Minha principal função na Íntegra, além da edição e polida final dos textos, foi sempre escrever sobre livros e filmes. Nesta edição final queria manter esta tradição. Uma feliz coincidência me levou a assistir recentemente o fenomenal "A Separação" (Jodaeiye Nader az Simin, título original em Iraniano). Feliz coincidência não só porque o filme também aborda o tema "o fim", mas principalmente porque a última vez que escreverei sobre um filme na Íntegra será sobre um dos grandes, um dos melhores, se não o melhor que já comentei nestas páginas.
O enredo de "A Separação" em princípio soa banal, um casal comum que enfrenta a fatídica decisão de se separar, e as consequências desta decisão para o resto da família, principalmente para a filha adolescente do casal e o pai do marido, já muito velho e doente.
E o que faz este filme ser tão extraordinário é exatamente isto, ele avassala o expectador sem nenhuma história mirabolante, sem efeitos especiais, de som, maquiagem, tecnologia, sem violência, sem nenhuma gota de sangue. A história é contada e interpretada de forma tão profunda, tão tensa, tão real. Os diálogos e performances são tão tocantes e verdadeiros, que em alguns momentos duvidamos se esta é realmente uma história fictícia.
Tantos temas complexos são abordados, amor e orgulho, honra, lealdade, dignidade, honestidade, a força da religião e da fragilidade humana, o sistema de justiça e valores iranianos.
E neste emaranhado profundo, cabe ao expectador julgar e entender conflitos, dramas e situações em que é absolutamente impossível discernir o que é certo, justo, do que e errado e injusto.
Para mim "A Separação" foi tão marcante, fiquei tão impressionada com o poder de criação, com o dom de fazer cinema do iraniano Asghar Farharid, que escreveu e dirigiu o roteiro, e com o dom de interpretar de todos atores do filme. Mas não foi só esta constatação desvinculada, fiquei profundamente tocada e envolvida com a história, na qual pensei, mesmo que involuntariamente, por vários dias. Certos filmes tem um certo toque de genialidade, que não podemos exatamente explicar ou precisar, e este é definitivamente um deles. Ninguém consegue ser indiferente à beleza e à força deste obra.
Cristina Pereira - Winterthur, Suíça
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