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domingo, 1 de junho de 2008

Mp3

Numa palestra sobre a produção fonográfica brasileira, em Curitiba, todos os presentes se calaram ao ouvir um senhor que disse:
- A facilidade de qualquer um hoje gravar um cd, traz muito lixo ao mercado musical em nosso país!
...e eu perguntei - o que é pior? É a variedade que traz o lixo e te dá a chance de selecionar o que ouvir, ou a imposição do lixo pelo mercado que não te dá escolha?
Isso fez surgir um interessante, mas interminável debate que envolveu democracia, liberdade de expressão, jabá, distribuição e monopólio das gravadoras do mercado musical brasileiro. Essa palestra foi há mais de 10 anos. Hoje já teríamos novas mídias para compor a discussão, e as questões seriam outras.

Alemanha, 1989. O projeto EUREKA (EU 147), que teve início 2 anos antes, apresentou uma nova possibilidade que se chamava MP3 (abreviação de Mpeg Layer 3), o terceiro formato de padronização criado pelo Moving Pictures Expert Group. Quase 20 anos depois esses minúsculos aparelhinos fazem um enorme sucesso em todas as gerações.
Mp3 é um formato de codificação mais compactado ainda que o Cd e o Lp. Este processo tem como base a psicoacústica, o estudo de como as pessoas percebem os sons. E os codificadores de Mp3 foram elaborados em cima das limitações da audição humana. Através de fórmulas matemáticas, são eliminados tudo aquilo que a psicoacústica garante que não percebemos.

Certa vez, conversando com a Cris Pereira, nos perguntamos se estas facilidades não banalizavam a música de alguma forma. Concluimos que o acesso fácil e a possibilidade de quantificar os números, tornavam a música um acessório da vida cotidiana.
A facilidade de baixar qualquer arquivo na Internet em Mp3, através dos Napsters, reúne diariamente milhões de usuários. Com isto, toda a indústria fonográfica está a perigo. As dificuldades ou facilidades de gravar um Cd é uma questão do passado.
Numa matéria de Cassiano Elek Machado para a revista Piauí – março 2007 – André Midane, figura conhecida no meio das gravadoras, deixa claro: “Com as novas tecnologias acabam fisicamente os estúdios, fábricas, distribuição, estoques e lojas, e as gravadoras terão que se concentrar na filtragem e promoção de bandas. E só sobreviverão se virarem empresas de marketing.” E há quem diga que não quer investir no marketing.
E Cassiano vai ainda mais a fundo e questiona a qualidade dos novos formatos. Segundo ele “com o Mp3 qualquer um escuta qualquer música. Mas a música virou qualquer coisa”.
Como vemos não somente o mercado da música, mas em qualquer mercado a tecnologia caminha para a perda da qualidade, mas, acessível a todos os bolsos. E há muitos profissionais preocupados com esta perda da qualidade, para outros este não é o problema, e sim na forma com que as pessoas utilizam estes aparelhos, na maneira de difundir e consumir desmedidamente o que coloca dentro dele.
E assim, com um Mp3 à tiracolo, a população trabalha para a consolidação de uma geração de surdos, que se escutarem seus aparelhinhos no volume máximo, causam um estrago irreversível à audição. Na França, o órgão de proteção ao consumidor, obrigou os fabricantes a limitarem o volume dos aparelhos para 100 decibéis. “Cada vez que alguém escuta uma música acima dos limites aceitáveis, perde um fio de cabelo da audição. Em longo prazo teremos muitos carecas” afirma Luis Tonaghi, proprietário de um estúdio no Rio de Janeiro.
Que falta faz ir para a casa de um amigo, ligar o toca-discos e vibrar com mais uma descoberta musical. Mas neste tempo os acessos às boas produções vinham por caminhos difíceis, hoje a república das escolhas está aberta, você pode ouvir o que quiser e onde quiser! Os Mp3 são os controle remotos da televisão auditiva!
Thaís Aguiar, Zurique - Suíça

3 comentários:

Anônimo disse...

Texto bastante interessante, que me fez ir em busca de mais infos sobre o tema! Se está na Suíça, leia uma matéria no "das Magazin" de hoje do Tages-Anzeiger, sobre uma nova mídia, vale?

Samuel Birmele

Anônimo disse...

Noutro dia, indo de trem de Baden a Zurique, um garoto me chamou a atenção. Ele provavelmente "viajava" nas músicas do seu Iphone e nem se deu conta de que, ao seu lado, um molequinho tinha prendido o dedinho no banco. Assisti a toda a movimentação em torno do moleque e à passividade do garotão. Não tenho nada contra curtir musiquinha, muito menos contra a tecnologia avançando, muito pelo contrário ... mas fico me perguntando: de quanto tempo livre precisa uma pessoa para ouvir as 3000 músicas arquivadas no se Ipod/or what else ? Bem, acho que muito mais tempo livre do que terá na vida ... e certamente menos do que o minutinho que seria gasto para ajudar o molequinho do banco ao lado ...
bj
Miriam

Noemi disse...

O lado bom, o lado ruim. Tudo tem. Antes, aquela dificuldade. Tudo muito caro. Para comprar um LP a gente tinha que fazer economia, pensar bem, abrir mão de outras coisas. Ou, simplesmente,não tinha e pronto...
Agora, vivemos sob a égide do TER. Ficou fácil, ficou fácil demais, compulsório e compulsivo.
Mas, por-outro-lado, se eu quiser ouvir qualquer coisa, boa ou ruim, apenas "vou lá" e clico.
O batalhão de surdinhos, ceguinhos e mudinhos aumentou? Aumentou e muuuuito.
Mas viva o iluminado pelotão dos que enxergam, ouvem e dizem!!!

É o fermento na massa, minha gente
abração da Noemi