and as we wind on down the road / our shadows taller than our soul / there walks a lady we all know / who shines white light and wants to show / how everything still turns to gold / and if you listen very hard / the tune will come to you at last / when all are one and one is all / to be a rock and not to roll / and she’s buying a stairway to heaven”…

E voando se passaram os dias. Muitos cantores e bandas maravilhosas e suas canções esclarecedoras me acompanharam. Marisa Monte resumindo: “Meu peito agora dispara, vivo em constante alegria - é o amor que está aqui. Amor, I love you”; o R.E.M. entregando: “Everybody hurts sometime”; o Nirvana convidando: “Come as you are, as you were, as I want you to be, as a friend, as a friend, as an old enemy. Take your time, hurry up, the choice is yours, don't be late, take a rest, as a friend, as an old memory”; o Cazuza assumindo: “Exagerado, jogado aos seus pés eu sou mesmo exagerado, adoro um amor inventado”, só pra citar alguns que me tocaram de perto.

E tantas rock-lições depois (ok, ok, pop também entrou, admito), vejo que, se a (pseudo) psicologia não me abandonou de todo, ao menos minhas férias (mentais) não foram de todo mal... ‘tou bem mais leve!!!

Quanto ao consultório rock-sentimental... bem, fica a idéia... precisando, é só chamar !

Miriam Müller Vizentini - Baden, Suíça
Ilustração - A psicanalista - José Francisco Borges


Rita Lee - Amor e sexo

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