A 33ª edição da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, entre os dias 23 de outubro e 5 de novembro, marca 25 anos de independência do festival. Criada em 1977 como parte das comemorações dos 30 anos de fundação do Museu de Arte de São Paulo (Masp) – ao qual estava ligada –, passou a ser realizada de forma independente a partir de 1984. De lá pra cá, acumulou prestígio e sagrouse como o principal evento internacional de cinema do Brasil, graças à insistência do sírio naturalizado brasileiro, Leon Cakoff, e de sua mulher, Renata de Almeida, responsáveis pela organização e curadoria do evento.
Segundo Cakoff, a edição deste ano terá o mesmo formato das outras, já que o conceito que fez o sucesso da Mostra não muda: “Estamos sempre na busca de montar a melhor seleção para o público”. O curador compara: “É como entrar numa livraria. As pessoas vão a um festival para descobrir coisas, servir-se do banquete que está sendo oferecido. Depois, elas chegam a conclusões que eu nem havia pensado pela pressa que tive em selecionar o material. O que é legal nesse trabalho é que ele deixa de ser seu. Você é apenas o condutor de um processo”.
Nos meses que antecedem o festival, Cakoff costuma dormir pouco. Consome horas de seu tempo para ver os filmes que chegam ao seu escritório. Até o início de setembro, ele já havia recebido mais de 700 longas-metragens. Cakoff e Renata selecionam cerca de 300 filmes para a Mostra e garantem que assistem a todos os enviados, sem exceção, além dos que descobrem em suas pesquisas e nos festivais de cinema realizados mundo afora. “Não podemos correr o risco de perder uma grande obra. Mesmo quando não acho o começo do filme muito bom, vou até o fim. Nunca paro na metade, porque tenho que ter certeza absoluta do que estou selecionando”, revela Cakoff.
Durante a escolha, algumas cinematografias acabam se destacando. Uma das que têm chamado a atenção de Cakoff é a indiana. No ano passado, o longa Jodhaa Akbar (2008) ganhou o prêmio de público da Mostra. “Nunca tinha selecionado um filme de Bollywood e esse, particularmente, me encantou por falar, de forma deslumbrante, da questão da intolerância étnica”, diz o curador, revelando ter visto e adorado na noite anterior a esta entrevista para a Revista da Cultura o filme Delhi 6 (2009), de Rakesh Omprakash Mehra. “Esse com certeza estará na seleção deste ano.”
A seleção final do evento é fechada somente dez dias antes do início, mas algumas das obras já estão confirmadas, como as retrospectivas do cineasta grego Theo Angelopoulos – autor de filmes como O passo suspenso da cegonha (1991) e Um olhar a cada dia (1995) –, e do produtor e diretor italiano Gian Vittorio Baldi, pouco conhecido no Brasil, mas responsável pela produção de alguns dos principais filmes de Pier Paolo Pasolini, como Notas para uma Oréstia africana (1969). Além disso, a Mostra trará Cinzas e sangue, filme que marca a estreia da diva do cinema francês Fanny Ardant como realizadora.
A cada edição, Cakoff convida um artista para elaborar o cartaz da Mostra. Na 33ª, os convidados foram Otávio e Gustavo Pandolfo – os renomados grafiteiros mais conhecidos como Os Gêmeos. Neste ano será conferido também, pela primeira vez, o Prêmio Itamaraty de Cinema Brasileiro, que existe desde 2006, mas, até agora, era concedido durante o Festival de Brasília. ©
Artigo publicado na Revista da Cultura
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