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sábado, 5 de março de 2011

Carcaça de Mulher

Sentada no bonde, observo pela janela cinco mulheres, desconhecidas, lado a lado. Feições parecidas. Cinco mulheres diferentes e uma só expressão. Indescritível. Me vi refletida como num espelho, no estereótipo do "humano", dentro da carcaça de mulher. Será que é assim? Todos pensam na consciência de ser partícula e ser igual? Igual no trivial, no cotidiano, na rotina, nas buscas. Pitoresco. Este no sentido original, pois não há ser humano igual. Mentira! Todos semelhantes somos! No pensar, no agir. Quem nunca pensou na morte. A sua e a dos seus. Quem nunca fugiu ou encarou o pensar na vida. A sua e a dos seus.
Se ver refletida na história alheia, desejar ser o terceiro, cobiçar a vida ao lado. Sem qualquer referência ao material. Digo a cobiça à vivacidade e à melancolia. Já desejei muito mais melancolia, já tentei fugir da alegria e do sorriso de bom dia. Já me orgulhei de ser anônimo e assim me enterrar num livro que traz a história de um terceiro. E no desejo da melancolia, a música é sempre a melhor companheira. Só não jogo os CDs de samba escada abaixo pois posso precisar deles na necessidade do sorriso insosso de bom dia. Então eles permanecem lá, na prateleira, lado a lado - como as cinco mulheres - junto da coleção da Lhasa, Nick Drake e This Mortal Coil!


Thaís Aguiar- Zurique, Suíça

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