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domingo, 8 de maio de 2011

Um parto "humanizado"

Sem dúvida a chegada de um bebê traz, além de uma mudança nos hábitos e nos valores, uma necessidade de conhecimentos inserida num turbilhão de emoções. Isto em qualquer lugar onde estejamos.
Mas ter um filho em outro país nos possibilita experienciar sensações "a mais" do que normalmente seria se estivéssemos em nosso entorno familiar. Em nosso local de origem a expectativa da família, que normalmente não é pequena, a ansiedade dos amigos, o compartilhar e a preparação para a chegada do bebê, nos preenche o coraçâo e a cabeça. Já o ser ou estar estrangeiro neste momento pode propiciar uma comunicação mais estreita com este novo ser. Tudo parece mais intimista, desde a chegada da notícia até sua realização.

As dúvidas e revelações, as respostas, o instinto, as conquistas, são vividas de forma igualmente profunda por todas, mas no caso de estar num lugar "estranho" é possível agregar um outro olhar.
Logo no início da minha gestação busquei uma possibilidade de trabalhar corpo e mente na minha língua materna. Filha de uma professora de yoga, nada mais natural que eu procurasse esta atividade. Com isto tive a grandiosa sorte de encontrar alguém que viria a se tornar uma peça-chave, para que todo este período fosse encarado com maturidade, naturalidade e muito amor. Este alguém foi a Marge Oppliger, que além de ser professora de yoga, possui um largo conhecimento no trabalho com gestantes e de quem ouvi, pela primeira vez, a ideia do parto humanizado. Gaúcha e morando há mais de dois anos na Suíça, Marge foi muito mais que uma professora de yoga e se tornou uma carinhosa orientadora neste meu processo. Os passos dados desde este encontro me mostravam a cada dia, que eu estava num caminho "certo" e bastante especial. E tudo foi construído de forma natural. Cada vez mais eu me conectava com o seguinte pensamento - "o privilégio de ser a protagonista deste millagre de gestar, dentro de mim, uma nova vida." Ideia esta transmitida com muito amor, durante os sete meses que estive em sua companhia.
Nesta caminhada, como ela mesmo diz, as questões maiores ou menores, como dores, dúvidas do parto, angústias, preocupações, pouco importavam. Marge nos fez ver, a mim e as gestantes que tiveram seu acompanhamento, que algo muito maior estava sendo construído neste processo, e que só uma mãe é capaz de acessar.

Em conversas informais, dados como a quantidade alarmante de cesáreas que são feitas no Brasil (43% quando índice recomendado pela Organização Mundial da Saúde é de 15% e 80% das mulheres que possuem plano de saúde), assim como a ideia de parto humanizado quando "o parto passa a ser compreendido como um evento "natural" e fisiológico, resgatando-se a competência instintiva feminina no processo parturitivo" eram interessantes temas discutidos.
Aí veio o momento do parto. Convidei-a para estar junto e fechar este ciclo conosco, mãe e bebê. Estávamos portanto eu, Mike (meu importante companheiro), minha mãe (que veio do Brasil) e Marge na sala de parto vivenciando este momento duro, belo e indescritível. Durante as horas que se sucediam, eu olhava minha mãe que em lágrimas revivia, num processo bastante individual, seus três partos, trazendo à tona sentimentos que estavam lá guardados numa caixinha bem no fundo da memória. Marge, portanto, teve um papel crucial. Foi a incentivadora e meu anjo da guarda. Ela que nos momentos mais difíceis surgia na minha linha de visão com seu sorriso, brilhando como um sol e dizendo - estamos quase lá, só mais um pouquinho e você terá seu bebê nos braços! E foi assim mesmo!
A ciência já comprova que a ocitocina (o conhecido hormônio do amor) atinge seu pico mais alto na mulher logo após o nascimento do bebê. O mais interessante é o fato de que quando estamos acompanhadas por mulheres: doulas, parteiras ou familiares, e que por uma espécie de campo morfogenético, há uma soma de ocitocina neste momento. Então é fácil imaginar o campo de amor que fomos envolvidos!
Os questionamentos sobre os métodos suíços, as atenções, a crítica às trocas de turnos das parteiras, a anestesia que já não fazia efeito, as dores, o querer desistir no meio da brincadeira, foram questões menores em meio ao suporte que tive no colo da minha mãe e na presença tão iluminada da Marge. Este texto é na verdade um agradecimento a este encontro que me trouxe a quentinha sensação de um amparo muito qualificado e cheio de amor num país distante. Muito obrigada. Eu e a pequena Aïmée agradecemos de coração!





Thaís Aguiar - Zurique, Suíça

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