Este mês tinha planejado escrever para a Íntegra um artigo sobre uma das grandes dúvidas que povoa os pensamentos de muitas das mulheres da minha geração. Dúvida agora permitida e cada vez mais discutida abertamente - ter ou não ter filhos? Sendo uma mulher recém passada dos trinta, e com amigas mais ou menos nesta faixa etária, este é um dos temas mais recorrentes das nossas conversas.
A idéia sempre aflige as que ainda não tem um parceiro estável, as que tem e não são casadas, as que tem uma parceira, e, obviamente, as que já são casadas. Mulheres que ainda não tiveram a coragem, a oportunidade, ou a ocasião, planejada ou inesperada, de experimentar a maternidade.
Minha idéia era escrever um texto para discutir não o óbvio e que sempre vem à tona quando se discute este tema, ou seja, as mudanças da sociedade que permitiram às mulheres terem o poder de escolha e carreiras de sucesso, as dificuldades em estabelecer relacionamentos estáveis, etc, etc. E ainda que eu seja uma destas modernas que deu prioridade a carreira (com muita satisfação!) e não necessariamente teve problemas em estabelecer relacionamentos estáveis, o meu issue com relação a ter filhos é de uma outra natureza, talvez menos prática e menos óbvia. E era sobre isto que queria escrever.
Minha idéia era escrever um texto para discutir não o óbvio e que sempre vem à tona quando se discute este tema, ou seja, as mudanças da sociedade que permitiram às mulheres terem o poder de escolha e carreiras de sucesso, as dificuldades em estabelecer relacionamentos estáveis, etc, etc. E ainda que eu seja uma destas modernas que deu prioridade a carreira (com muita satisfação!) e não necessariamente teve problemas em estabelecer relacionamentos estáveis, o meu issue com relação a ter filhos é de uma outra natureza, talvez menos prática e menos óbvia. E era sobre isto que queria escrever.
Por uma destas coincidências interessantes da vida, comecei a ler esta semana o livro Eat, Pray, Love - One woman’s search for everything across Italy, India and Indonésia (publicado no Brasil pela Objetiva com o título: Comer, Rezar, Amar - A busca de uma mulher por todas as coisas da vida na Itália, na Índia e na Indonésia), recente bestseller da escritora americana Elizabeth Gilbert.
Estou achando o livro uma delícia, e quero fazer um textinho para indicá-lo como boa leitura no blog assim que terminar de ler. Leitura feminina, leve, divertida e agradável, mas que vai além da simplicidade, tão divertida quanto, de Bridget Jones, Sushi, Watermellow, Becky Bloom, para citar alguns. Mas a coincidência é que um dos temas principais do livro é exatamente a dúvida com relação à maternidade no contexto da mulher moderna. E eu me identifiquei demais com a perspectiva da autora e sua forma de escrever sobre o tema. Por isso não escreverei nada, deixo para vocês uma das passagens que acabei de ler no livro e que retrata tão bem as dúvidas, sob uma perspectiva íntima, que muitas de nós temos:
“Formar uma família com um cônjuge é uma das maneiras mais fundamentais pelas quais uma pessoa pode encontrar continuidade e significado na sociedade. Redescubro essa verdade sempre que vou a uma grande reunião da família da minha mãe em Minessota e vejo como cada um é mantido na mesma posição, de forma tão segura, durante anos a fio. Primeiro você é a criança, depois adolescente, depois é recém-casado, depois é pai, depois é aposentado, depois é avô - em cada estágio, você sabe quem é, sabe qual é o seu dever e sabe onde deve sentar na reunião. Até que, finalmente, vai sentar-se com os nonagenários na sombra, para observar satisfeito a sua prole. Quem você é? Fácil – você é a pessoa que criou tudo isso. A satisfação de saber isso é imediata e, além do mais, é internacionalmente reconhecida. Quanta gente já ouvi dizer que os filhos são a maior realização e o maior reconforto de suas vidas? São aqueles com quem eles sempre podem contar durante uma crise metafísica, ou em um momento de dúvida quanto a sua relevância - Se eu não tiver feito mais nada nesta vida, então pelo menos terei criado bem os meus filhos.
Mas e se, seja por escolha ou por uma relutante necessidade, você acabar não participando desse reconfortante ciclo de família e continuidade? E se você sair dele? Onde vai se sentar na reunião? Como vai marcar a passagem do tempo sem medo de ter simplesmente desperdiçado seu tempo na Terra sem ser relevante? Você vai precisar encontrar outro propósito, outra medida pela qual avaliar se foi ou não um ser humano bem-sucedido. Adoro crianças, mas e se eu não tiver filhos? Que tipo de pessoa isto me torna?
Virginia Woolf escreveu: “Sobre o imenso continente da vida de uma mulher recai a sombra de uma espada”. De um lado desta espada, disse ela, estão a convenção, a tradição e a ordem, onde “tudo é correto”. Mas, do outro lado dessa espada, se você for louca o suficiente para atravessar a sombra e escolher uma vida que não segue a convenção, “tudo é confusão. Nada segue um curso regular”.
Cristina Pereira- Zurique, Suíça
“Formar uma família com um cônjuge é uma das maneiras mais fundamentais pelas quais uma pessoa pode encontrar continuidade e significado na sociedade. Redescubro essa verdade sempre que vou a uma grande reunião da família da minha mãe em Minessota e vejo como cada um é mantido na mesma posição, de forma tão segura, durante anos a fio. Primeiro você é a criança, depois adolescente, depois é recém-casado, depois é pai, depois é aposentado, depois é avô - em cada estágio, você sabe quem é, sabe qual é o seu dever e sabe onde deve sentar na reunião. Até que, finalmente, vai sentar-se com os nonagenários na sombra, para observar satisfeito a sua prole. Quem você é? Fácil – você é a pessoa que criou tudo isso. A satisfação de saber isso é imediata e, além do mais, é internacionalmente reconhecida. Quanta gente já ouvi dizer que os filhos são a maior realização e o maior reconforto de suas vidas? São aqueles com quem eles sempre podem contar durante uma crise metafísica, ou em um momento de dúvida quanto a sua relevância - Se eu não tiver feito mais nada nesta vida, então pelo menos terei criado bem os meus filhos.
Mas e se, seja por escolha ou por uma relutante necessidade, você acabar não participando desse reconfortante ciclo de família e continuidade? E se você sair dele? Onde vai se sentar na reunião? Como vai marcar a passagem do tempo sem medo de ter simplesmente desperdiçado seu tempo na Terra sem ser relevante? Você vai precisar encontrar outro propósito, outra medida pela qual avaliar se foi ou não um ser humano bem-sucedido. Adoro crianças, mas e se eu não tiver filhos? Que tipo de pessoa isto me torna?
Virginia Woolf escreveu: “Sobre o imenso continente da vida de uma mulher recai a sombra de uma espada”. De um lado desta espada, disse ela, estão a convenção, a tradição e a ordem, onde “tudo é correto”. Mas, do outro lado dessa espada, se você for louca o suficiente para atravessar a sombra e escolher uma vida que não segue a convenção, “tudo é confusão. Nada segue um curso regular”.
Cristina Pereira- Zurique, Suíça
2 comentários:
Pois é Cris, não sei muito bem do vc está falando. Rs
Eu, casada há 3 anos e já passada dos 35, como gostária de estar com 25, assim teria mais uns 10 anos pra curtir meu marido, viajar, estudar..., mas não, mais de 35, quase com 37, hora dura, natureza dura, relógio biológico duro..., eu preciso de mais 5 anos, so peço isso, mais 5 anos.
As x penso feliz que não serei avó aos 50 ;-)
Enfim, também é um tempo em que vemos nossas amigas que passaram dos 35 a terem dificuldades de engravidar ou a engravidar e não segurar... triste.
Já sonhei em ser mãe, ja sonhei em não ser mãe, nesses sonhos descobri que: Se for, não me arrependerei nunca,
se não for, talvéz me arrependa, tenho medo da dor do arrependimento, do... não mais possível.
Optei por te-los, mas não agora, penso que daqui a uns... 2 anos, se ainda der, bom, se não, pelo menos vou me consolar com: Eu tentei.
Na verdade, não quero ser o tipo de mãe que diz:
Meus filhos são minha vida.
Vivo pros meus filhos.
Trabalho pros meus filhos.
Só penso nos meus filhos.
Também não quero ignorar meu marido e muito menos ser ignorada, trocada pelos filhos..., nem tao pouco ser uma mãe negligente, moderna, do tipo, ver meus filhos somente 3 horas por dia, 2 à noite e 1 de manhã. Enche-los de presente para compensar a ausencia.
Decidi que trabalharei 50%.
Tendo eu, uma irmã e um irmão, aprendi que IRMAOS é a maior riqueza que os país podem dar aos filhos.
Um filho único, nunca vai ter sobrinhos (amo d+ os meus), nunca vai ser tio ;-(, terá filhos sem primos (Triste. Amo os meus) e sem tios (Muito triste. Amo os meus).
Verdadeiro dilema das passadas dos 30, ne? Rs
Gêmeos para mim seria a solução.
Veremos!!!
xoxoxxxxx
Mari.
Cris, esse é um dos grandes dilemas da minha vida atualmente. Criança é lindo, uma bençao, uma sensacao de continuidade mesmo da vida... Mas como é bom ser só Cecilia, so eu mesma, poder sair, poder viajar, poder fazer o que eu quero e saber que eu tenho o controle quase que total sober a minha vida.
O foco parece mudar ao se ter filhos. A relacao muda, a vida muda, as coisas no mundo laboral muda, ainda mais na nossa Suiça.
Nao vamos ficando mais novas, pelo contrario. E a pressao aumenta, tanto do parceiro quanto dos amigos, familiares, sociedade.
Talvez nossas maes nao entendam isso, talvez nossos parceiros nao entendam isso. So quem entende isso é a mulher mesmo, a mulher que esta nessa posicao que estamos, passados os 30....
Que dilema!
Ps- Virginia Woolf é realmente genial. O que você citou dela tranporta o que eu sinto.
Cecilia
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