
Hoje entendo que a definição de criatividade para a pessoa era puramente na destreza manual e pictórica. Realmente, até hoje eu me considero péssima em habilidades manuais. Não sei bordar, tricotar, costurar, fazer colar ou bijoterias. Não consigo nem pintar as minhas unhas direito. Também reconheço que nunca aprendi a desenhar, a expressar o que vejo através de uma folha de papel e de um lápis, uma tinta. Recentemente fiz um workshop com duas amigas: uma que estudou arte e a outra que se graduou em história da arte. Trabalhamos os quatro elementos – fogo, ar, terra, água – usando carvão, pigmento, argila e aquarela. Olhava para os meus trabalhos e para os delas e soltei espontaneamente: “Meu Deus, o meu desenho é horrendo, é uma coisa escabrosa diante dos seus”. A nossa sábia professora, Marge Oplinger, respondeu: “Não se compare! Sempre haverá uma pessoa pior e uma melhor. O importante é expressar o que você sente e curtir o trabalho”. O comentário tão simples desencadeou uma sequência de pensamentos e no fundo eu só ouvia uma mensagem estimulante e positiva, o contemporâneo “yes, I can!”.
Dei-me conta que a minha criatividade está muito presente na escrita, nas palavras, nos textos que escrevo. Consigo transmitir ao leitor um dia melancólico, um fato engraçado, um acontecimento trágico. Quando escrevia para uma revista online de turismo, transportava as pessoas aos lugares visitados, não dando-lhes uma informação turística, mas sim as sensações visuais, olfativas, corporais que tinha tido nos lugares onde passei. No trabalho, lido diariamente com vocábulos. Tenho que vender um produto, um serviço e fazer o consumidor enxergá-los como únicos, exclusivos, de alto valor. Preciso contar histórias de projetos científicos bem-sucedidos, de médicos com um perfil interessante. Já até me deparei com desafios como de escrever uma nota de imprensa sobre um componente de software de PDF, que agiliza processos e descrever a arquitetura do tal – perguntem se eu sei algo de componentes de software para PDF!
Hoje estou plenamente segura de que esse adjetivo, criativa, também me pode ser dado. Posso até dizer que essa aptidão está sub-utilizada. Poderia escrever mais, começar a pintar, a costurar, a tocar um instrumento, a dançar. O dia-a-dia te consome e quase não há tempo para fazer as coisas prazerosas. Resolvi tomar o primeiro passo e continuar com a aquarela. Tenho me deliciado com cada aula particular que tenho com Marge. Ela me faz entender muito claro que o importante não é o resultado final e sim o processo. Meu próximo passo? Tenho vontade de fazer algo com o meu corpo, como já escrevi aqui. Gostaria de fazer dança afro, mas eu não estou na Bahia e sim na Suíça. Acabo de ser convidada por uma amiga a me juntar a ela num pequeno grupo de aula de ballet para adultos, nível iniciante. Fiz aulas quando pequena e nunca segui. Quem sabe? E se em alguns anos eu começo a aprender a tocar flauta transversa, um dos meus sonhos mais antigos? É você mesmo que impõe os seus limites. Eu posso! E você também pode! É só começar!
Um comentário:
Viva!
Só agora li esta postagem...
é só começar!
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