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terça-feira, 15 de abril de 2008

Protuberância das bandas que compõe a bunda


Os gajos¹ portugueses são giros².

Hoje sou uma rapariga³ que só pensa em sexo. Confesso passar a maior parte dos meus dias pensando em sexo. Nem sempre foi assim. Quando praticava sexo não era necessário pensar tanto. Agora não pratico nada, nem chocolate como pra conter a ansiedade. O chocolate de Portugal não conquistou o meu gosto e nem tenho um gosto assim tão exigente, mas os sorvetes são bons. Claro que pelo fato de não praticar sexo e continuar chupando sorvetes só aumentam as calorias, que se transformarão em inimigas gorduras localizadas, mas não vamos falar disso.
Pronto, aqui está o maior ponto que me causa sofreguidão, a saudade dos homens do meu país. No Brasil, conseguia ter meus romances, poucos, sem me preocupar em ser “a melhor” ou a “verdadeira mulher brasileira” na cama, no carro ou em outro lugar qualquer.

Os homens portugueses ainda “valorizam” a beleza da mulher brasileira. Nós brasileiras ainda fazemos parte do imaginário sexual dos gajos espalhados na Europa, foi o que me disseram os ansiosos que provei, opa! Quero dizer, foi o que me disseram aos que perguntei.

Agora, deixando a minha constante insatisfação amorosa de lado, farei uma pequena reflexão sobre tal idéia de brasileira como sinônimo de realização da fantasia sexual dos gringos. Será que esse estigma existe mesmo? O futebol e o samba brasileiro são internacionalmente reconhecidos, respeitados e copiados, e nós mulheres brasileiras, somos internacionalmente reconhecidas, respeitas e copiadas?

Não tenho uma protuberância das bandas que compõe a minha bunda, também não tenho a cor na pele do sol do verão de um país tropical. E os olhos? Que cor tem os olhos de uma mulher brasileira? Como deveria ser uma mulher pra ser tipicamente brasileira? Existe o tipicamente brasileira? Metaforicamente estas questões me colocam em posição extremamente “sem pátria”, sem identidade. Onde está minha identidade? Na cor dos olhos, da pele, do tamanho da bunda e do sotaque? O que é identidade?
Quando falo um simples “oi” num café português, já percebem pela melodia da palavra que sou brasileira, neste momento recebo uma identidade, sou brasileira. Então pergunto: - Conhece o Brasil? Eis que me responde com prontidão: - Conheço, pelas vossas novelas, são giras! Imediatamente me vem a imagem da Susana Viera, com seu cabelo esticado escorrido e pintado de louro, e com a pele totalmente bronzeada artificialmente. Claro, só pode ser bronzeamento artificial (10 sessões R$ 90,00 em toda esquina brasileira). Ela lindamente, nossa representante no estrangeiro, ou seja, o padrão modifica nas novelas. Por isso pintei meu cabelo de louro também, senão como seria reconhecida como brasileira em Portugal com meus cabelos avermelhados (sim, sou ruiva natural)? Quando estive no próprio Rio de Janeiro (onde são gravadas a maioria das novelas), antes de embarcar pra Portugal, fui passear na praia e um menino vendedor me abordou em inglês, então perguntei em português, por que ele me abordou em inglês e ele me disse que eu não parecia brasileira. Assim já tenho outra identidade qualquer. Pintar o cabelo de louro já não funciona.

Resumidamente: nós brasileiras podemos ser confundidas naturais de outro país. Melhor que seja assim e então poderemos usufruir um sexo sem grandes expectativas e cobranças dos gringos. Mas afinal, por quê a mulher brasileira tem que ser “quente”, “gostosa” e saber sambar? Hum, acabo de me lembrar do menor tapa sexo do mundo usado pela modelo (brasileira) Viviane Castro, no carnaval de São Paulo. Será que ela tem algo a ver indiretamente com nossa imagem no exterior?
Identidade serve para te identificar, te prender e te libertar, pois somente sua cara, sua cor, seu corpo não são capazes de te definir a raça, quando, na verdade, a raça humana é raça humana. Não precisa identificar e sim aprender a respeitar.

Obs: Este texto é reflexo de um sexo mal feito com gringo, fico estressada (risos).


1 – Gajo em português de Portugal significa o mesmo que rapaz, homem ou “cara”.

2 – Giro em português de Portugal significa o mesmo que bonito ou lindo.

3 – Rapariga em português de Portugal significa o mesmo que moça, menina ou mulher, não tem caráter perjorativo como na linguagem brasileira.


Marcelina - Lisboa, Portugal

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