Por razões que desconheço, a vida insiste em me conectar à Itália. Não tenho antepassados italianos, fato muito comum no Rio Grande do Sul, meu estado de origem. Nunca estudei a língua italiana, e meu interesse pela Itália sempre foi o da grande maioria dos mortais: viajar e conhecer a linda e romântica terra. Esta situação mudou quando comecei a namorar um Italiano, Milanese, com quem dividi muitos anos que me aproximaram da cultura, da geografia e das peculiaridades que envolvem o povo italiano. Durante anos tive a oportunidade de conhecer melhor a música, a literatura, o cinema italiano, e fazer parte de uma “típica” família italiana.
Minha relação com Riccardo acabou há algum tempo, mas a vida de novo fez meu caminho cruzar com a Itália. Desde o fim do mês de fevereiro tenho vivido em Roma, atual capital italiana e, por quase mil anos, o centro da civilização ocidental. Mudei para Roma para trabalhar num projeto de pesquisa cientifica na (em tempos idos) muito célebre Universitá di Roma, La Sapienza, fundada em 1303 e atual maior universidade Européia. Sendo brasileira e depois de ter vivido cinco anos em Zürich, a experiência de morar em Roma, e conhecer de perto a vida em uma grande cidade italiana, tem sido, para dizer pouco, inusitada.
Já viajei muito pela Itália, conheço quase todas as principais cidades e várias pequenas jóias, que me fizeram pensar em ficar para sempre. Mas garanto que existe uma diferença enorme, que pode mudar nosso ponto de vista, entre conhecer a Itália como viajante ou morar no país. Também acredito que viver no ambiente urbano das grandes cidades italianas seja uma experiência totalmente distinta do que viver em cidades de tamanho médio, ou em pequenos “paesinos”. Do ponto de vista de uma mulher brasileira, cientista, apreciadora de toda a forma de arte, e apaixonada pela diversidade e pela riqueza de viajar, vejo a Itália hoje além do país dos sonhos românticos e, absolutamente, discordo com o a expressão brasileira: ”italiani tutti buona gente”!
Italianos são os mais caóticos objetos biológicos existentes na natureza. Brasileiros que acreditam que são os Portugueses desprovidos de raciocínio lógico, nunca tiveram a oportunidade de contemplar a atitude dos italianos no trânsito. Eles (elas também!) são os motoristas mais ignorantes e bárbaros do mundo, pondo à prova o conceito da evolução humana.
Italianos pensam complicado, não importa o grau de instrução. A distância entre dois pontos para um italiano nunca será uma reta. E isto salta aos olhos de qualquer bom observador, no mais corriqueiro hábito italiano: o caffè nel bar. Além das mil e uma possibilidades – expresso caldo/freddo,, expresso macchiato caldo/freddo, expresso lungo, decaffeinado, decaffeinado com latte e poca schiuma, caffe d’orzo, cappucino, latte macchiato, caffè corretto, americano, americano coretto com grappa, caffè na tazza, na tazza grande, caffè nel vetro, com panna, doppia panna, etc, etc (só mesmo italianos ou rigorosos estudiosos da arte de preparar café podem entender todas as variedades) – tomar café no balcão na Itália é, na minha opinião, um ato de coragem.
Minha relação com Riccardo acabou há algum tempo, mas a vida de novo fez meu caminho cruzar com a Itália. Desde o fim do mês de fevereiro tenho vivido em Roma, atual capital italiana e, por quase mil anos, o centro da civilização ocidental. Mudei para Roma para trabalhar num projeto de pesquisa cientifica na (em tempos idos) muito célebre Universitá di Roma, La Sapienza, fundada em 1303 e atual maior universidade Européia. Sendo brasileira e depois de ter vivido cinco anos em Zürich, a experiência de morar em Roma, e conhecer de perto a vida em uma grande cidade italiana, tem sido, para dizer pouco, inusitada.
Já viajei muito pela Itália, conheço quase todas as principais cidades e várias pequenas jóias, que me fizeram pensar em ficar para sempre. Mas garanto que existe uma diferença enorme, que pode mudar nosso ponto de vista, entre conhecer a Itália como viajante ou morar no país. Também acredito que viver no ambiente urbano das grandes cidades italianas seja uma experiência totalmente distinta do que viver em cidades de tamanho médio, ou em pequenos “paesinos”. Do ponto de vista de uma mulher brasileira, cientista, apreciadora de toda a forma de arte, e apaixonada pela diversidade e pela riqueza de viajar, vejo a Itália hoje além do país dos sonhos românticos e, absolutamente, discordo com o a expressão brasileira: ”italiani tutti buona gente”!
Italianos são os mais caóticos objetos biológicos existentes na natureza. Brasileiros que acreditam que são os Portugueses desprovidos de raciocínio lógico, nunca tiveram a oportunidade de contemplar a atitude dos italianos no trânsito. Eles (elas também!) são os motoristas mais ignorantes e bárbaros do mundo, pondo à prova o conceito da evolução humana.
Italianos pensam complicado, não importa o grau de instrução. A distância entre dois pontos para um italiano nunca será uma reta. E isto salta aos olhos de qualquer bom observador, no mais corriqueiro hábito italiano: o caffè nel bar. Além das mil e uma possibilidades – expresso caldo/freddo,, expresso macchiato caldo/freddo, expresso lungo, decaffeinado, decaffeinado com latte e poca schiuma, caffe d’orzo, cappucino, latte macchiato, caffè corretto, americano, americano coretto com grappa, caffè na tazza, na tazza grande, caffè nel vetro, com panna, doppia panna, etc, etc (só mesmo italianos ou rigorosos estudiosos da arte de preparar café podem entender todas as variedades) – tomar café no balcão na Itália é, na minha opinião, um ato de coragem.
Digo isso após presenciar diariamente a quase selvageria presente no hábito que tantos estrangeiros idealizam como chic, refinado, civilizado. Italiano que é italiano de verdade toma café naquela confusão e aperto, com dezenas de braços sobre a cabeça, com o barman suando e correndo como louco, naquela barulheira (porque todo mundo fala MUITO), sob cotoveladas e empurrões, prensado contra o balcão pela massa muito pouco gentil e voraz querendo seu espaço.
Eu já me conscientizei que jamais irei me acostumar ou adaptar a esta “cultura do mais forte (e menos gentil) que predomina” que existe aqui. Vou sempre passar horas na fila do bar (para alcançar, educadamente, meu simples cappucino), da pizzeria, da pasticceria, da gelateria... e acabar sempre irritada, furiosa e impressionada com a atitude de “questa brava gente”!
Minha experiência em Roma terminará antes do planejado, pela minha insatisfação com a péssima qualidade de vida e frenesi da cidade. Mas da Itália, quero permanecer com a impressão positiva, registrar na alma e na memória a beleza e os encantos deste país tão suigeneres. E ainda que no contato mais próximo eu tenha descoberto que é um mito a idéia de que todos os italianos são abertos, bem-humorados, gentis e solidários, vou sempre manter minha profunda admiração pela civilização que deu ao mundo... as cores de Michelangelo, as formas de Bernini, a pureza da pintura de Rafaello, o contraste de Caravaggio, o mistério do conhecimento de Leonardo da Vinci. A arquitetura inacreditável e poética de Ravello, Venezia, Firenze, Cinque Terre, Positano e Amalfi. A obra de Vivaldi, a música de Ângelo Branduardi e Fabrizio de André, a literatura de Primo Levi, o cinema de Fellini, Tornatore e Salvatores...
Cristina Pereira, Roma - Itália
Minha experiência em Roma terminará antes do planejado, pela minha insatisfação com a péssima qualidade de vida e frenesi da cidade. Mas da Itália, quero permanecer com a impressão positiva, registrar na alma e na memória a beleza e os encantos deste país tão suigeneres. E ainda que no contato mais próximo eu tenha descoberto que é um mito a idéia de que todos os italianos são abertos, bem-humorados, gentis e solidários, vou sempre manter minha profunda admiração pela civilização que deu ao mundo... as cores de Michelangelo, as formas de Bernini, a pureza da pintura de Rafaello, o contraste de Caravaggio, o mistério do conhecimento de Leonardo da Vinci. A arquitetura inacreditável e poética de Ravello, Venezia, Firenze, Cinque Terre, Positano e Amalfi. A obra de Vivaldi, a música de Ângelo Branduardi e Fabrizio de André, a literatura de Primo Levi, o cinema de Fellini, Tornatore e Salvatores...
Cristina Pereira, Roma - Itália
9 comentários:
Querida Cristina,
nao sei porque mas me senti na pele dos "italianos aqui citados"...
e tambem nao consigo identificar o motivo mas senti na pele um gostinho de injustiça.
Ha quantos anos voce esta morando na Italia?
Se è ha pouco tempo isso talvez possa identificar esse teu choque cultural,
concordo com voce que os italianos sao barulhentos e exagerados (um pouquinho nòs brasileiros tambem somo , nao?),
mas isso nao pode ser um aspecto da sociedade moderna italiana que te incomoda, aquela citada por voce nao existe mais,
o que existe è uma grande crise e reflexao cultural,
a questao de ser imigrante e ter que engolir e saber digerir os sapos das diferenças culturais , na minha opiniao, è o que nos move nessa nossa empreitada de conhecer e entender novos mundos
Saluti
Luci
Carissima Cristina,
Chissà forse ognuno di noi vive con un'immagine idealizzata di un paese, magari con qualsiasi pasese che sia esotico, comparato al nostro. Se ci pensiamo bene, l'Italia non stà vivendo uno dei suoi momenti migliori, sia dal punto di vista economico che politico. Da quando è al potere il nuovo governo si sente un clima di repressione, che di certo non giova e che si riversa sulle persone, convinte che i loro problemi saranno risolti con questo modo rude di governare...
J-
Não sei, mas as meninas que fazem esta revista e vivem, como eu, no exterior, deveriam estar mais abertas (bom, sempre teremos um Mainardi na imprensa). Mas também creio que, na verdade, a autora deste texto "bem pessoal" quer criar uma discussão, afinal, o debate é um dos princípios do conhecimento, não? E ás vezes gostamos de cutucar as onças.
Eu vivi, há pouco, 3 anos em Firenze e concordo com a Luci Macedo que estamos numa nova fase da Itália, assim como o mundo está em transformação, a Itália está caminhando para uma nova etapa, um processo profundamente difícil, e isto se multiplica e reflete no dia-a-dia. Talvez tarde a ser visível para aqueles que insistem em olhar com os olhos mais "evoluídos".
E espero que os cafés não mudem, pois adoro a diversidade e aprecio as pequenas manifestações culturais. Sempre existe um lado sensacional da cultura popular!
Ah, um abraço da Ju para a Thaís.
Marcel Salvis
Demorei para responder, mas ca estou. Quando escrevi o texto nem me passou pela cabeca polemica, obviamente gerar discussao e trocar/relatar experiencias e o que queremos com o blog.
Sobre o teu comentario Luci, nao entendo extamente o "gostinho de injustica" (assim como tu tbem nao soube explicar). Tudo o que escrevi, veio de observacao pura e simples, nada "biased" por algum problema que tenha tido na Italia ou com os italianos. E assim, vi observei e escrevi. E eu entenderia o feeling de injustica se tivesse escrito alguma coisa que nao fosse verdade.
E tbem nao acho que tive um choque cultural, pois como tu mesmo dissestes "os italianos sao barulhentos e exagerados (um pouquinho nòs brasileiros tambem somos , nao?)". Acho que nos brasileiros e os italianos somos similares em muitos aspectos, o que para mim nao significa que todo brasileiro tenha que gostar ou concordar com esta forma de ser. E tbem nao acredito que adaptar-se tenha necessariamente a ver com similiaridades culturais. Vivo na Suica desde 2002, num ambiente totalmente diferente do Brasil e sempre adorei viver aqui, me sinto totalmente adaptada e feliz, nunca perdendo de vista que as diferencas existem e vao sempre existir.
E uma coisa que pra mim e muito dificil de entender e isto vale para o comentario da Luci ("a questao de ser imigrante e ter que engolir e saber digerir os sapos das diferenças culturais") e o do Marcel ("as meninas que fazem esta revista e vivem, como eu, no exterior, deveriam estar mais abertas") e esta ideia de que eu/nos como imigrantes temos que aceitar, entender, relevar, "ser abertos" a coisas que sao ruins so porque estamos fora do nosso pais.
Para mim o processo de imigracao aconteceu por minha livre e expontanea vontade (nao envolveu, amor, familia, ou outros lacos importantes que as vezes definem involuntariamente nossas decisoes) vim porque tive a oportunidade de avancar na minha profissao e so fiquei porque o que encontrei nao so me fez uma profissional melhor, mas tbem um ser humano melhor e feliz.
Para mim imigrar e conhecer novos mundos nao tem que necessariamente envolver "digerir os sapos das diferencas culturais". Apreciar as diferencas e reavaliar as suas proprias crencas e habitos, a sua forma de pensar, e para mim a grande riqueza do viver em uma outra cultura. Ter a mente aberta para mim nao significa aceitar, apreciar e querer ser sempre parte do que e diferente, e sim entender e racionalizar sobre as diferencas.
Tanti abbracci carissimi...Finalmente da calma, verde, idilica Zurich
Oi cris e oi queridos "comentaristas".
Li novamente o texto sobre a Itália e li os comentários pois queria também deixar meu parecer.
O texto da Cris, como o Marcel bem disse, é "bem pessoal". Claro que isto não nos tira a possibilidade de discordar, não sobre a sua opinião, digo eu, e sim da forma de descrever os italianos.
"Italianos são os mais caóticos objetos biológicos existentes na natureza. Brasileiros que acreditam que são os Portugueses desprovidos de raciocínio lógico, nunca tiveram a oportunidade de contemplar a atitude dos italianos no trânsito. Eles (elas também!) são os motoristas mais ignorantes e bárbaros do mundo, pondo à prova o conceito da evolução humana."
Eu, lendo este trecho, tentei me colocar no lugar. Se fosse um texto sobre "curitibanos" eu poderia sim discutir mais e me sentiria realmente capaz de me defender destas críticas expostas num blog para que todos entendessem como funciona, DE FATO, os curitibanos.
Não conheço bem a Itália, mas discordo desta forma, poderia dizer "suíça", de analisar o comportamento do vizinho.
Isso me fez lembrar o filme Weiss Massai, baseado numa história real, onde, uma suíça impõe a sua maneira "certa" de fazer as coisas, numa outra cultura. É claro que não é este o caso aqui, ninguém tentou impor nada. Simplesmente descreveu um fato, com a sua maneira de ver o mundo!
Mas entendo também que a intenção da Cris não foi fazer polêmica, e sim, afirmar sua constatação "pessoal" de como são os italianos, que para um indiano, ou peruano a leitura deste país seria bem outra. E viva a diversidade e a compreensão das culturas.
E ADORO essas discussões!!
Gostei muito do texto da C. Pereira. Enfatiza sua experiência naquele país e seu pensamento em relação àquela sociedade;
Os italianos são realmente assim, e por vezes a forma crua de descrever algumas péssimas características, principalmente quando a autora do texto viveu antes em Zurique, (a cidade da fantasiosa "perfeição"- que também incomoda a muitos), traga uma sensação incômoda de estar criticando injustamente .
Mas não vamos tapar o sol com a peneira e ser bondosos com a sociedade vizinha, utilizar palavras meigas para falar com mais gentileza do próximo.
Acho ótimo quando pessoas se expressam assim, com a sua verdade própria acima de outros conceitos.
Abraços
"Mas não vamos tapar o sol com a peneira e ser bondosos com a sociedade vizinha, utilizar palavras meigas para falar com mais gentileza do próximo"
Olha ai´eu ja´acho que o amigo foi um pouco arido.
O que eu gostaria de propor era um blog , mais focado na nossa necessidade interior de emigrar e nao , o quanto nossos anfitriões são mal educados e não nos recebem com carinho.
existe uma necessidade de emigrar em todos que moram no exterior? eh o blog dedicado pra isso? nao acredito. acho que eh um calderao de textos, de sub culturas brasileiras. uns riquinhos, outros duros, alguns intencionalmente emigrantes, poucos casualmente emigrantes. Alguns textos aqui sao leves, chegam a ser bobos. Outros demonstram um ponto de vista particular, uma experiencia vivida, defendem algo.
O que eu percebi é que os egos se inflam. cada um pensa escrever melhor que o outro e muitas vezes essa vaidade se ve atacada - direta ou indiretamente.
gente - cada um diz o que quer aqui. se chegar a algum absurto, tipo gente defendendo ideias neo-nazistas, a gente abomina, apaga. tudo mais deve ser falado abertamente. ou nao?
tem gente absurtando...
e isso deve ser bom no contexto de um blog.
diria a Luci.
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