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sexta-feira, 9 de março de 2012

Margaritas

Em Curitiba, numa de minhas idas ao Brasil, marquei com uma amiga no Café Express em frente à praça Santos Andrade. Café bem curitibano, proprietários japas com suas empadas e pães de queijo e recheado de personagens bem “sui-generis”.

Quando entrei uma bela surpresa: Margarita Wasserman, nossa colaboradora mais velha e agora com seus 81 anos, estava lá, sentada à mesa com seus amigos: típicos jornalistas aposentados e intelectuais barbudos, grisalhos e cabeludos e todos com seus óculos com moldura setentista.
A surpresa era que minha amiga Margarita tinha se tornado, voluntariamente, nossa garota propaganda. Havia impresso várias páginas da Íntegra e estava lá mostrando para esses amigos a qualidade do “blog das meninas”. Todos olhavam atentamente e comentavam quando entrei inesperadamente, recém chegada das bandas helvéticas. Tudo uma grande coincidência. Mas confesso que me encheu a alma perceber que o carinho e qualidade com que fazíamos este projeto tinha alcances também fora do mundo virtual. 

Engraçado, no início ficávamos surpreendidas com o tráfego dos visitantes, ver no mapa mundi, uma ferramenta inserida no blog, de que lugares do mundo pessoas acessavam a revista. Eu entrava diariamente para ver e vibrar com mais uma estrelinha na Rússia, por exemplo. Mas passada essa novidade, ficamos mais sedentas de situações reais, e tenho certeza que o que nos moveu, como administradoras, a seguir com a revista tanto tempo, foi realmente as trocas “tète-a-tète” que tínhamos entre as meninas, e posteriormente com a Cris, companheira íntegra. Sem dúvida ninguém aproveitou e absorveu tanto como nós duas que trazíamos o cotidiano do virtual para um encontro sempre divertido e enriquecedor.
Mas comecei este texto para falar principalmente da Margarita, que começou a escrever aos 60 e poucos anos e neste percurso já foram 7 livros publicados. Mãe da Noemi Osna, grande amiga e igualmente admirável, Margarita durante muito tempo nos enviou, com assiduidade, seus textos poéticos e sensíveis. O seu olhar, este mesmo que viu uma cidade se transformar, percebeu que antes o selvagem que estava distante foi reconhecido dentro de nós e depois este selvagem saiu para povoar estas selvas que se transformaram os grandes centros urbanos. Moradora do centro da cidade viu essa transformação bater a sua porta, ela não precisava ir em busca da observação sociológica. O selvagem estava ali, não era mais controlado na própria jaula da alma, estava ali, no centro, em busca do anonimato, e eles nem sabem que se tornaram personagens das histórias de Margarita. Mas para a íntegra ela enviava sempre textos que falavam do belo, do cotidiano e sua indignação por esta mudança era posta sempre com muita delicadeza. Esta é a marca dos textos de Margarita Wasserman: a delicadeza! Obrigada por tudo, e que o impeto criativo siga sempre ativo e que muito mais gente consiga perceber essa revolta, expressa com a suavidade peculiar da sua escrita.

Thais Aguiar - Zurique, Suíça 

Deixo-os com um texto te Daniel Seleme para o Paraná On-Line escrito em 2008, na Ocasião do lançamento do livro "Marimbondos".
"Sou do tempo em que se usava o ferro de carvão em brasa para passar roupa e, quando as brasas crepitavam e soltavam fagulhas, devíamos dizer: ​Dinheiro que venha​...​" Quando ainda criança aportou em Curitiba, em 1929, Margarita Wasserman tinha um sonho, assim como os demais imigrantes (judeus árabes, orientais e europeus) que chegaram em busca de uma nova vida e tranquilidade. ​Apesar da ascendência judaica, não sei ganhar dinheiro, mas aqui realizei meu sonho, que era me tornar escritora​, conta a autora. 
Aos 78 anos de idade, escritora há mais de dez, e com sete livros lançados, o último (Marimbondos) a venda na Livraria do Chain e na Guerrero (Rua XV), Margarita vive com alegria e por onde passa, com seu olhar sincero, ganha as pessoas em poucos minutos de sua conversa aberta. ​Vivo com alegria, mas não desfruto da cidade como antigamente. Curitiba não é a mesma​, diz ela, lamentando a atual falta de solidariedade do povo.
 Segundo a autora, seu inicio como escritora se deu com o apoio de amigos pessoais e da família, que, ao receber suas cartas, observaram um texto rápido e crônico. Entre os destinatários de Margarita, personagens ilustres da nossa cultura, como Valêncio Xavier e Dalton Trevisan. Privilégio para poucos... - o que dizer ou imaginar da troca de correspondências com o eterno ​Vampiro de Curitiba​? Com algum sarcasmo literato de traço fino, nossas ruas, bares, políticos e personagens anônimos certamente foram esboçados.
O gosto pela literatura surgiu cedo e, aos treze anos, na casa de vizinhos russos, ela trocava as brincadeiras por horas de leitura, quando conheceu autores clássicos, de envergadura criativa rica. ​Dostoievski, Tolstoi e outros russos eu aprecio até hoje​, conta, lembrando de seu amigo, e um dos ícones em contos no Brasil, Dalton Trevisan. Em "Marimbondos", a escritora abre seu baú cheio de ideias e pensamentos e poe para fora seu olhar intimo sobre a Curitiba que compôs sua vida. Na ilustração da capa, um grupo de marimbondos, ideia de sua editora, Antônia Schwinden, voa de um bau semi-aberto. Cada crônica do livro, escrita por um olhar direto e sensível, revela situações cotidianas e problemas incrustados na sociedade. 
Para Margarita, se houvesse mais carinho e solidariedade, as calcadas não estariam tao marginalizadas e não haveria verdadeiros ​circos de horror​​, como ela observa os pobres mutilados que vivem desabrigados. ​O que me resta é reclamar e conviver com a situação. Às vezes tenho que dar um corridão nos vagabundos que preferem pedir a trabalhar. Enfim, Curitiba é meu berço meu mundo​, finaliza. 

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