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sábado, 5 de março de 2011

A Mulher Agregadora - Círculo de Mulheres


Ano passado, por vários meses, todas as sexta-feiras, me encontrava com um interessante (e inusitado) grupo de mulheres, a maioria desconhecidas, para uma atividade denominada “Círculo de Mulheres-Feminino Singular, Feminino Plural”. Organizado por Marge Oppliger, a atividade apresentava a seguinte proposta: “Um espaço/tempo dedicado a estudos reflexivos, vivências artísticas, cantos, danças, meditações e partilhas. O propósito é resgatar a consciência do poder e valor de ser Mulher, para que possamos amar profundamente, trabalhar com sentindo, desenvolver a criatividade em nossos diversos papéis a caminho da realização plena!”

O ponto centralizador para abordar todos estes aspectos: a mitologia e os arquétipos femininos representados na diferentes deusas gregas. A cada encontro a descrição do mito de uma das setes principais deusas mitologicas - Artemis, Atena, Hestia, Hera, Perséfone, Demeter, Afrodite - era o ponto de partida para as dicussões, partilhas e reflexões. Usados como referência, o livro da psiquiatra americana Jean Shinoda Bolen, “Goddess in Everywoman – Powerful Archetypes in Women’s Lives”, e a experiência e cultura de Marge, maravilhosa contadora de histórias, que tornava cada mito ainda mais interessante e encantador. Além das conversas e trocas, danças, pequenos rituais e símbolos associados a cada deusa também faziam parte da atividade. Segundo Marge, mitos e rituais apresentam múltiplas possibilidades de interpretação, cuja compreensão não se dá a nível intelectual unicamente, mas sim em todas as dimensões do ser.

No estudo de cada mito, é possível indentificar e relacionar traços de comportamento comum a todas nós mulheres. Cada uma tende a se indentificar com os diferentes arquétipos femininos, que vão se manifestar em diferentes graus, de acordo com a formação biológica, educação, cultura, exemplos de figuras e modelos marcantes, contexto social e a fase da vida em que cada mulher se encontra. Em geral alguns arquétipos ou instintos são mais dominantes, e assim encontramos um enorme expectro de características consideradas tipicamente femininas, todas conhecemos (ou somos) a mulher altamente maternal (a personificação do mito de Demeter), a apaixonada por tudo, criativa e sensual (a personificação do mito de Afrodite), a com espírito livre, independente e competitivo (a personificação do mito de Artemis), a altamente racional que se realiza através da carreira e da concretização de projetos materias (a personificação do mito de Atena), a que só se realiza através do casamento e da relação a dois (a personificação do mito de Hera), a auto-centrada e reservada (a personificação do mito de Héstia), a que passa grande parte da vida sendo passiva e dependente (a personificação do mito de Perséfone), a que já nasceu independente.

Pra mim sempre foi muito claro quais aspectos da minha personalidade são dominantes, e minha trajetória de vida não esconde os resultados de uma forte personificação dos arquétipos de Atena e Artemis, com nuances dos arquétipos de Hestia e Afrodite. Sem dúvida, passada a adolescência, minha auto consciencia e expressão dos arquétipos de Persefones, Hera e Demeter foi quase imperceptível. Desta forma, foi particularmente interessante estudar a mitologia destas três deusas, refletir sobre o que move estes arquétipos e descobrir formas de trazer à conciencia aspectos inconcientes relacionados a estes instintos e expressões da personalidade feminina.

O estudo de Hera foi muito curioso e menciono em particular porque gerou um fruto criativo que publico logo abaixo deste texto. Por um lado jamais houve nenhum vago resquício do arquétipo de Hera em mim, só para exemplificar, uso definição retirada do livro de Jean Shinoda Bolen sobre o mito: “deusa do casamento, representa a mulher que considera seus papéis como estudante, profissional ou mãe secundários ao seu objetivo principal de encontrar um marido e ser casada”. Achei o capítulo mais chato do livro! Não só não houve nenhuma identificação, mas uma certa indignação com a história desta deusa restrita que vivia só em função daquele casamento e através dele, somente, definia a sua indentidade e valor. Mas ao mesmo tempo eu tinha casado (mesmo, no papel e tudo! contrariando todas as expectativas, inclusive as minhas) há pouco mais de um ano, no auge dos meus quase 34 anos... Não só casei, mas pela primeira vez na vida coloquei uma relação como prioridade, o que gerou algumas mudanças na minha carreira, e também na minha percepção e relação com o meu trabalho. O arquétipo de Hera estava lá, demorou 34 anos, mas estava lá, e finalmente encontrava um certo espaço. Mas que Hera é esta, e como se manifestou este “arquétipo perdido” pra mim, como foi que ele achou espaço no universo em que EU e minhas realizações sempre estiveram em primeiro plano? Apresento a resposta no texto abaixo, escrito por mim como “tema de casa” após o estudo do mito de Hera, no qual Marge propunha duas escolhas: 1) escrever sobre quem é o homem dos seus sonhos, ou o seu grande amor; 2) escrever sobre a sua versão do “e viveram felizes para sempre”.

Cristina Pereira – Wintethur, Suíça

Para mais informações sobre esta atividade tão especial, o Círculo de Mulheres organizado pela Marge Oppliger, de uma olhada no blog margeoppliger.blogspot.com ou entre em contato diretamente com ela por e-mail ou telefone.

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