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terça-feira, 15 de abril de 2008

A arte de dizer não

Eu não sei se isso acontece com todo mundo, mas... eu tenho uma dificuldade tremenda de dizer NÃO.

Bom, acabo de receber uma mensagem da minha amiga, perguntado se eu queria escrever algo para a Revista, mas não tinha um tema. E, pensando nisso, lembrei do meu companheiro de apartamento que está passando por um período muito complicado na vida. Problemas de saúde estão afetando a sua vida financeira. Ele vem, pára na sala e pergunta se tenho 10 dólares para emprestar para ele comprar cigarros. Meu primeiro pensamento foi NÃO, eu NÃO tenho, e agora eu explico o porque do NÃO.
Sou brasileira, moro na Austrália há quatro anos. Há quinze dias voltei de uma viagem de cinco meses pelo Brasil, Argentina e Bali e por conta disso tambem NÃO tenho dinheiro no momento. Na volta tive problemas em conseguir o emprego que estava definido a acontecer e uma dificuldade imensa de readaptação, já que passei quase seis meses fora, de férias e com minha família, coisa e tal, e para completar meu relacionamento foi por água abaixo. Isso pode parecer que não tem nada a ver como assunto, mas logo vocês vão entender.
Bem, no momento em que meu amigo me pediu o empréstimo, minha intenção era falar NÃO, mas NÃO consegui. Dos únicos cinqüenta dólares que posso gastar até sexta-feira, dei 10 para ele e ao fazer isso, pensei comigo: por quê não disse NÃO? NÃO posso, NÃO tenho, me desculpe, sei que está com problemas, mas eu também estou. Enfim, meu lado humanitário falou mais alto ou eu simplesmente não quis criar conflito. Ou ainda fiquei com medo de ouvir um NÃO se eu, em algum momento da minha vida, precisar de 10 dólares?

Refletindo sobre o fim do meu namoro (sim, estou solteira de novo) e o término foi por motivos que desde que conheci Phil sabia que NÃO aguentaria a barra, mas não disse NÃO e me envolvi, me apaixonei e descobri que realmente NÃO é a situação que quero estar. Então ele me perguntou: - Maggie, antes de começarmos a namorar você já sabia disso, já sabia como era minha vida. Então por quê você se envolveu comigo? E eu respondi: - Não sei. Mmas eu sei. Não soube encontrar as palavras para dizer NÃO, para utilizar o auto-conhecimento que tenho de mim mesma e deixar a relação somente na amizade. Mesmo me sentindo atraída por ele, eu achei que eu poderia mudar? Ou que a situação dele iria mudar? Não, eu sabia que isso não mudaria.

Meu companheiro de quarto acaba de voltar com o troco e eu acabo de aprender a lição: assim como o sim, o NÃO tem muitas faces. Dizer NÃO quando realmente não podemos, quando realmente nossa situação, sentimentos e real vontade é dizer NÃO, a única coisa que podemos fazer por nós mesmos é dizer NÃO.
Eu realmente NÃO posso emprestar e pagar nada para ninguém nesse momento. Sei que terei meus 10 dólares de volta, mas não sei quando, já que eu sei da situação dele, mas ele não sabe da minha e se amanhã de manhã eu cobrar dele, sei que ele vai falar que NÃO tem, talvez, no mês que vem e quando eu ouvir o NÃO dele mais uma vez, me perguntarei: POR QUÊ DISSE SIM, QUANDO DEVERIA TER DITO NÃO? Qual é o meu problema? Ele ia pensar que estou sendo mesquinha? NÃO, pois eu sei que NÃO sou. E sim, estou num momento de extrema economia.
Estamos o tempo todo decidindo mil coisas todos dias, seja um caminho, o que comer, vestir, o que escrever, e é claro que muitas vezes cometemos erros e NÃO sabemos o que decidir. Mas muitas outras vezes sabemos muito bem e insistimos em fazer ao contrário. No fim de tudo quem se complica? Nós mesmos. Então vamos tentar simplificar. É uma delicia dizer e ouvir SIM, mas o NÃO é necessário assim como o sim, quando a verdade deve ser dita e praticada para tornar a nossa vida mais fácil.

SIM, DIGA NÃO, SEM CULPA, SEM JULGAMENTOS, SEM MEDO!

Maggie de Oliveira - Austrália



Um comentário:

edelrock disse...

É fato. Mesmo que saibamos das consequências adquiridas de uma resposta bem dada (porque foi altamente clara), não admitimos que estamos causando um enorme mal a nós mesmos, naquele momento. Mas subconscientemente, no mesmo exato momento, cremos que estamos fazendo uma bela besteira, sem volta. Uma contraposição que sempre levamos a pior, mas chegamos ao ápice da lucidez de nos podar nas próximas ocasiões, tendo uma segurança a mais e um erro a menos, por contrastar com nossa índole, muitas das vezes, altruísta.
Um beijo.