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sexta-feira, 9 de março de 2012

Ser brasileira no mundo - uma reflexão pessoal


Durante muito tempo ouvi que o valor ao próprio país só se daria quando se saísse dele. E mesmo assim eu achava que não. Eu me sentia tão orgulhosa de fazer parte daquele mundo, de ter nascido alí, que não teria mais espaço que pudesse caber mais valor. Ledo engano! Aquele Brasil que eu conhecia, tão pequenino, uniforme e comportado, reflectido na minha pequena cidade  (Curitiba, com seus 2.500.000/hab.) limpa e contida, de repente já não existia mais. Não havia mais espaço para somente esta leitura, desta temperatura e temperamento mais frios. A minha noção de Brasil se ampliou juntamente com a distância que tomei dele. E foi fora deste país que eu o conheci e não nas viagenzinhas de férias em que se supõe conhecer um lugar.
Saber-se e sentir-se brasileira na sua totalidade. Para isso foi necessário ouvir o disco dos dois lados, e ouvir mais e mais discos, se propondo a ouvir principalmente o lado B. E foi aí que me descobri BRASILEIRA.
Conhecendo dezenas de tipos que me proporcionaram um enfrentamento comigo mesma. Um auto-reconhecimento a partir das qualidades e defeitos dos outros, meus conterrâneos. Eu sabia que por trás daqueles trejeitos, aparência ou personalidade que eu tanto criticava  estava refletido um pedaço de mim e reconhecer isto foi um processo bastante doloroso, mas enriquecedor. 
No início creio que todos temos a tendência da negação, de deixar claro para si que você não se parece em nada com aqueles com quem você não possui qualquer identificação imediata. Mas depois, aos poucos, e com uma transformação pessoal, não é mais tão complicado “estar brasileira” e se sentir representada por tipos que você não aceitava inicialmente.
E é como assumir-se na diversidade.
Neste momento você passa a se reconhecer no ser humano e desloca tua pátria para uma outra esfera.
A velha casa onde nasceu pode já não existir mais, mas as histórias não estão na casa, as referências estão imprimidas em ti, intactas;  como por exemplo as brincadeiras da infância, os banhos de chuva, as conversas na cozinha, os almoços de domingo, entre tantos outros fatos que nos constroem e permanecerão sempre dando uma contribuição ao olhar. 


A formação do eu e do outro, nas diferentes construções. A cultura de cada um vividas desde a infância se revestem a cada dia, a cada transformação, fazendo de ti um personagem feito um organismo vivo, sempre em movimento. E sendo assim você passa a entender que não são somente as referências culturais que te representam, há muito mais que isso. Ser brasileira, ainda que sentindo isto de forma tão completa, acaba sendo só uma parte.
E isto é transmitido de maneira tão honesta quando se age naturalmente,  quando se compreende o como se formam essas ideias pré concebidas sobre um povo, presentes no imaginário coletivo. E eu, mesmo que eu não queira, alimento este imaginário pois sou parte do coletivo, aquele que atua e que sente os reflexos desta atuação.

Mais sobre o tema "estar estrangeiro" no blog:
www.estarestrangeiro.blogspot.com


Thais Aguiar Zeller - Zurique, Suíça

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