Nada como um passeio a um reino das artes para enxergarmos melhor a nós mesmos. O passeio se deu, desta vez, no centro Paul Klee, em Berna.
Na ida, fui conversando com meu filho sobre o pouco que sabia sobre este mestre das cores. Conhecia e apreciava alguns de seus trabalhos, de formas geométricas coloridas harmoniosamente combinadas. E sabia – e foi isso que gerou em mim uma curiosidade por visitar este centro - que mesmo nascido em solo suíço, de mãe suíça, Klee só obteve a almejada cidadania suíça seis dias após sua morte, aos sessenta anos (morreu alemão como o pai), por esclerodermia.
“Típico”, comentei, enquanto formulava hipóteses sobre as possíveis causas da negativa. “Porque era um alemão”, “porque era um artista polêmico (foi instrutor na Bauhaus)”, “foi revolucionário demais para os padrões (perseguido pelos nazistas)”, “porque sua arte era considerada menor, sem interesse”, “porque foi, por um bom período, um verdadeiro ‘Hausmann’(dono de casa), sustentado pela esposa, no início do século XX”, “porque não souberam reconhecer o valor deste artista” blablablá... Eu estava me sentindo muito solidária ao imigrante sem cidadania, como tantos que conheço. Nem um pouco clichê, certo? Afinal não sou preconceituosa!
Ao chegar, a impressão positiva sobre o espaço, agradavelmente elegante, amplo e iluminado, misturou-se a uma certa desilusão. O título da mostra: Paul Klee “Carpet of Memory" - foco na arquitetura, caligrafia e ornamentação textil na obra de Klee e “Dream and Reality - Contemporary Art from the Near East”… !!! Minha ignorância deixou-me sem entender bem o que eu estava fazendo ali. Vou ver uma exposição de obras do oriente próximo? Well, lá vamos nós visitar os tapetes das mil e uma noites ...
”Kunst gibt nicht das Sichtbare wieder, sondern macht sichtbar." (“A arte não reproduz aquilo que é visível, mas torna visível aquilo que nem sempre é.” Ou "A arte não reproduz o que vemos, mas nos faz ver.” Paul Klee)
Foi assim comigo, essa surpreendente exposição me fez ver que, a despeito de meus esforços, o preconceito estava ali - e vestindo burka !
Foi interessantíssimo observar a influência oriental na obra de Paul Klee. E foi fabuloso conhecer um pouco da arte contemporânea de autores da Tunísia, Líbano, entre outros.
Na ida, fui conversando com meu filho sobre o pouco que sabia sobre este mestre das cores. Conhecia e apreciava alguns de seus trabalhos, de formas geométricas coloridas harmoniosamente combinadas. E sabia – e foi isso que gerou em mim uma curiosidade por visitar este centro - que mesmo nascido em solo suíço, de mãe suíça, Klee só obteve a almejada cidadania suíça seis dias após sua morte, aos sessenta anos (morreu alemão como o pai), por esclerodermia.
“Típico”, comentei, enquanto formulava hipóteses sobre as possíveis causas da negativa. “Porque era um alemão”, “porque era um artista polêmico (foi instrutor na Bauhaus)”, “foi revolucionário demais para os padrões (perseguido pelos nazistas)”, “porque sua arte era considerada menor, sem interesse”, “porque foi, por um bom período, um verdadeiro ‘Hausmann’(dono de casa), sustentado pela esposa, no início do século XX”, “porque não souberam reconhecer o valor deste artista” blablablá... Eu estava me sentindo muito solidária ao imigrante sem cidadania, como tantos que conheço. Nem um pouco clichê, certo? Afinal não sou preconceituosa!
Ao chegar, a impressão positiva sobre o espaço, agradavelmente elegante, amplo e iluminado, misturou-se a uma certa desilusão. O título da mostra: Paul Klee “Carpet of Memory" - foco na arquitetura, caligrafia e ornamentação textil na obra de Klee e “Dream and Reality - Contemporary Art from the Near East”… !!! Minha ignorância deixou-me sem entender bem o que eu estava fazendo ali. Vou ver uma exposição de obras do oriente próximo? Well, lá vamos nós visitar os tapetes das mil e uma noites ...
”Kunst gibt nicht das Sichtbare wieder, sondern macht sichtbar." (“A arte não reproduz aquilo que é visível, mas torna visível aquilo que nem sempre é.” Ou "A arte não reproduz o que vemos, mas nos faz ver.” Paul Klee)
Foi assim comigo, essa surpreendente exposição me fez ver que, a despeito de meus esforços, o preconceito estava ali - e vestindo burka !
Foi interessantíssimo observar a influência oriental na obra de Paul Klee. E foi fabuloso conhecer um pouco da arte contemporânea de autores da Tunísia, Líbano, entre outros.
Em um dos inúmeros salões, entre quadros, montagens com tapetes revelando a realidade em que vivem estes povos, fabulosos mosaicos de espelhos, um vídeo instigante ganha a atenção. Trata-se de uma mulher, vestida de preto da cabeça aos pés, num cenário árido de montanhas rochosas, passando um aspirador de pó pela areia, num trabalho interminável. Retrato da aridez do papel da mulher muçulmana, submetida à limpeza de não se sabe bem o quê, nem para quê, ou para quem.
Há também uma mostra de longas e de curta-metragens da nova safra de cineastas muçulmanos. Uma arte viva, moderna, lúcida.
E ainda tem o espaço Creaviva, onde as crianças podem passear e brincar entre tendas e muralhas de isopor, reproduzindo cidades orientais e, mais que isso, com o auxílio de monitores, experimentarem materiais e técnicas de mosaicos, pontilhismo, empregadas por Klee em seus trabalhos, o que valeu de meu filho a observação: “Vai ser um ótimo programa de domingo com meus filhos, quando os tiver”. Fica a dica!
Saí de lá “enxergando” e sentindo, para além da obra colorida, cheia de paixão, de perspectiva quase infantil, otimista em contrapartida com a visão pessimista que Paul Klee tinha em seus escritos - e feliz por vivenciar o jogo de luzes e cores das grandes e pequenas telas e cartões.
Mas, acima de tudo, saí melhor como pessoa, ao perceber que muito ainda tenho de fazer com meus pré-juízos e julgamentos em relação às obras - e ações - de cidadãos, sejam eles suíços ou do oriente próximo/médio.
A produção, beleza e criatividade dessa mostra de arte me levou para bem longe dos meus clichês.
Zentrum Paul Klee
Vale dizer que a mostra fica apenas até o dia 31 de agosto de 2009.
Miriam Müller Vizentini - Baden, Suíça
Há também uma mostra de longas e de curta-metragens da nova safra de cineastas muçulmanos. Uma arte viva, moderna, lúcida.
E ainda tem o espaço Creaviva, onde as crianças podem passear e brincar entre tendas e muralhas de isopor, reproduzindo cidades orientais e, mais que isso, com o auxílio de monitores, experimentarem materiais e técnicas de mosaicos, pontilhismo, empregadas por Klee em seus trabalhos, o que valeu de meu filho a observação: “Vai ser um ótimo programa de domingo com meus filhos, quando os tiver”. Fica a dica!
Saí de lá “enxergando” e sentindo, para além da obra colorida, cheia de paixão, de perspectiva quase infantil, otimista em contrapartida com a visão pessimista que Paul Klee tinha em seus escritos - e feliz por vivenciar o jogo de luzes e cores das grandes e pequenas telas e cartões.
Mas, acima de tudo, saí melhor como pessoa, ao perceber que muito ainda tenho de fazer com meus pré-juízos e julgamentos em relação às obras - e ações - de cidadãos, sejam eles suíços ou do oriente próximo/médio.
A produção, beleza e criatividade dessa mostra de arte me levou para bem longe dos meus clichês.
Zentrum Paul Klee
Vale dizer que a mostra fica apenas até o dia 31 de agosto de 2009.
Miriam Müller Vizentini - Baden, Suíça
Um comentário:
Nossa, nem sabia que ele passou por esse perrengue pra conseguir a cidadania suíça...que mico!
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