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sábado, 4 de junho de 2011

Diga-me o que ouves e eu direi quem és

Outro dia fui correr e como há muito não escutava música, peguei o iShuffle do meu namorado (o meu estava descarregado). Achei muito interessante correr naquele dia tão bonito sem saber qual seria a próxima canção. Confesso que morri de medo dele só ter aqueles rocks e heavy metals dos 80 que eu não gosto. Para minha grande surpresa, a minha trilha sonora da corrida começou com Candy, de Iggy Pop, que eu amo. As músicas seguintes foram quase todas aqueles rocks românticos em espanhol – Maná, Oreja de van Gogh, Soda Stereo… Achei curioso. Se não conhecesse o dono do iShuffle, teria dito que seria algum latinão – sendo que ele é nórdico, quase esquimó. Comecei a filosofar que talvez meu guapo inconscientemente resgatava as suas origens (seu pai é argentino) através da música, cuja língua ele nem domina.

Mais do que o gosto musical, parece que esses iPods têm um 6° sentido – eu sei que vocês devem me achar louca ou boba. Mas juro, em algumas ocasiões, quando coloquei o “bichinho” pra tocar músicas aleatoriamente, parece que tudo que vinha tinha a ver com o meu humor, como se esse aparelho tivesse uma percepção do que eu precisava ouvir. Fiz uma viagem de 4 horas de trem, num momento muito triste da minha vida, e cada canção era mais melancólica que a outra. Chorei a viagem toda, incentivada pelo meu iPod. Já em outra ocasião, um dia desses que você acorda super de bem com a vida, achando tudo divino, maravilhoso, as músicas do aleatório só vinham super de “buena onda”. E, não sei se loucura de família ou não, justo antes da minha irmã ir a Buenos Aires, ouviu seu iPod no modo shuffle e disse que parecia um presságio, que só vinha música argentina.


Comecei a tentar adivinhar: no iPod da minha prima só ia ter música descolada, cantoras brasileiras, cantoras americanas de jazz, muitas cantoras. No iPod da outra prima provavelmente a trilha sonora seria provavelmente underground, aquelas bandas de rock alternativos, quase nada de música brasileira. Na do meu pai provavelmente ele só colocaria jazz – jazz pra todos os gostos, muito Pat Metheny. O meu irmão já ia colocar mais aqueles rocks de surfista ou de skatista, mas também umas músicas tranquilonas, tipo Sting. Se minha mãe tivesse um iPod, não entraria nenhuma música em outra língua, provavelmente teria todos os álbuns possíveis de Maria Bethânia, de Nana Caymmi, de Gal. Vai fazendo uma análise da personalidade de amigos, conhecidos com o tipo de música que eles escutam e negue que o gosto musical diz muitíssimo de cada um.

E que tipo de música eu, Cecília Zugaib, tenho no meu MP3? Quase todos – clássica, tango, flamenco, mpb, muito jazz, rock de skatista, Maria Bethânia, rock alternativo, música infantile, clássicos franceses, pop. Não tenho personalidade definida? Simplesmente aprecio música de qualidade e sou eclética e aberta a novos estilos musicais, assim como para vários tipos humanos. Tenho amigos de muitas tribos, se fizer um paralelo da música com personalidade. Até colocaria no iPod uns pagodes antigos que me lembram da minha adolescência ou um ou outro axé de velhos carnavais, mas não tenho os cds. Pra mim, cada momento tem seu ritmo, sua cadência. Como diz Maria Bethânia, música é perfume – uma canção assim como um cheiro, sempre te remete a um dia na vida, uma ocasião. O que seria de mim sem a música?

Cecilia Zugaib - Zurique, Suiça

4 comentários:

KS Nei disse...

É a trilha sonora da vida. Tem dias e horas melancolicos, tem outras completamente tatuados ou poeticos ou fortes como Karajan. Não dá pra escutar uma coisa só a vida toda. Mas dá pra escutar tudo.
E IPod tem um sexto sentido sim.

Cecilia Zugaib disse...

Oi Nei,

Obrigada pelo seu comentário. Pois é, cada música no seu momento certo. Por sinal, se você gosta de jazz, acabei de descobrir uma banda fantástica: Julia Hülsmann Trio. Essa é a trilha para descansar e desconectar depois de um dia daqueles de trabalho.

Um abraço,
Cecilia

Jaciara Rocha disse...

Ceci sempre poetica! esta semana mesmo eu e minhas grandes amigas das "antigas" tiramos do baù classicos do rock dos anos 90! Voltei para as discotecas e senti atè os cheiros dos perfumes que usavamos!!!rsrsr saudades!

KS Nei disse...

Yeah! Esse trio é bom, nao conheci nao, mas conheco a gravadora e sei que eles nao erram nos lancamentos. Obrigado pela dica.
Agora é a minha vez.
John Stein Trio, guitarrista. Bom para sentar no parque e ver pipas no ar, crianças correndo. Primavera!

Besos!