A Revista Íntegra, após cinco anos de publicações, chega ao fim.
Convidamos você a conferir esta última edição. Saiba mais...

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

a really good year... Cris

Entramos numa nova década, dez anos do segundo milênio já se foram, tempo que passa rápido, a vida que nos escorre pelos dedos. Início de ano é sempre época de novos planos, resoluções, promessas, metas, sonhos. Para começar o ano na Integra tinha em mente postar um texto sobre resoluções e promessas simples, a simplicidade que pode fazer a nossa vida bem melhor. Mas sabe-se lá, o que é simples pra um pode ser muito complicado pra outro, aprendi com a vida que um dos conceitos centrais do trabalho de Einstein, a relatividade, se estende muito além do tempo. Quase tudo na vida depende de um referencial.

Eu defini três metas que quero alcançar em 2011, coisas difíceis, desafios para me manter motivada, que deveria ter feito a muito tempo, aquelas tarefas que a gente sabe que são importantes, vão nos fazer melhor, mas que a gente empurra com a barriga, procrastina, porque são difíceis, exigem esforço, tempo e dedicação, e não são necessariamente cruciais para o nosso dia a dia.

Além destas três metas sérias, mantenho, como todos os anos, uma promessa silenciosa comigo mesma, de que sempre acharei um tempo pra mim, que nunca será esquecido na correria do dia a dia, perdido entre os compromissos e obrigações da vida profissional e pessoal. Tempo para ler, ver filmes, ouvir boa música, fazer atividade física, para dividir com as pessoas que gosto ou ter só pra mim.

Visitando o site da revista Bravo estes dias encontrei uma seleção das melhores obras lançadas entre 2001 e 2010 nas áreas de literatura, cinema, música, teatro, música erudita, dança, artes plásticas, feita para a revista por críticos, professores e jornalistas especializados em cada área. Veja a lista completa no site da Bravo. Tão difícil achar um livro ou um filme realmente bom hoje em dia, não por causa da falta de opção mas por causa do excesso, listas como esta servem como a linha de Ariadne neste labirinto de possibilidades infinitas. Repasso aqui na Integra a lista dos livros indicados, dez de autores brasileiros, dez de autores estrangeiros. E se ao fim de 2011 eu tiver tido algumas horas sossegadas de prazerosa leitura com alguns dos livros desta lista, sei que este terá sido a really good year...

Feliz 2011 para todos os leitores da Integra! E que em 2011 você leia um livro, veja um filme, descubra uma música ou obra que torne este ano especial pra você.

Cristina Pereira - Winterthur, Suiça


Literatura

Dez livros fundamentais de autores brasileiros

1 - O Filho Eterno, de Cristóvão Tezza (Record, 2007).
O escritor catarinense estreou na literatura com Trapo em 1988. Depois de inúmeros livros, atingiu a maturidade nesse romance de 2007, baseado em sua própria experiência. A obra conta a história de um pai cujo filho nasce com síndrome de Down. Extremamente corajoso, o autor esmiuça o aprendizado de amar uma criança diferente, sem ocultar o ressentimento e o ódio, que inundam o protagonista ao longo da penosa jornada.

2 - Em Alguma Parte Alguma..., de Ferreira Gullar (Record, 2010).
Aos 80 anos, e após uma década sem publicar poesia, o autor maranhense reinventa-se em um momento da vida no qual muitos se acomodam ou se repetem. Teimoso e conservador como crítico de artes plásticas, Gullar segue caminho oposto na seara poética: vibra cada corda de seus versos com a lucidez da velhice e o frescor de um jovem. Escrevendo tanto sobre as coisas prosaicas, como uma bananeira, quanto sobre a iminência da morte, desnuda a imensa fragilidade da condição humana, mas não sucumbe à autopiedade.

3 - Budapeste, de Chico Buarque (Companhia das Letras, 2003).
Terceiro livro da fase madura do compositor e escritor carioca, Budapeste é um labirinto linguístico, um jogo de espelhos que, no entanto, jamais se mostra hermético. O romance também flerta com o nonsense ao contar as desventuras de um ghostwriter que vai para a Hungria. O narrador-protagonista, escorregadio, em nenhum momento permite aos leitor concluir se está ou não dizendo a verdade. Às peripécias do personagem, associa-se um olhar mordaz sobre a dinâmica social que cria celebridades instantâneas e vazias.

4 - Cinzas do Norte, de Milton Hatoum (Companhia das Letras, 2005).
Em seu terceiro romance, o autor de Manaus, descendente de uma família árabe, narra a trajetória de dois meninos nascidos na Amazônia durante a década de 1950. Costurando memória e ficção, acaba por traçar o retrato moral de sua geração. Uma das qualidades do livro é espelhar o conflito de um dos protagonistas com o pai tirânico no autoritarismo do regime militar brasileiro a partir de 1964.

5 - Nove Noites, de Bernardo Carvalho (Companhia das Letras, 2002).
O sexto livro do escritor conta a história real do antropólogo norte-americano Buell Quain, que se matou em 1939, poucos dias depois de deixar uma aldeia indígena no Xingu (MT), onde Carvalho passou parte de sua infância. Cheio de pontos falsos, mais que de apoios, a obra assinala um momento de desvio no percurso do autor, sempre imaginativo e distante de sua própria biografia.

6 - O Pão do Corvo, de Nuno Ramos (Editora 34, 2001).
Nas 17 narrativas curtas do livro, o artista plástico paulistano demonstra habilidade incomum para fundir a linguagem literária à ensaística.

7 - Meio Intelectual, Meio de Esquerda, de Antonio Prata (Editora 34, 2010).
Transcrevendo a oralidade urbana de hoje, o jovem autor paulistano atualiza um dos gêneros mais fortes que a literatura brasileira produziu: a crônica.

8 - Esquimó, de Fabrício Corsaletti (Companhia das Letras, 2010).
Aos 31 anos, paulista de Santo Anastácio, Corsaletti dedica-se a uma poesia coloquial e lírica que lembra Manuel Bandeira e alguns momentos de Carlos Drummond de Andrade.

9 - Pornopopéia, de Reinaldo Moraes (Objetiva, 2009).
Depois de anos sem se aventurar pelo romance, Moraes retorna ao gênero como um escritor experimental que mistura a mais pura galhofa à saga marginal de um ex-cineasta.

10 - Crônicas Inéditas, de Manuel Bandeira (Cosac Naify, 2008).
Um dos maiores poetas brasileiros, Bandeira finalmente tem todas as suas crônicas reunidas em livro. Nelas, mostra-se um estilista tão arguto e fino como em sua melhor poesia.

Consultores: Almir de Freitas, ex-editor de livros e teatro de BRAVO! e atual editor-sênior da LOLA Magazine, publicada pela Editora Abril; Paulo Roberto Pires, crítico, colaborador de Bravo! e editor da revista Serrote, publicada pelo Instituto Moreira Salles; Paulo Werneck, editor do caderno Ilustríssima, da Folha de S.Paulo


Dez livros fundamentais de autores estrangeiros

1 - Austerlitz, de W. G. Sebald (Companhia das Letras, 2008).
Essa obra-prima do autor alemão foi publicada originalmente em outubro de 2001, dois meses antes de ele morrer. Misturando ficção, memorialismo e ensaio, Sebald renovou o tema do Holocausto, tão caro a seus compatriotas. Austerlitz incomoda menos pelo assunto de que trata e mais pela maneira como o escritor junta os estilhaços do passado, sem deixar que a culpa frente à monstruosidade dos campos de extermínio contamine a narrativa.

2 - 2666, de Roberto Bolaño (Companhia das Letras, 2010).
Não é tarefa fácil para o leitor vencer as mais de mil páginas do romance póstumo de Bolaño (1953-2003). Dividido em quatro histórias, que têm como cenário países europeus e o México, o romance do autor chileno oferece uma das mais significativas reflexões sobre o modo fragmentado e anticartesiano pelo qual o homem contemporâneo percebe o mundo. Pode ser lido também como uma denúncia das atrocidades cometidas pelos cartéis mexicanos do narcotráfico.

3 - De Verdade, de Sándor Márai (Companhia das Letras, 2008).
O escritor húngaro, que morreu há duas décadas, desfrutou de grande popularidade em seu país no entreguerras. Nesse livro magnífico, relata a separação de um casal sob o prisma de quatro narradores. Ao mesmo tempo, revela os conflitos íntimos e sociais vividos pelos burgueses da época e sugere, nas entrelinhas, que o sonho da unificação europeia nunca se concretizará realmente.

4 - Neve, de Orhan Pamuk (Companhia das Letras, 2006).
Prêmio Nobel de 2006, o turco Pamuk tornou-se mundialmente conhecido com essa obra, cujo protagonista é o poeta e jornalista Ka. O personagem retorna à Turquia após um exílio político na Alemanha e vai cobrir as eleições em uma cidadezinha do interior. Escrito como um romance policial sombrio, repleto de humor negro, Neve espelha o abismo cultural que separa o Oriente do Ocidente e o choque entre estados teocráticos e laicos.

5 - A Marca Humana, de Philip Roth (Companhia das Letras, 2002).
O professor negro Silk cai em desgraça depois de sofrer uma falsa acusação na faculdade onde trabalha e se exila em casa. Com um enredo simples, o escritor norte-americano Philip Roth, de 77 anos, recobra o vigor ao colocar o dedo em umas das feridas mais dolorosas da história dos Estados Unidos: o racismo.

6 - Reparação, de Ian McEwan (Companhia das Letras, 2002).
Ao relatar uma tragédia familiar, o romance do escritor inglês aponta a arte como um caminho para "embelezar" o mundo e compensar os estragos causados pela violência de nosso desejo.

7 - Liquidação, de Imre Kertész (Companhia das Letras, 2005).
O suicídio do dramaturgo B. serve de mote para o romancista húngaro refletir de forma brilhante sobre o confronto do indivíduo com o poder da história.

8 - Doutor Passavento, Henrique Vila-Matas (Cosac Naify, 2010).
O que resta ao escritor contemporâneo? Desaparecer, responde o espanhol Vila-Matas. Nesse livro engenhoso, ele persegue as pistas de um romancista que não queria ser publicado, numa clara crítica à sociedade do espetáculo.

9 - O Iceberg Imaginário e Outros Poemas, de Elizabeth Bishop (Companhia das Letras, 2001).
Nessa antologia, com inéditos, da importante poeta norte-americana, morta em 1979, tem-se a chance de conhecer suas impressões sobre o Brasil, onde ela morou por quase 15 anos.

10 - Plataforma, de Michel Houellebecq (Record, 2002).
Girando em torno do turismo sexual, o romance demole os últimos vestígios do iluminismo ao defender a tese de que a Europa perdeu seu poder civilizatório. Para o escritor francês, o continente tornou-se tão desprezível que não merece nem mesmo existir.

Consultores: Almir de Freitas; Paulo Roberto Pires; Paulo Werneck

Nenhum comentário: