Em Curitiba, numa de minhas idas ao Brasil, marquei com uma amiga no Café Express em frente à praça Santos Andrade. Café bem curitibano, proprietários japas com suas empadas e pães de queijo e recheado de personagens bem “sui-generis”.
Quando entrei uma bela surpresa: Margarita Wasserman, nossa colaboradora mais velha e agora com seus 81 anos, estava lá, sentada à mesa com seus amigos: típicos jornalistas aposentados e intelectuais barbudos, grisalhos e cabeludos e todos com seus óculos com moldura setentista.
Quando entrei uma bela surpresa: Margarita Wasserman, nossa colaboradora mais velha e agora com seus 81 anos, estava lá, sentada à mesa com seus amigos: típicos jornalistas aposentados e intelectuais barbudos, grisalhos e cabeludos e todos com seus óculos com moldura setentista.
A surpresa era que minha amiga Margarita tinha se tornado, voluntariamente, nossa garota propaganda. Havia impresso várias páginas da Íntegra e estava lá mostrando para esses amigos a qualidade do “blog das meninas”. Todos olhavam atentamente e comentavam quando entrei inesperadamente, recém chegada das bandas helvéticas. Tudo uma grande coincidência. Mas confesso que me encheu a alma perceber que o carinho e qualidade com que fazíamos este projeto tinha alcances também fora do mundo virtual.
Engraçado, no início ficávamos surpreendidas com o tráfego dos visitantes, ver no mapa mundi, uma ferramenta inserida no blog, de que lugares do mundo pessoas acessavam a revista. Eu entrava diariamente para ver e vibrar com mais uma estrelinha na Rússia, por exemplo. Mas passada essa novidade, ficamos mais sedentas de situações reais, e tenho certeza que o que nos moveu, como administradoras, a seguir com a revista tanto tempo, foi realmente as trocas “tète-a-tète” que tínhamos entre as meninas, e posteriormente com a Cris, companheira íntegra. Sem dúvida ninguém aproveitou e absorveu tanto como nós duas que trazíamos o cotidiano do virtual para um encontro sempre divertido e enriquecedor.
Mas comecei este texto para falar principalmente da Margarita, que começou a escrever aos 60 e poucos anos e neste percurso já foram 7 livros publicados. Mãe da Noemi Osna, grande amiga e igualmente admirável, Margarita durante muito tempo nos enviou, com assiduidade, seus textos poéticos e sensíveis. O seu olhar, este mesmo que viu uma cidade se transformar, percebeu que antes o selvagem que estava distante foi reconhecido dentro de nós e depois este selvagem saiu para povoar estas selvas que se transformaram os grandes centros urbanos.
Moradora do centro da cidade viu essa transformação bater a sua porta, ela não precisava ir em busca da observação sociológica. O selvagem estava ali, não era mais controlado na própria jaula da alma, estava ali, no centro, em busca do anonimato, e eles nem sabem que se tornaram personagens das histórias de Margarita. Mas para a íntegra ela enviava sempre textos que falavam do belo, do cotidiano e sua indignação por esta mudança era posta sempre com muita delicadeza. Esta é a marca dos textos de Margarita Wasserman: a delicadeza! Obrigada por tudo, e que o impeto criativo siga sempre ativo e que muito mais gente consiga perceber essa revolta, expressa com a suavidade peculiar da sua escrita.
Thais Aguiar - Zurique, Suíça
Deixo-os com um texto te Daniel Seleme para o Paraná On-Line escrito em 2008, na Ocasião do lançamento do livro "Marimbondos".
"Sou do tempo em que se usava o ferro de carvão em brasa para passar roupa e, quando as brasas crepitavam e soltavam fagulhas, devíamos dizer: Dinheiro que venha..." Quando ainda criança aportou em Curitiba, em 1929, Margarita Wasserman tinha um sonho, assim como os demais imigrantes (judeus árabes, orientais e europeus) que chegaram em busca de uma nova vida e tranquilidade. Apesar da ascendência judaica, não sei ganhar dinheiro, mas aqui realizei meu sonho, que era me tornar escritora, conta a autora.
Aos 78 anos de idade, escritora há mais de dez, e com sete livros lançados, o último (Marimbondos) a venda na Livraria do Chain e na Guerrero (Rua XV), Margarita vive com alegria e por onde passa, com seu olhar sincero, ganha as pessoas em poucos minutos de sua conversa aberta. Vivo com alegria, mas não desfruto da cidade como antigamente. Curitiba não é a mesma, diz ela, lamentando a atual falta de solidariedade do povo.
Segundo a autora, seu inicio como escritora se deu com o apoio de amigos pessoais e da família, que, ao receber suas cartas, observaram um texto rápido e crônico. Entre os destinatários de Margarita, personagens ilustres da nossa cultura, como Valêncio Xavier e Dalton Trevisan. Privilégio para poucos... - o que dizer ou imaginar da troca de correspondências com o eterno Vampiro de Curitiba? Com algum sarcasmo literato de traço fino, nossas ruas, bares, políticos e personagens anônimos certamente foram esboçados.
O gosto pela literatura surgiu cedo e, aos treze anos, na casa de vizinhos russos, ela trocava as brincadeiras por horas de leitura, quando conheceu autores clássicos, de envergadura criativa rica. Dostoievski, Tolstoi e outros russos eu aprecio até hoje, conta, lembrando de seu amigo, e um dos ícones em contos no Brasil, Dalton Trevisan. Em "Marimbondos", a escritora abre seu baú cheio de ideias e pensamentos e poe para fora seu olhar intimo sobre a Curitiba que compôs sua vida. Na ilustração da capa, um grupo de marimbondos, ideia de sua editora, Antônia Schwinden, voa de um bau semi-aberto. Cada crônica do livro, escrita por um olhar direto e sensível, revela situações cotidianas e problemas incrustados na sociedade.
Para Margarita, se houvesse mais carinho e solidariedade, as calcadas não estariam tao marginalizadas e não haveria verdadeiros circos de horror, como ela observa os pobres mutilados que vivem desabrigados. O que me resta é reclamar e conviver com a situação. Às vezes tenho que dar um corridão nos vagabundos que preferem pedir a trabalhar. Enfim, Curitiba é meu berço meu mundo, finaliza.
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