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sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Flamenco


Meu lado cigano é bem sapeca, ele precisa ser vivido. Maridão sabe disso, e como não é bobo, me deu de presente de aniversário um curso de Flamenco. Ai que fofo! Inscreveu-me num curso com uma professora maravilhosa: Alicia Vargas.

Alicia Vargas foi criada na Índia. Aos 15 anos já era cantora do grupo Morenos e mais tarde se especializaria em canto e dança flamenca. Estudou dança em Sevilha e em Madri e aperfeiçoou seus conhecimentos em Flamenco passando várias temporadas na Andaluzia.

Participou de 1974 a 1985 de diferentes turnês com o grupo ARTE FLAMENCO e mais tarde, com o seu CUADRO FLAMENCO, junto com a dançarina Ursula Jimenez no VENTANA FLAMENCA.
Em 1978 ela abre a escola em Zurique, tornando-se pioneira da arte Flamenca na Suíça. A primeira sala era um porão de 17 m2. As pessoas passavam pelas ruas, ouviam a música e davam uma espiada pela janela para ver o que estava acontecendo lá embaixo. Quantos viraram alunos só por terem passado por ali? Provavelmente muitos, pois a escola permaneceu naquele lugar por 12 anos, só mudando para um espaço maior, perto da Langstrasse, quando Alicia juntou-se com a ex-aluna Ursula Jimenez e ampliou sua escola.
Hoje a escola é no Kreis 3, também num porão. Quando a gente atravessa aquela porta de entrada parece que está num outro mundo. A atmosfera é aconchegante e o estúdio é decorado com carinho.
Alicia, além de dona de um talento surpreendente, tem uma modéstia admirável. Quando lhe perguntei se poderia escrever sobre ela na Integra, ela me disse que preferiria que eu falasse sobre o Flamenco e minha experiência em aula. Não é à toa que a escola fez 30 anos de aniversário: muita dedicação nas aulas, uma personalidade cativante, sua voz imponente cantando, sempre algum violão acompanhando.
E estou eu já dançando uma Farruca depois de alguns meses de aula! Flamenco é auto-afirmação, é expressão pessoal e também em grupo, além de muita improvisação. E ajuda muito nos dias cinza, contra o “November Blues” ou qualquer “inverno” astral.

Acho que encontrei o que buscava: o Flamenco é tão cigano quanto mouro, com influência de árabes e judeus, ícones associados à Andaluzia e à música e cultura espanhola em geral.
Durante a Inquisição, mouros, ciganos e judeus foram perseguidos e expulsos. Granada, a cidade espanhola, era o último reduto dos mouros e um lugar onde os árabes eram tolerantes e não impunham sua religião à população da região. Mas em 1492, os exércitos dos reis católicos reconquistaram esta cidade, após cerca de 800 anos de domínio muçulmano. A tolerância religiosa acabou ali: quem não se convertesse ao cristianismo era eliminado. Assim mouros, ciganos e judeus fugiram para as montanhas e áreas rurais.
Foi nesta situação social e economicamente difícil que as culturas musicais de judeus, ciganos e mouros começaram a se fundir, o que se tornaria a forma básica do Flamenco: o estilo de cantar dos mouros - que expressava a sua vida difícil na Andaluzia, as diferentes “compas” (estilos rítmicos), palmas ritmadas e movimentos de dança básicos. Muitas das músicas Flamencas ainda refletem o espírito desesperado, a luta, a esperança, o orgulho e as festas noturnas desta época.
E lá vou eu “desperada“ treinar para a próxima aula!

www.flamenco-alicia.ch
Leonhard Ragaz-Weg 24 / Goldbrunnenstrasse - 8003 Zürich
Magda Hammer (Zurique, Suíça)

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