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sexta-feira, 9 de março de 2012

“Só vi pedras” – mas que pedras!

Antes de partir para a Turquia, numa viagem de quinze dias com um grupo de brasileiros e portugueses por este país que tem atraído cada dia mais turistas, escuto esta frase:

- Estive na Turquia, mas só vi pedras!
Parto sem grandes expectativas, apenas a vontade de conhecer um novo lugar, direção leste na minha rosa-dos-ventos, “por mares nunca dantes navegados”. Grupo grande, divertido e ruidoso, há muitos anos não viajo assim, em excursão. Deixo preconceitos do lado de fora do ônibus e vamos lá! A guia turca fala um português formidável e é daquelas com talento cênico, mais do que conta, ela transpira a história.
Istambul caótica, trânsito que faz lembrar filmes indianos, ou passeios à rua 25 de março, abre-se à minha frente. Vendedores em bazares milenares - à caça de brasileiros (somos milhares por aqui!)  que eles perceberam, compram sem parar - não dão sossego para turistas desavisados. “Você é brasileira? de São Paulo? falo português!”
Fico me lembrando das aulas de história do Brasil, daquela parte explicando o porquê da necessidade de partir pelo oceano a caminho das Índias, quando os otomanos fecharam a passagem por terra e pelo Bósforo aos mercadores que iam rumo ao Oriente, em busca de especiarias, tapetes, tecidos e adornos. Encontra-se, ainda hoje, no mesmo Bazar das Especiarias. E mais um pouco. Gosto de pensar que nossa História começou aqui.

Apesar dos 34°C do mês anterior, neste final de setembro temos dias frios e chuvosos – e minhas roupas de inverno guardadinhas na gaveta lá de casa! Improviso com agasalhos sobrepostos e compro patchminas, gorro e meias, além de um guarda-chuva – mais tarde todos iremos precisar de xaropes, spray para narinas e pastilhas para garganta - e vamos lá! 

Interessantes palácios e mesquitas - é minha primeira vez em país muçulmano – estão no roteiro. E aprendo a primeira lição: a Turquia é laica, desde Atatürk, o Estado é separado da religião. Frustração, pensei que ia ter de cobrir a cabeça como as muçulmanas ao adentrar uma mesquita, mas não, mulheres não precisam disso por lá, a não ser que queiram. 

A Turquia almeja a modernidade e a entrada na comunidade europeia. Mais que isso, eles querem seu merecido lugar no planeta e, principalmente, na economia deste mundo globalizado. E o turismo é a porta ideal para se abrir aos negócios. Aliás, o mercado, os mercadores, venda e compra, creio ser um dom histórico e cultural deste povo peculiar. Tudo é para se negociar e pechinchar. Comprei um livrinho para crianças, traduzido para o português (provavelmente pelo google, pelos desastres com nosso idioma) de um lendário escritor de pequenas histórias, M. Nasruddin (existiu mesmo?), com historinhas curtas, sendo que 95% falam sobre a esperteza do negociante! Comprinhas, mercados, museus, passeio de barco, jantar com dança folclórica (:O), o fascínio do palácios suntuosos de sultões e seus haréns ... noves fora: sobrevivemos.
E voamos para Anatólia, Ancara, mais precisamente, onde vou me encontrar - ao vivo e a cores – com as figuras de meu primeiro livro de História Geral: pinturas rupestres, peças da idade do bronze, restos de berços da civilização. Assírios, hititas, frígios, começam a ter sentido para mim ... e aqui começam as pedras. E que pedras!
A viagem continua, agora fazendo um círculo até voltarmos ao Bósforo. Pelo caminho, casas de pedras, igrejas construídas pelos primeiros cristãos em fuga pela perseguição em Göreme na Capadócia; paisagem vulcânica de tirar o ar, lagos salgados e as piscininhas térmicas, brancas, de Pammukkale, as pedras da natureza. E as pedras de cidades famosas em ruínas, como Éfesus - com a monumental biblioteca de Celso - e a mítica Tróia, destruída e reconstruída sete vezes. E mais uma cidade subterrânea, criada para que mulheres e crianças fossem protegidas das guerras, cidades escavadas na rocha calcária ... Enfim... eu também vi muitas pedras. Belíssimas! Pedras famosas, legendárias, históricas, monumentais, instigantes, fundamentais, imperdíveis! 

Miriam Müller Vizentin - Baden, Suíça 

Fotos  Miriam Müller Vizentin

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